quinta-feira, 22 de maio de 2008

REFUGIADOS E XENOFOBIA

A crueza das imagens que estão a chegar da África do Sul, mais que uma evidência da crueldade humana (ou até da actuação do crime organizado, como pretendem alguns observadores[1]), deve ser entendida como uma possível e breve antevisão de novas tendências xenófobas, geradas pelas políticas económicas orientadas para a maximização da remuneração do capital.

Por mais que nos digam que é a conjugação das pressões originadas pela migração dos mais empobrecidos cidadãos dos vizinhos Zimbabwe e Moçambique e do crescente desemprego que se vive na África do Sul, que originou a realidade agora experimentada neste país e que as autoridades de Pretoria apelem à calma, recordem um passado recente de entendimento social e racial (situação bem expressa neste cartoon publicado no jornal sul-africano The Times)

e defendam princípios de solidariedade com as populações vizinhas, a dura realidade remete para uma situação bem diversa.

O discurso oficial poderá estar correcto e reflectir mesmo o real pensamento dos seus autores, mas a realidade económica no país poderá começar a não o suportar quando é conhecido o facto da moeda nacional (o rand) ter desvalorizado, desde Janeiro, mais de 12% contra o dólar norte-americano, de se registar um crescimento da inflação e da indústria mineira se apresentar em situação de recessão devido à carência de energia eléctrica. Com uma taxa de desemprego acima dos 30% nem as importantes reservas minerais (a África do Sul é um dos principais exportadores de ouro e platina) se revelam suficientes para oferecer perspectivas de melhorias no nível de vida das populações e em especial das franjas mais desfavorecidas- precisamente as que se mobilizaram contra a concorrência que os 3 a 5 milhões de imigrantes lhes fazem no mercado de trabalho.

Analisada nesta perspectiva, esta reacção primária, tanto mais injustificada quanto violenta, ganha novos contornos e deve mesmo merecer a atenção de um alerta.

Não há muito tempo os meios de comunicação europeus noticiavam as vagas de imigrantes africanos que procuravam aceder por qualquer meio a este continente e faziam-se eco das políticas que a UE se propunha implementar para combater o flagelo. De concreto resultou o endurecimento das práticas policiais dos países fronteiriços da UE que com a colaboração das autoridades marroquinas lograram instalar campos de refugiados naquele país reduzindo o número de tentativas de atravessamento do estreito de Gibraltar e minimizando os efeitos noticiosos.

Aplacadas as consciências europeias, nem por isso os africanos retidos em território marroquino passaram a dispor de melhores condições de vida nem o número de candidatos a imigrantes se reduziu, nem as prometidas iniciativas de desenvolvimento nos seus países de origem de verificaram.

As notícias do recrudescimento do xenofobismo e das revoltas populares contra o aumento generalizado dos bens essenciais (fenómeno particularmente agudo em países com rendimentos muito baixos), que vão estalando um pouco por todo o lado, são outros tantos sinais da mesma realidade: a crescente desumanização das condições de vida das populações, cada vez menos resultante de fenómenos ou catástrofes naturais, antes sim fruto da actuação concertada dos interesses económicos instalados.
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[1] Ver por exemplo esta notícia da BBC ou esta outra que não desperdiça o ensejo de associar a apaziguadora política sul-africana em relação ao regime de Mugabe.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu acho que a xenofobia alem de ser uma doença causada pelo medo de refugiados,devia ser evitada para com que seu governo( País)
ussufruisse de melhores comdições de vida