quarta-feira, 11 de abril de 2007

O FUTURO DA GUERRA

Quando as recentes declarações dos líderes iranianos, com o presidente Ahmadinejad à cabeça, sobre as recém adquiridas capacidades nucleares iranianas, além de poder constituir um arriscada jogada de propaganda interna (como afirma o DN citando analistas russos que duvidam da existência de reais capacidades) estão a contribuir para o agravamento das tensões na região, como se a ocupação do Iraque, a persistência numa política autista sobre a questão palestiniana e o cerco político-militar que o ocidente está a erguer contra o Líbano não fossem já razões suficientes, veio-me à memória um artigo que há dias o «LE MONDE» deu à estampa sobre o “negócio dos exércitos privados”.

O “coktail” resultante do agravamento das tensões no Médio Oriente, da ganância pelos lucros resultantes do negócio dos hidrocarbonetos, da “cegueira” política dos responsáveis norte-americanos, dos “fanatismos” político-religiosos dos dirigentes israelitas e árabes e a sempre presente luta pela hegemonia entre os estados árabes da região, tudo o indica, poderá evoluir no sentido de a história vir a registar em breve mais uma invasão militar na região.

A assim acontecer, o já hoje muito lucrativo negócio dos exércitos privados vai conhecer um crescimento exponencial, tornando ainda mais perceptíveis as declarações de John Geddes, ex-militar do SAS e dono da Ronin Concepts, àquele jornal que vai a ponto de antecipar o futuro recurso aos serviços de empresas como a sua pela ONU. Na linha do que vemos acontecer na actualidade (o número de mercenários privados no Iraque é superior ao das tropas britânicas no país) e quando se avolumam as notícias sobre a celebração de avultados contratos entre o Pentágono e empresas de segurança privadas (só departamento de estado norte-americano terá um orçamento de mil milhões de dólares para a protecção próxima do seu pessoal e de alguns dignitários estrangeiros, nos próximos 5 anos), tudo parece ser possível.

Que se trata de um ramo de negócio altamente lucrativo e atractivo, demonstra-o o LE MONDE quando afirma que «[a]lguns empresários fizeram rapidamente fortuna: só a Blackwater recebeu do governo americano mais de 570 milhões de dólares nos últimos cinco anos. A sua concorrente Triple Canopy, fundada em 2003, figurava três anos depois na lista das 100 maiores empresas da região de Washington».

A provar que este conceito é já hoje amplamente aplicado no terreno basta recordar o muito noticiado incidente que ditou a morte de quatro “trabalhadores” americanos na cidade iraquiana de Fallujah em Abril de 2005. Embora as notícias da época nada referissem, os mortos eram operacionais da empresa de segurança americana Blackwater, encarregues da protecção a uma coluna de reabastecimento.

Outro exemplo de actuação pode também ser dado por esta mesma empresa que em Setembro de 2005, na sequência do furacão Katrina, resolveu por auto-iniciativa deslocar para New Orleans um corpo de segurança armado; esta actuação, longe de ser penalizada resultou num acréscimo do número de contratos com entidades públicas e privadas.

Este fenómeno, que originará um crescente afastamento entre a opinião pública e os conflitos bélicos, servirá particularmente os interesses daqueles que desde o segundo conflito mundial têm vivido (e lucrado) de uma economia de guerra, mas nunca os da generalidade das populações que serão cada vez menos informadas sobre a realidade dos conflitos, logo, mais facilmente manipuláveis para aceitarem os sacrifícios financeiros (e apenas estes, já que os de natureza social serão esbatidos pelo distanciamento resultante da profissionalização das forças militares envolvidas) a eles associados.

Por tudo isto, será esta uma solução transitória até que seja tecnicamente possível e economicamente viável a robotização dos exércitos? e, já agora, a quanto poderão ascender os lucros de uma indústria bélica que não registe qualquer escrutínio popular?

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