domingo, 17 de setembro de 2006

O SAQUE DAS REFERÊNCIAS CULTURAIS

Ninguém, com um mínimo de formação cívica e ética, discordará do princípio de que é fundamental a preservação das raízes históricas e culturais de qualquer povo para assegurar a sua continuidade e a preservação das suas características próprias.

Vem esta introdução a propósito de um tema que há muito gostava de aqui abordar e para o qual tenho vindo a recolher a informação possível – a pilhagem de obras de arte.

Sendo históricas as pilhagens de bens em períodos de guerra, são-no igualmente a destruição e o roubo de objectos de arte. Os meios de comunicação recordam-nos regularmente as práticas do regime nazi nos territórios ocupados durante a II Guerra Mundial e mais recentemente fizeram eco dos saques realizados em museus iraquianos, com particular destaque para o Museu Nacional do Iraque, logo após a entrada das tropas americanas em Bagdad. Além deste museu que continha a maior colecção conhecida de materiais pertencentes às antigas culturas do berço civilizacional mesopotâmico, foi ainda saqueada a Biblioteca Nacional do Iraque, donde desapareceram manuscritos e tabuinhas cuneiformes de valor incalculável, e a Escola de Estudos Islâmicos e o Ministério dos Assuntos Religiosos, onde existia uma colecção única de edições do Corão.

As primeiras notícias que davam conta do desaparecimento de mais de uma centena de milhar de peças arqueológicas foram sendo “suavizadas” ao longo do tempo, ficando sempre a dúvida sobre a realidade do prejuízo (incalculável quer do ponto de vista monetário, quer do cultural) e sobre a autoria material dos actos.

Entre mais antigas as peças desaparecidas (datadas de 2000 AC) encontram-se: uma harpa em ouro maciço; uma escultura de cabeça feminina de Ur, uma das principais cidades sumérias e uma colecção de jóias constituída por colares, pulseiras e brincos das dinastias sumérias.

Após numa primeira fase os actos de vandalismo terem sido atribuídos à própria população iraquiana parecem agora prevalecer duas teses:

  • a primeira delas atribui os roubos aos antigos membros do governo de Saddam Hussein, que nas horas que antecederam a queda do regime terão aproveitado para pilhar o que puderam;
  • a segunda defende que a pilhagem foi organizada por especialista no comércio internacional de objectos de arte que, como forma de disfarçar a sua actuação, organizaram as pilhagens e a destruição que se lhe seguiram.

De uma forma ou outra parece um dado assente que as galerias e os cofres do Museu Nacional do Iraque, bem como outros situados noutras cidades, viram os seus acervos e registos pilhados e destruídos e que o estado em que estes ficaram pode bem resultar quer da acção de ex-membros do governo de Saddam quer do inqualificável desleixo das forças de ocupação, que apesar de terem abandonado à sua sorte o espólio museológico de artefactos de civilizações com mais 4.000 anos de existência, por alegada falta de meios para assegurar a respectiva protecção, dispunham dos meios necessários para proteger os Ministérios do Petróleo e do Interior (seguramente por estes disporem, respectivamente, de informação estratégica sobre os poços petrolíferos existentes, a localização das reservas conhecidas e de informação de segurança interna), os únicos edifícios públicos que não foram alvo de qualquer acção de pilhagem.

Apesar dos esforços realizados por organizações como o MIDLE EAST FORUM para lançar a responsabilidade pelo saque sobre o regime de Saddam Hussein, recorrendo entre outros argumentos a uma táctica de desacreditação dos arqueólogos ocidentais que têm denunciado a situação, acusando-os de terem colaborado com aquele regime durante o período em que os EUA decretaram sanções comerciais e económicas ao governo iraquiano, estou em crer que a realidade andará mais próxima daquela que Júlia Navarro ficcionou na sua obra a «A Bíblia de Barro», que se inspira em muito do que se terá passado.

A tese da participação de elementos de topo da hierarquia do partido Baath é perfeitamente verosímil, até pelo facto de muitos responsáveis do Museu Nacional terem declarado que boa parte das obras mais valiosas se encontrava guardada em cofres e das respectivas portas se mostrarem arrombadas (algo particularmente difícil de executar por um “bando” de pilhadores), tal como a da operação ter sido organizada no exterior (forma mais óbvia e simples de assegurar que as obras roubadas chegassem rapidamente aos potenciais compradores).

Há muito que em defesa desta tese o meio académico se vem interrogando sobre o papel que poderá ter desempenhado o AMERICAN COUNCIL FOR CULTURAL POLICY (ACCP), associação norte-americana, fundada com o objectivo de influenciar a suavização das futuras leis iraquianas de protecção da exportação de antiguidades. De acordo com a jornalista Sonja Zekri, do jornal alemão SÜDDEUTSCHE ZEITUNG, será a legalização da pilhagem da cultura mesopotâmica pelos americanos.

Esta asserção é parcialmente confirmada por declarações de responsáveis por aquela associação, que não escondem o seu interesse em que as leis do novo Iraque permitam a exportação de obras de arte antigas. Não é por isso estranho que para muitos o ACCP seja entendido com um grupo de influentes comerciantes que preconizam a abrandamento das apertadas restrições que o Iraque impunha sobre a propriedade e a exportação de peças arqueológicas. Entre os principais críticos da ACCP encontra-se Patty Gerstenblith, presidente do ARCHAEOLOGICAL INSTITUTE OF AMERICA (AIA), que acusa frontalmente aquele grupo de pretender estimular a criação de colecções de artefactos arqueológicos através da eliminação dos entraves criados pelos estados donde estas são originárias, bem como a sua classificação como propriedade pública para melhor permitir a sua exportação para os países ricos.

A realidade é que contrariamente ao que aconteceu durante a II Guerra Mundial, em que o avanço dos exércitos americanos pela Europa foi acompanhado por equipas de especialistas em arte afim de assegurar a preservação de locais e obras encontradas, no recente caso da invasão do Iraque tal não aconteceu.

Sabendo-se que o número de potenciais adquirentes das peças saqueadas do Iraque não deve ultrapassar a meia centena de pessoas (que além da característica de disporem de muito dinheiro aceitarão nunca poderem exibir as peças obtidas por aquela via) é de esperar que muitas das peças desaparecidas nunca apareçam no mercado para venda, tornando assim muito mais difícil a sua localização.

O reduzido número de “interessados” e a sua enorme capacidade financeira permitem a elaboração de um cenário para a operação particularmente rebuscado, mas não inverosímil de todo. Assim, pode bem ter sido elaborado um acordo com as altas esferas norte-americanas que planearam a invasão do Iraque, no sentido da obtenção de informação privilegiada sobre o início da campanha militar bem como a “indisponibilidade” para as tropas no terreno assegurarem a protecção dos principais museus.

Assegurada a participação de alguns altos responsáveis iraquianos as peças mais valiosas de locais como o Museu Nacional do Iraque, terão sido enviadas para fora do território nas primeiras horas da invasão. Na euforia da chegada das primeiras tropas americanas as populações terão sido instrumentalizadas para uma acção de saque aos museus, perante a passividade das tropas invasoras.

Com esta acção assegurava-se a destruição de muitas provas do saque organizado e dificultar-se-ia a rápida identificação das peças desaparecidas.

Um cenário desta natureza não parece difícil de imaginar e ainda menos de concretizar.

As imagens dão bem conta do estado de destruição das próprias áreas de armazenamento de obras e pior, a confirmar-se que se tratou de uma acção planificada e executada com verdadeira precisão militar, dificilmente as obras voltarão a aparecer nos anos mais próximos.

A coberto da sua posição de dominância os autores deste roubo dificilmente virão a ser conhecidos e a suportar qualquer sanção pelos actos praticados.

Além da barbaridade que é o roubo de peças com o valor histórico destas, a elaboração de um plano desta natureza pressupõe a existência de pessoas sem quaisquer escrúpulos morais e ainda de um grupo que poderá ter participado neste plano com o simples objectivo de ver destruído (ou desaparecido) tudo o que possa constituir elemento de agregação civilizacional, para melhor obter o resultado do desmembramento do Iraque enquanto nação.

Organizações insuspeitas, como a UNESCO, já reconheceram a existência de planificação neste processo de saque às riquezas artísticas do Iraque, recentemente agravada pela demissão do presidente da Comissão Iraquiana de Antiguidades e Património, fundamentada nas seguintes razões:

  • a comissão está cada vez mais influenciada por militantes do partido xiita de Moqtada Al-Sadr;
  • é crescente a predominância de um ponto de vista islamista em detrimento das culturas mais antigas do Iraque;
  • os contactos com os representantes americanos e estrangeiros em geral é desencorajado;
  • a partir de Setembro não haverá disponibilidades para continuar a pagar aos cerca de 1400 membros da força local de segurança e protecção;

o que leva a antever ainda maiores dificuldades na prossecução de uma política de protecção e preservação do património histórico daquela região e de todos nós.



quinta-feira, 14 de setembro de 2006

COM ISSO NÃO SE BRINCA

À primeira vista não poderia concordar mais com o título do editorial do dia 12 de Setembro do DIÁRIO ECONÓMICO, assinado por Martim Avillez Figueiredo.

Infelizmente não posso dizer o mesmo do seu conteúdo. Que o autor aceite como profissão de fé que tudo o que ocorreu no dia 11 de Setembro de 2001 se passou conforme a administração americana o descreve, é um problema seu com o qual não me preocupo. Mas considerar que quem (e são muitos como as sondagens norte americanas comprovam) formula dúvidas e questões à interpretação oficial, como Dylan Avery (o autor do documentário LOOSE CHANGE exibido pela RTP), «...deveria ser repreendido, não ouvido» equivale a exercer uma forma de censura que seguramente não gostaria que lhe fosse aplicada.

Que o director do DIÁRIO ECONÓMICO goste mais de ver difundidas as imagens de sofrimento e miséria humana (algumas ficcionadas como aconteceu no documentário exibido pela RTP1 na noite do dia 10) que acompanharam o ataque ao World Trade Center (e que ainda hoje são utilizadas para fomentar um apoio a um governo norte-americano cada vez mais descredibilizado) é a atitude normal de quem abdica da sua própria capacidade de raciocínio e análise para se converter num mero mecanismo de repetição da “voz do dono”.

É óbvio que esta característica é tanto mais grave e condenável quanto a função de um director de um jornal deve ser a de informar e esclarecer os seus leitores, fornecendo-lhes os meios para a formulação das suas próprias opiniões e convicções e não a de se desdobrar em tentativas para explicar o inexplicável. É verdade que Zeca Afonso tinha (tem) razão e que há coisas (como as armas) com as quais não se deve brincar, mas não é menos verdade que «...não há machado que corte a raiz ao pensamento...»

Tal como Martim Avillez Figueiredo fez no seu jornal, também Pacheco Pereira na última edição do programa PRÓS E CONTRAS (RTP1), emitido na noite de 11 de Setembro, se esforçou por desacreditar as dúvidas que rodeiam o 11 de Setembro. Também este se desdobrou na tentativa e, inevitavelmente, na falta de melhores argumentos acabou por associar quem põe em dúvida a versão oficial americana ao desgastado estigma do comunismo.

No afã de silenciar argumentos, Pacheco Pereira chegou ao absurdo de dizer que são utilizadas afirmações sem comprovação científica para contradizer a versão oficial, esquecendo (porque não acredito que ignore o conteúdo de ambas as versões) que, entre outras, nem o governo americano, nem a comissão Kean (nomeada por aquele) alguma vês produziram prova irrefutável do embate de um Boeing 757 contra o Pentágono.

Mesmo correndo o risco de não ser inovador nesta apreciação, julgo que o grande problema dos actuais defensores indefectíveis da “praxis” norte-americana é que, na ânsia de quererem contribuir para apresentar uma inimigo para os EUA e de com ele tudo justificarem, há muito perderam o mais elementar sentido crítico, incluindo o do seu próprio ridículo. Depois de confirmada a mentira que foram as armas de destruição em massa de Saddam Hussein (justificação repetida até à exaustão por todos os apologistas da invasão do Iraque), a assim continuar ainda corremos o risco de vir a ouvir (ou ler) Pacheco Pereira a corroborar qualquer iminente invasão de “aliens” para justificar a necessidade de total subordinação do mundo aos desígnios americanos.


terça-feira, 12 de setembro de 2006

NINE ELEVEN - PARTE III

POLÍTICA E SONDAGENS NOS EUA

Numa sociedade do tipo ocidental dita democrática existem mecanismos que permitem aferir da validade e receptividade das populações a problemas como o que está em análise.

Sondagens realizadas ao longo do ano junto da população americana dão uma ideia de como estará a evoluir a percepção dos acontecimentos do 11 de Setembro.

De acordo com um trabalho conjunto da Scripps Howard e da Universidade do Ohio, sobre os polémicos pormenores do 11 de Setembro de 2001, constata-se que:

  • 12% da população revela-se convicta que o Pentágono não foi atingido por um avião comercial, mas sim por um míssil;
  • 16% são de opinião que a derrocada das torres do World Trade Center não resultou do embate das aeronaves, mas sim da utilização de explosivos;
  • 36% declaram que a administração Bush está implicada, de forma activa ou passiva, na realização dos atentados.

Um outro estudo, realizado pela Zogby International, entre 12 e 16 de Maio de 2006, conclui que:

  • 42% dos americanos não estão convencidos pelas conclusões do relatório da Comissão Kean;
  • 44% pensam que George W Bush instrumentalizou os atentados para justificar a guerra;
  • 45% gostavam de ver reaberto o inquérito ao 11 de Setembro.

Estes resultados ganham outra dimensão quando se pediu às pessoas sondadas indicações sobre a opinião de pessoas das suas relações; desta formalização, que permite recolher sensibilidades e simultaneamente ultrapassar barreiras psicológicas associadas à delicadeza das questões, resultou um crescimento de cerca de 20% nas distribuições iniciais, fazendo com que aqueles valores passem a situar-se acima dos 50%.

Analisando com maior pormenor algumas das questões do inquérito:

  • Bush explorou os ataques do 11 de Setembro para justificar a invasão do Iraque?
  • Pensa que o governo dos EUA e a comissão de inquérito sobre o 11 de Setembro conduziram uma operação de dissimulação?
  • Tem conhecimento do colapso da Torre 7 do WTC e se sim acha que a comissão de inquérito também o devia ter estudado?
  • Os ataques do 11 de Setembro foram suficientemente estudados ou acha preciso reabrir o inquérito?

e a distribuição das respectivas respostas:

constata-se uma distribuição equilibrada sendo apenas de destacar a desproporção entre os que contestam a ligeireza do relatório apresentado pela Comissão Kean quanto às causas da derrocada da Torre 7. Esta distribuição repete-se quando analisados os resultados em função da distribuição por segmentos de rendimento, da etnia e do local de residência dos inquiridos, embora pareça prevalecer uma tendência para que os americanos com maiores rendimentos, os que habitam as regiões menos industrializadas e os que aspiram a integrar a elite governativa sejam os que manifestam menores dúvidas e discordâncias.

Paralelamente foi ainda avaliada a qualidade do trabalho informativos dos meios de comunicação a respeito do 11 de Setembro

constatando-se que 55% dos inquiridos classificam aquele trabalho como sofrível ou mau. Este resultado poderá reflectir o facto de muitos dos que aceitam as conclusões da Comissão Kean não encontrarem na imprensa a capacidade para se contrapor de forma eficaz às dúvidas que têm vindo a surgir.

Estes resultados não diferem muito dos obtidos noutras sondagens concretizadas em momentos diferentes. Assim, segundo um estudo da Opinion Dynamics, realizado em Janeiro de 2006 para a Fox News, 30% dos americanos atribuem nota negativa à actuação do Supremo Tribunal de Justiça. Outra, realizada pela Gallup em Abril do mesmo ano para o USA Today, conclui que 56% dos americanos consideram que o seu presidente é desonesto e que a actual administração foi formada entre “amiguinhos” e, pior ainda, 61% são de opinião que o seu governo não se preocupa com eles e 83% afirmam que o Congresso, no seu conjunto, é mais ou menos corrupto. Estes dados são corroborados por uma sondagem realizada em Fevereiro pelo Pew Research Center e pelo Princeton Survey Research Associates, segundo a qual 41% dos eleitores americanos afirmam que o seu representante ou o senador são corruptos; a já referida da Gallup assegura que 76% consideram o Congresso como pouco digno de confiança.

Estes resultados não são extraordinariamente diferentes dos que se registam noutros países ocidentais e permitem estabelecer um quadro da situação que torna particularmente importante a avaliação de um outro dado: a informação.

O TERRORRISMO E A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO

Após o alerta lançado no início de Agosto deste ano pelos serviços de segurança ingleses, segundo o qual um grupo terrorista se preparava para fazer explodir aviões mediante o recurso a explosivos líquidos e cujo resultado mais visível foram os enormes atrasos sofridos pelas ligações aéreas com partidas e destinos para aquele país, voltou no início de Setembro a ser notícia o desmantelamento de mais uma rede terrorista a operar num estado europeu.

Os meios de comunicação desdobraram-se em ávidas entrevistas a responsáveis governativos e de segurança, bem como a outras personalidades influentes na opinião pública.

Em termos práticos os diferentes aparelhos policiais detiveram mais umas dezenas de cidadãos islâmicos, encontraram durante os processos de busca agendas de contactos com outros operacionais da Al-Qaeda (mortos, detidos ou em liberdade) e assim fundamentaram a necessidade de intervenção para garantir a segurança dos respectivos cidadãos. Após a Espanha, o Reino Unido, a França e a Alemanha, eis que o último país atingido pelo frenesi securitário é a Dinamarca; já anteriormente sujeito a polémica por via dos célebres “cartoons” que os muçulmanos classificaram de blasfemos, surge agora como mais um ponto no mapa das intentonas terroristas e a prova viva de que a «luta contra o terror», tal como a enunciou e tem vindo a praticar a administração norte-americana, terá que continuar a constituir o “leit motiv” dos estados verdadeiramente preocupados com a defesa da civilização ocidental.

Não pretendo defender a ideia que os estados abdiquem da sua própria segurança interna (e da dos seus cidadãos), mas não posso deixar de manifestar a minha estranheza pelo facto dos meios ocidentais de comunicação se apressarem a noticiar as detenções e as provas incriminatórias encontradas, mas raramente tenham revelado a mesma rapidez, sagacidade e justiça informativa sempre que os diferentes tribunais a que os alegados terroristas são apresentados determinam a respectiva libertação por insuficiência de provas ou simples condenações por delitos de direito comum ou actos não relacionáveis com uma rede global de terrorismo. Esta forma enviesada de informação, além de pouco contribuir para o esclarecimento do público, apenas serve para alimentar o medo que justifica os atropelos às liberdades individuais que interna e externamente continuam a ser praticados sobre comunidades como a islâmica.

Os mesmos meios de comunicação que tanto têm feito para difundir os libelos acusatórios da administração Bush e dos seus apoiantes, a par com os anátemas que Bin Laden e os seus anunciados acólitos regularmente lançam sobre o ocidente, poucas ou nenhumas oportunidades têm proporcionado, idênticas em espaço e tempo, aos muitos que pugnam pelo entendimento e pela difusão do conhecimento cultural e intelectual “dos outros”.

Integrados numa estratégia concertada de desinformação, ou fruto da pressão das tiragens e das sondagens, os meios de comunicação ocidentais têm participado alegremente numa campanha de ocultação e escamoteamento de indícios e factos que possam contradizer as teses mais belicistas. De que outra forma se pode entender a o silenciamento de factos tão preocupantes como a ausência de formalização de acusações judiciais à maioria dos detidos nas constantes acções policiais, a divulgação em grandes parangonas de aviões obrigados a aterragens forçadas motivadas por suspeitas entre os passageiros, que mais tarde se revelam infundadas e, por último, da enorme falta de isenção com que a generalidade dos órgãos de informação ocidental cobriu a recente invasão israelita do Líbano, bem como das causas que a antecederam.

Mesmo sem querer entrar na polémica do muito que culturalmente separa o ocidente judaico-cristão do oriente muçulmano, continuo convicto que, extremistas à parte, muito existe de comum entre povos que partilham uma raiz religiosa e cultural do tipo monoteísta. O sentimento de medo que de forma persistente e sistemática tem vindo a ser instilado nas populações ocidentais apenas terá igual na forma como os muçulmanos radicais assimilam tudo o que for ocidental a blasfemo. É óbvio que o ainda bem presente sentimento anticolonial dos povos islâmicos face ao ocidente constitui um bom argumento para uma campanha de diabolização deste, mas também não é menos verdade que apenas uma reiterada prática de diálogo e respeito entre povos, culturas e valores dissipará este sentimento.

Ora o que temos vindo a assistir (salvo raras e honrosas excepções) tem sido precisamente o inverso; em lugar da construção de pontes de diálogo e de entendimento têm-se erguido barreiras de ódio e incompreensão. A generalidade dos governos ocidentais se não tem alinhado na política belicista americana pouco ou nada tem feito para se lhe opor com eficácia e assim temos assistido desde o 11 de Setembro de 2001 a um crescendo de conflitos internacionais – as invasões do Afeganistão e do Iraque – e locais – o ataque israelita ao Líbano – que além de apresentarem uma muito duvidosa ligação com a luta contra o terrorismo ainda resultaram numa evidente degradação da situação das respectivas populações, no fortalecimento dos incitadores contra o ocidente e no aumento do número de potenciais perpetradores de futuros atentados.

O exclusivo recurso a uma política de violência e destruição e a ausência de uma política de aproximação e de intercâmbio de conhecimentos (com vista à redução de receios e diferendos) tem conduzido a que o elo mais fraco desta cadeia (as populações muçulmanas) esteja cada vez mais a ser condicionado a reagir da forma pretendida – transformando-se em bombista suicida. Esta forma perversa de designar o culpado e actuar de modo premeditado para o condicionar a reagir como desejado e assim justificando a acusação inicial, se não prefigura qualquer figura jurídica englobável no conceito de crime, constitui seguramente uma via não ética de fazer política.

Pior do que ignorar ou escamotear as razões que possam assistir para fundamentar um crescente sentimento anti-ocidental entre as populações muçulmanas é estimulá-lo mediante políticas e acções meramente provocatórias que em caso algum poderão conduzir a outro cenário que o do agravamento das tensões.

Enquanto os esforços isolados das vozes que de uma parte e da outra se erguem para desmontar estes, e outros, argumentos falaciosos e apelar à necessidade de diálogo continuarem a ser ignoradas pelos poderes estabelecidos e pelos meios de comunicação que estes controlam – em países como os EUA questionar abertamente as razões das acções militares contra os países islâmicos é na generalidade apelidado como traição – dificilmente se poderá esperar uma evolução no sentido da normalização das relações entre os povos. E o mais curioso de tudo isto é que esta paranóia colectiva se tem vindo a desenvolver principalmente nos países europeus onde é forte e antiga a presença de comunidades islâmicas, mas também crescente a actividade de movimentos de cariz nacionalista e xenófobo.

CONCLUSÃO

As circunstâncias por explicar que rodeiam os acontecimento de 11 de Setembro de 2001, a fragilidade de muitas das tentativas oficiais de explicação, a crescente pressão a que os contestatários internos estão a ser alvo nos EUA, a coincidência entre as datas de outros atentados atribuídos a grupos radicais islâmicos e importantes acontecimentos a nível mundial ou local, justificam que nesta data a opinião pública faça sentir, a par com o repúdio pelo acto e pelo número de vidas humanas sacrificadas, a necessidade de esclarecimento total dos acontecimentos e apuramento das respectivas responsabilidades.

Mesmo que não venham a confirmar-se na íntegra as alegadas motivações económicas para o 11 de Setembro que foram recentemente divulgadas num documentário, que a própria estação rotulou de polémico, exibido há uns dias na RTP2 (possível de ver ou rever aqui), algumas das vantagens já concretizadas, e aqui enunciadas, poderão ser suficientes para o justificar.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

NINE ELEVEN - PARTE II

O QUE VIMOS NO DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001

Demonstradas as mentiras em torno do atentado ao Pentágono porque não verificar as condições de ocorrência dos ataques ao World Trade Center?

Se parece não existirem dúvidas sobre o tipo de aeronave que o atingiu, já o desenrolar e conclusão da acção levanta dúvidas. O embate de aeronaves com arranha-céus não constitui, infelizmente, facto inédito, este foi porém o único do qual resultou a total destruição dos edifícios.

Inicialmente explicada pelo facto dos incêndios gerados ter provocado uma debilitação catastrófica da respectiva estrutura, esta tese viria a ser contestada por análises posteriores às imagens da queda das torres, aos materiais utilizados na construção e à derrocada de um terceiro edifício do complexo algumas horas depois. Um director de projecto do World Trade Center declararia algum tempo depois que os edifícios foram planeados e construídos para resistir a impactos daquela natureza.

Investigações posteriormente desenvolvidas sobre a derrocada das torres do World Trade Center podem ser resumidas da seguinte forma:

  1. a temperatura que o incêndio teria atingido (a temperatura de um fogo alimentado por hidrocarbonetos atinge cerca de 1.000ºC) é insuficiente para provocar a fusão do aço, que apenas o corre a uma temperatura de 1.600ºC; o metal utilizado naqueles edifícios foi testado e aprovado para resistir a temperaturas de aproximadamente 1.100ºC durante seis horas;
  2. como sabemos as torres ruíram muito antes de concluído esse tempo; a própria forma como a derrocada se registou em nada se assemelhou ao que seria expectável, se a sua estrutura tivesse cedido ao efeito do calor deveríamos ter assistido a uma derrocada lenta dos andares acima do fogo e nunca à totalidade do edifício e de uma forma tão abrupta;
  3. a apocalítica imagem da queda das torres apenas parece explicável por um processo de implosão, o que só seria possível mediante uma destruição planeada e executada por especialistas. Comprovando esta hipótese, semanas depois foram encontradas manchas de metal fundido nos níveis abaixo do solo que em momento algum foram atingidos pelo fogo;
  4. por último temos a estranha derrocada doutro edifício do complexo (uma torre com 47 andares) que não foi atingida por qualquer avião, nem apresentou sinais de qualquer incêndio prévio;

A todas estas dúvidas há ainda que acrescentar a muito pouco plausível tese sobre a queda do avião que se dirigiria para a Casa Branca. Conhecido como o voo 93, este aparelho terá caído na Pensilvânia por acção heróica dos seus passageiros que impediram os “terroristas” de alcançar o objectivo. Há muito duvidosa tese da revolta dos passageiros (fazendo fé no conteúdo atemorizado das gravações dos telefonemas por eles efectuados) acresce o facto do local mostrado à imprensa não revelar o aspecto normal resultante da queda de uma aeronave daquelas características (os destroços estão demasiado fragmentados e carbonizados).

Por todas estas razões muitas são as pessoas (caso do multimilionário americano, Jimmy Walter, que mantém em vigor um prémio de um milhão de dólares a que demonstre cientificamente a versão oficial do desmoronamento do World Trade Center) e os grupos que mantém um importante processo de investigação sobre os acontecimentos; nos próprios EUA muitos são os sítios na Internet consagrados a este tema (verdade seja dita que vários acontecimentos na história americana recente se têm revelado envoltos em enormes polémicas, caso dos assassinatos de John F Kennedy, Malcom X e Robert Kennedy); entre outros e enquanto fonte complementar de informação aconselho a consulta de: 911TRUTH.ORG e REOPEN911.ORG.

AS LIGAÇÕES ENTRE OS EUA E OS “TERRORISTAS”

Se estes factos apontam para a evidência das mentiras propaladas pela administração de George W Bush, que dizer de outras como:

  • a descoberta de um passaporte quase intacto em nome de um dos “terroristas” (que repito não consta na lista de passageiros);
  • a posterior confirmação de que alguns dos alegados “terroristas” se encontravam vivos e a desenvolver as suas normais ocupações;
  • a página do FBI sobre Bin Laden que não inclui a acusação de envolvimento no 11 de Setembro, situação que aquela agência oficial justifica por não dispor de provas suficientes para tal;

Estas e muitas outras questões têm sido tratadas pelos defensores das teses oficiais como mais uma “teoria da conspiração”, mas o facto é que não param de surgir novas questões e potenciais ligações entre a administração Bush (recorde-se a tese adiantada pelo escritor e cineasta norte-americano, Michael Moore, no seu filme Fahrenheit 9/11, sobre as ligações económicas entre as famílias Bush e Bin Laden), o grupo dos neoconservadores, integrado por actuais e anteriores membros daquela administração, e agências oficiais norte-americanas, como a CIA.

