sexta-feira, 7 de setembro de 2007

BRAÇO DE FERRO

Notícias recentes dão conta das acusações proferidas pelas autoridades americana e alemã contra alegadas intromissões chinesas nos sistemas informáticos do Pentágono e da chancelaria alemã.

A pirataria e a espionagem informática é uma prática tão antiga quanto aquela, um problema bem conhecido da generalidade dos cibernautas (quem pode hoje afirmar que nunca viu uma das suas máquinas “infectada”) e um facto há muito assumido pelos aparelhos militares dos EUA e da China; o que parece ter tornado mais relevante o caso agora relatado é que desta feita o Pentágono terá tido que encerrar os seus sistemas por forma a garantir uma minimização dos prejuízos e, pior, porque, segundo noticia o LE MONDE, a qualidade do ataque demonstrou a capacidade chinesa para lançar ataques susceptíveis de neutralizar o sistema do Pentágono, algo que em cenário de conflito seria altamente prejudicial.

Para se ter uma ideia de quão grave pode ser esta eventualidade refira-se que o FINANTIAL TIMES noticiou que o sistema informático do Pentágono esteve encerrado mais de uma semana após o ataque.

Aparte o curioso da notícia – a maior potência mundial revela as fragilidades do seu sistema informático militar – refira-se que enquanto estas datam do início desta semana o ataque terá sido efectuado em Junho, o que de pronto me sugere a hipótese destas notícias não constituírem mais que a “preparação” do próximo encontro entre George W Bush e Hu Jintao a ocorrer brevemente na Austrália ao abrigo da cimeira da APEC[1].

Embora não constitua novidade esta estratégia de negociação norte-americana e responsáveis chineses tenham de pronto desmentido o “ataque”, nada garante que este não tenha sido uma realidade e não deva ser encarado como mais uma frente de batalha a considerar em futuros cenários de conflito. Os próprios responsáveis do Pentágono que confirmaram a notícia já em tempos admitiram que a China disporia de tecnologia adequada à intercepção de mensagens de correio electrónico, pelo que impuseram aos seus quadros restrições ao uso da tecnologia BlackBerry[2] em países mais sensíveis.

Nesta guerra sino-americana de comunicados, hackers[3], informação e contra-informação, recorde-se que existe uma outra encapotada.

É que enquanto os sistemas de informação ocidentais assentam maioritariamente em plataformas cujos sistemas operativos são de domínio privado (com a multinacional norte-americana MICROSOFT à cabeça), o governo chinês há muito que decidiu basear os seus sistemas no LINUX que é um sistema operativo de fonte aberta, alegando que estes são mais seguros que aqueles cujas especificidades não são do domínio público.

Esta luta tem andado a par com outra que nos meios informáticos se tem travado entre utilizadores do WINDOWS da MICROSOFT e do LINUX. Realidade bem conhecida é que enquanto não têm parado de crescer o número de vírus e outros códigos perniciosos em ambiente WINDOWS, no LINUX o seu número e grau de perigosidade é francamente menor, talvez por neste não existirem grandes possibilidades de lucro com a produção e venda dos famosos antivírus.

Em resumo, talvez não seja exagerado antever um crescendo nesta polémica, tanto mais que, para desespero dos seus milhões de utilizadores, as sucessivas versões do sistema operativo que a MICROSOFT produz continuam a revelar uma gritante fragilidade, a par com o desenrolar da batalha entre americanos e chineses pelo controlo do espaço cibernético. Numa guerra que seguramente não conhecerá quartel quem acabará por vencer: o poder financeiro do Pentágono e da MICROSOFT ou engenho e a proverbial paciência chinesa?

O resultado poderá condicionar o futuro da MICROSOFT, mas deverá marcar ainda mais a estratégia belicista dos EUA, numa fase em que se volta a falar da reactivação do sistema russo de defesa antimíssil e em que o controle do espectro electromagnético é cada vez mais determinante.
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[1] A APEC (Asia-Pacific Economic Cooperation) é um bloco que engloba economias asiáticas, americanas e da Oceânia. A sua cosntituição deveu-se à crescente interdependência das economias da região da Ásia-Pacífico, remonta a 1989, foi criada apenas como um fórum de discussão entre países da ASEAN (Association of the SouthEast Asian Nations) e alguns parceiros económicos da região do Pacífico e converteu-se num bloco económico em 1993 quando os seus 21 membros (Austrália; Brunei; Canadá; Chile; China; Hong Kong; Indonésia; Japão; Coreia do Sul; Malásia; México; Nova Zelândia; Papua-Nova Guiné; Peru; Filipinas; Rússia; Singapura; Taiwan; Tailândia; Estados Unidos da América; Vietname) se comprometeram a transformar o Pacífico numa área de livre comércio e definiram como principal objectivo a redução de taxas e barreiras alfandegárias, promovendo assim o desenvolvimento da economia da região. (in Wikipédia)
[2] O BlackBerry é um aparelho de comunicação móvel, que possui funções de editor de textos, acesso à Internet e e-mail, foi o percursor de uma nova geração de telemóveis dotados de uma série de recursos sofisticados até então limitados aos PDA.
[3] O termo (em inglês no original) hackers designa os indivíduos que elaboram e modificam programas de computadores; correntemente designa programadores maliciosos e ciberpiratas que agem com o intuito de violar ilegal ou imoralmente sistemas informáticos.

1 comentário:

antonio ganhão disse...

Esperemos que a "atitude belicista" dos EUA não seja ditada pela Microsoft... felizmente temos os chineses para nos proteger.