sexta-feira, 6 de abril de 2007

CORDEIRO PASCAL

Enquanto se aguarda pela próxima segunda-feira para conhecer o veredicto do ministro Mariano Gago sobre a continuidade da Universidade Independente, e nos últimos dias têm abundado as intervenções de figuras públicas recordando a necessidade de, qualquer que seja a solução, não prejudicar os alunos (actuais e antigos) daquela universidade, eis que ontem foi anunciado o nome de Jorge Roberto como novo reitor.

Depois de todas as “trapalhadas” que têm rodeado aquela universidade, com as prisões de reitores e outros responsáveis pela gestão, e do anúncio de nomes mais ou menos mediáticos para a respectiva substituição, eis que agora surge alguém praticamente desconhecido para ocupar o cargo.

Não fora o caso de conhecer a isenção intelectual de Jorge Roberto e talvez não estivesse a dedicar alguma atenção a este caso, embora este muito se afigure como emblemático do que tem sido o historial de boa parte das universidades privadas que nos finais do século passado começaram a surgir em Portugal.

Mesmo deixando por agora de lado a questão da qualidade do ensino que nelas é ministrado (a par com esta importante questão atente-se no romance paralelo que corre em torno da licenciatura do primeiro-ministro José Sócrates), ninguém com um mínimo de probidade poderá deixar de se interrogar (e interrogar os responsáveis) sobre os muitos (demasiados) casos que têm rodeado estas instituições.

Num rápido “flash” histórico aqui recordo que tudo começou no ano de 1979 com a fundação da Universidade Livre que, fruo de lutas internas pelo seu controlo perderia em 1986 o indispensável reconhecimento oficial. Das suas cinzas surgiriam nada mais nada menos que cinco outras universidades, sendo de destacar que o anterior reitor da Independente, Luiz Arouca, já tinha passado pela UAL donde foi afastado o que deu origem à Independente.

Mas não foram apenas estas duas que conheceram perturbações. Basta lembrar o “caso Moderna”, como ficou conhecido o “affaire” que em 1999 envolveu referências a tráfico de influências, grandes luxos e figuras públicas ligadas à instituição, como Paulo Portas, Santana Lopes e Rui Gomes da Silva. A ponta visível deste caso foi José Braga Gonçalves, filho do então reitor e secretário da universidade, que acabou condenado a uma pena de dez anos de prisão e mergulhou a universidade numa crise de que ainda não recuperou.

A Universidade Portucalense entrou em dificuldades financeiras nesse mesmo ano, resultantes do investimento de 25 milhões de euros na aquisição das suas instalações, encontrando-se actualmente sob gestão judicial. Melhor sorte parece estar a registar Lusófona, que ainda assim não se livrou de uma polémica luta de poder em 2002.

Assim, enquanto se aguarda o desenrolar da investigação dos alegados crimes de fraude fiscal e corrupção activa (pelos quais se encontram já detidos Rui Verde e Luiz Arouca) e a decisão do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior quanto à manutenção, ou não, da universidade em funcionamento e talvez no sentido de reforçar uma decisão favorável foi apresentado o novo reitor.

A imprensa, que o apresenta como personalidade de perfil discreto, já hoje trouxe a lume a sua situação de trabalhador da Caixa Geral de Depósitos (sob a direcção de Armando Vara, que por acaso terminou a sua licenciatura na Independente), facto que associado à envolvente do caso e à época festiva que atravessamos me leva a perguntar se não será apenas mais um “cordeiro para sacrificar”.

Em seu abono restam apenas dois factores: a isenção e integridade intelectual que comecei por referir e a afirmação da edição de hoje do DN de que o novo reitor «não tem qualquer cargo de direcção…» na CGD «…e é classificado como não sendo muito popular», o que leva a classificá-lo fora das habituais influências partidárias.

Sem comentários: