domingo, 27 de janeiro de 2008

A FUGA DE GAZA

Enquanto os participantes na cimeira de Davos ainda se interrogam sobre o que está a acontecer à economia global com que tanto têm ganho ou como foi possível chegar a esta situação de forma aparentemente (a avaliar pelas análises e previsões recentes dos seus especialistas) tão rápida, noutros pontos do mundo a via continua a apresentar-se dura ou, como sucede na Faixa de Gaza, apresenta-se cada vez pior.

Depois do périplo que George W Bush efectuou em meados deste mês pela região pouco ou nada mudou, senão para pior, o que justifica perfeitamente a dúvida sobre o que terá levado o presidente da super potência hegemónica a deslocar-se à mais sensível das regiões do globo agora, e apenas agora, que recta final para abandonar a Casa Branca?

Apesar de apresentada pelo staff da sua administração como um importante passo para o aprofundamento da Conferência de Annapolis[1] e das aparentes críticas tecidas ao governo israelita (durante uma intervenção em Jerusalém George W Bush apelou ao fim da ocupação israelita iniciada em 1967), a sua passagem pela região não passou de uma mascarada de que o episódio narrado pelo editor da BBC para o Médio Oriente é um perfeito exemplo: «Na terça-feira de manhã o presidente Bush foi de automóvel de Jerusalém para Ramallah, cerca de 16 km para norte, porque o mau tempo impediu a deslocação prevista de helicóptero. A sua caravana deslizou pelos postos de controlo israelita, enquanto os palestinianos não têm a mesma sorte – longa horas de espera nesses locais é uma parte significativa da sua vida habitual.

O regime de segurança israelita assenta numa rede de muros, gradeamentos, barreiras e autorizações, que não constituem apenas uma questão de incómodo para os palestinianos, pois de acordo com o Banco Mundial aquele é o principal factor impeditivo do crescimento da economia palestiniana, factor que o presidente Bush e muita gente considera vital para o estabelecimento da paz na região. «…» Após a partida de George W Bush de Ramallah, o exército israelita repôs as barreiras que habitualmente obstruem a estrada utilizada»[2]

Caso ainda sejam necessários mais argumentos para desmascarar a farsa em que se está a transformar mais esta etapa para a pacificação da região, basta observar o que actualmente se passa na Faixa de Gaza. O bloqueio recentemente intensificado pelo Tsahal[3] – alegadamente como forma de retaliação contra o lançamento de rockets Qassam sobre o seu território – revela-se, na prática, longe de contribuir para o pretendido isolamento do Hamas enquanto agrava as já muito degradas condições de vida do milhão e meio de habitantes que perante as constantes agressões israelitas tende mais a cerrar fileiras em defesa daquele grupo radical que a aumentar o volume das suas críticas.

Esta duplicidade da política israelita, seja ela explícita ou sub-reptícia, tem sido uma constante na delicada situação palestiniana e uma prática assumida pelos sucessivos governos, desde os primórdios da instalação dos primeiros colonatos judaicos. Usando e abusando de um discurso agressivo e expansionista para consumo interno e de outro onde sempre se apresenta na qualidade de vítima para consumo externo, os governos israelitas nunca deixaram de prosseguir uma política que lhes assegurasse o domínio e supremacia sobre as populações palestinianas e se agora parece abraçar fervorosamente o conceito dois povos – dois estados é apenas por exclusivo interesse próprio e por necessidade de sobrevivência[4].

É evidente que a invocação israelita do direito à segurança da sua população é um forte argumento perante a comunidade internacional em geral e a ocidental em particular, até porque os judeus continuam a capitalizar os efeitos da perseguição de que foram alvo pelo regime nazi, mas não é menos verdade que este mesmo efeito começa já a apresentar evidentes sinais de deterioração e em muitas situações é já manifesto o cansaço perante o uso e abuso do mesmo argumento, em especial quando são agora os governantes israelitas que recorrem a práticas idênticas. São claro exemplo destas as crescentes privações a que sujeitam o povo palestiniano (expressas na limitação do acesso às fontes de água potável, aos seus tradicionais campos agrícolas, numa palavra a um mínimo de dignidade) até provocarem uma reacção dos grupos mais radicais, para em seguida invocarem essa mesma reacção para novas e maiores restrições de direitos e liberdades palestinianas.

Manter os palestinianos confinados a pequenas zonas desligadas entre si e do mundo em geral e obrigá-los a enfrentar uma perspectiva de total ausência de futuro é também uma forma de genocídio. Uma forma profundamente maquiavélica mas perfeitamente ajustada à capacidade de manipulação que os responsáveis israelitas têm revelado e que é bem capaz de estar na origem dos últimos acontecimentos na Faixa de Gaza; quando na sequência do bloqueio que originou a interrupção no fornecimento de energia e uma generalizada escassez de bens alimentares e de medicamentos naquele território apareceu derrubada parte do muro que a separa do Egipto, milhares de palestinianos apressaram-se a atravessar a fronteira na ânsia de encontrarem os bens de que necessitam para a sua vida diária e na de escaparem às privações a que têm sido sujeitos. Ora esta pode bem ser uma excelente oportunidade para o governo de Telavive se ver livre de mais alguns milhares de incómodos palestinianos, facto que justificará até a total inércia dos exércitos israelitas e egípcios para estancarem o êxodo e reporem a “segurança” da fronteira.


Embora se desconheçam números oficiais é bem possível que o número de “fugitivos” já ande perto dos 500 mil, o que não só aumenta a consistência da hipótese de planeamento como torna mais compreensíveis alguns rumores que referem a existência de jazidas de gás natural na Faixa de Gaza.
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[1] Cimeira realizada em finais de Novembro de 2007, na base naval norte americana de Annapolis, que sob a égide dos EUA reuniu israelitas, palestinianos e representantes de vários estados árabes da região para relançar o processo de paz e apoiar a solução de divisão do território entre os dois povos.
[2] Ver o artigo completo aqui.
[3] Acrónimo que designa o exército judaico, também conhecido por IDF (Israel Defense Forces).
[4] Recorde-se a este respeito a referência que fiz neste post a declarações de Ehud Olmert chamando a atenção aos israelitas para a necessidade de apoiarem a solução dois povos – dois estados sob pena de a prazo o fracasso desta estratégia acarretar o fim do estado israelita, porque a aplicação do principio democrático de um cidadão um voto originará um dia um estado governado por uma maioria palestiniana.

1 comentário:

Anónimo disse...

faz uma serie de afirmações sem fundamento.
Sugere que Israel faz um genocidio de um povo.
É estranho.
De facto a população palestina é uma das que mais cresce, no mundo.
Os palestinos são uma das populações com uma maior taxa de crescimento mas vc afirma que eles estão a ser exterminados.
Já alguma vez viu uma população sujeita a Genocidios cujos membros sejam mais e mais a cada dia que passa

É ridiculo afirmar-se que Israel pratica genocidio.

Genocidio é exterminio de um povo e desde que israel controla Gaza, a Margem Ocidental os palestinos multiplicaram-se , não foram exterminados.


Tambem sugere que Israel teria plano diabólico para expulsar os palestinos de Gaza.

Cito

quando na sequência do bloqueio que originou a interrupção no fornecimento de energia e uma generalizada escassez de bens alimentares e de medicamentos naquele território apareceu derrubada parte do muro que a separa do Egipto, milhares de palestinianos apressaram-se a atravessar a fronteira

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esta pode bem ser uma excelente oportunidade para o governo de Telavive se ver livre de mais alguns milhares de incómodos palestinianos..

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é bem possível que o número de “fugitivos” já ande perto dos 500 mil, o que não só aumenta a consistência da hipótese de planeamento como torna mais compreensíveis alguns rumores que referem a existência de jazidas de gás natural na Faixa de Gaza.

fim citação

Esta é a chamada teoria da conspiração.
Esta cai pela base devido ao facto desses meio milhão não ser gente que saiu de Gaza , é gente que atravessou a fronteira mas depois regressou.

Acha que os egipcios iriam receber meio milhão de palestinos e colaborar com o plano sionista de esvaziar Gaza
?

Se acha é porque não acompanha as noticias.
O Egipto rapidamente construiu uma rede de segurança em volta da Zona para não deixar as gentes sair da zona limitrofe da fronteira.

Pensar que o Egipto iria deixar-se submerso por meio milhão de palestinos, é inenarrável.

Ainda hoje os arabes batem o pé por causa dos refugiados de 1948.
Acha que o Egipto iria aceitar mais meio milhão de palestinos em 2008 ?

Enfim , uma tristeza.

No fundo está em causa o antisemitismo.

O judeu é o mau da fita.
É o que faz judiarias.
E assim nasceu hitler o homem que quiz acabar com o problema judaico mas não conseguiu.

O antisemitismo jubjacente está em atribuir aos israelitas , judeus, planos
fantasticos e diabolicos.

Veja aí um numero do Der Sturmer o Jornal de Hitler.

Revelado Plano criminoso judaico contra humanidade.

http://www.stormfront.org/truth_at_last/images/dersturmer.gif

Substitua judaico por Israelita , humanidade por palestino..,e terá.

Revelado plano Criminoso Israelita Contra Palestinos.

Hà coisas que NUNCA mudam.

O antisemitismo , odio ao Judeu, Israelita, parece ser uma delas.