quinta-feira, 24 de julho de 2008

JUSTIÇA E INTERESSES SUPERIORES

Com tanto que acontece diariamente no país e no estrangeiro merecerá a pena comentar a detenção e a promessa de entrega ao Tribunal Penal Internacional[1] do ex-líder sérvio Radovan Karadzic?

Talvez!

Ainda mais se este julgamento não se converter em mais uma manobra de desinformação sobre o cerne de tudo o que motivou a implosão da antiga Jugoslávia; se não se limitar a apresentar uma versão maniqueísta dos acontecimentos (os bons – croatas – contra os maus – sérvios); se dele resultar um efectivo esclarecimento do muito de bárbaro que sérvios e croatas cometeram[2].

Infelizmente esperar tudo isto é quase puro lirismo, tanto mais que o tribunal que vai julgar Karadzic é o mesmo no qual os EUA não aceitam ver julgado o envolvimento de cidadãos americanos em cenários de guerra.

O Tribunal Penal Internacional poderia ter um importante papel no esclarecimento de muitas das atrocidades cometidas em nome dos mais variados ideais e princípios, mas infelizmente a realidade fundamenta as mais fundadas dúvidas. Agora, resta-nos acompanhar mais esta iniciativa e ver como decorrerá... sem nunca esquecer que tudo indica que a captura e entrega para julgamento de Karadzic, por parte das autoridades sérvias poderá não ser mais que uma manobra política para facilitar o processo de adesão à União Europeia[3].
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[1] O Tribunal Penal Internacional (TPI) é o primeiro tribunal penal internacional permanente e foi fundado em 2002, com sede na cidade holandesa de Haia, com o objectivo expresso de julgar os indivíduos e não os Estados, em matérias de crimes de guerra, genocídios e crimes contra a humanidade. Embora perto de uma centena de estados já tenham ratificado o estatuto de países-membros, países como os EUA, China, Israel, Índia, Turquia, Filipinas e Sril Lanka ainda não o fizeram.
[2] Importa aqui não esquecer que não foram apenas os sérvios que tentaram uma limpeza étnica na Bósnia-Herzegovina, mas também a limpeza que os croatas realizaram na Krajina e que parece permanecerá sem parangonas nem culpados.
[3] Recorde-se, a propósito, que em 2001 a Sérvia terá entregue o seu ex-presidente Slobodan Milosevic ao Tribunal Penal Internacional a troco da libertação de verbas atribuídas pela administração de George W Bush para a reconstrução do país e que já começam a surgir notícias (como esta do DIÁRIO DE NOTÍCIAS) que dão conta do envolvimento dos serviços secretos sérvios na protecção a Karadzic.

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