A chamada de Bin Laden à primeira linha dos “terroristas” é por si só uma forte prova, uma vez que as suas ligações à CIA estão sobejamente documentadas desde os tempos em que este participou na luta dos afegãos contra a invasão soviética daquele território. Segundo um artigo recentemente publicado por Michel Chossudovsky, nas vésperas do próprio 11 de Setembro Bin Laden, então já procurado pela justiça americana, encontrava-se hospitalizado numa base militar em Rawalpindi, no Paquistão, para receber tratamento hepático; a sua presença naquele local, sob protecção do exército paquistanês (a cujos altos comandos são conhecidas fortes ligações ao Pentágono) e do ISI (o serviço secreto paquistanês, há muito dado como estreitamente ligado à CIA) é apenas mais um indício de que a sua actuação poderá estar a ser orquestrada a partir de território norte-americano.

A IMPORTÂNCIA DO 11 DE SETEMBRO

Com todos os indícios a apontarem para a existência de um nível de planeamento bem diverso do grupo de Bin Laden e com evidentes cumplicidades na administração norte-americana, torna-se premente a necessidade de o porquê da concretização do ataque ao World Trade Center.

Que em diferentes momentos da sua história sucessivos governos americanos, ou altos responsáveis de agências dele dependentes, ponderaram a simulação de atentados para justificarem acções militares são factos publicamente conhecidos e amplamente documentados. Assim, não deverá merecer particular estranheza que também este o possa ter sido, tanto mais que o número de baixas registado não parece tão importante quando se constata que este não representa mais de 0,001% da sua população actual e as vantagens a retirar podem ser significativamente recompensadoras.

De imediato o governo de George W Bush registou um apoio massivo da população e de quase todos os países mundiais, facto que lhe permitiu endurecer as suas estratégias quer a nível interno quer externo.

A nível interno assistimos à proclamação de várias medidas legislativas fortemente limitadoras de direitos, garantias e liberdades dos cidadãos, as quais estão na origem de actos tão condenáveis quanto prisões arbitrárias e à ampliação de processos e métodos de espionagem interna (exemplos, a concentração de poderes na Casa Branca, a redução da capacidade interventiva e fiscalizadora do Congresso, o caso das escutas telefónicas sem mandato judicial e a criação de uma rede de instalações prisionais fora do território americano destinadas ao interrogatório de presumíveis terroristas) e à própria reeleição de George W Bush, enquanto a nível externo tornou justificável a invasão do Afeganistão, sob pretexto de capturar Bin Laden e com o apoio da ONU, e à substituição de um regime político que se opunha à instalação de um importante pipeline na região. O aparente sucesso deste primeiro passo (apesar de Bin Laden jamais ter sido capturado) rapidamente originou um segundo.

Sempre com a justificação da «guerra contra o terror» Bush e a sua equipa (talvez fosse mais correcto escrever os neoconservadores e a equipa de Bush) passaram a fixar como alvo o Iraque de Saddam Hussein. Acusado de todos os malefícios e barbaridades (até a de dispor de armas de destruição em massa que nunca viriam a se localizadas) rapidamente os EUA partiram para uma nova invasão, desta vez sem o apoio da comunidade internacional, a qual continua a fomentar um clima de crescente instabilidade na região do Médio Oriente.

Esta estratégia belicista norte-americana esteve seguramente na génese do recente conflito entre Israel e o Hezbollah, do qual resultou nova destruição parcial do território do Líbano. Mantendo sob mira e pressão os governos da Síria e do Irão (que mantém em aberto um outro diferendo a propósito do seu programa de produção de energia nuclear), o governo americano continua a assegurar um clima de instabilidade geopolítica que lhe é particularmente favorável.

Após a queda em 9 de Novembro de 1989 do Muro de Berlim e do posterior desagregamento da União Soviética, os EUA estavam a encontrar crescentes dificuldades na gestão de uma situação sem um inimigo visível.

CONTINUAM AS CONTRADIÇÕES E AS DÚVIDAS

Do que anteriormente deixei dito não se conclua que a situação mundial se encontra hoje mais estável que há cinco anos, bem pelo contrário.

Em 2001 os EUA debatiam-se com a dificuldade de fazer prevalecer as suas teses hegemónicas a muitos dos seus parceiros mundiais, hoje continuam a debater-se com algumas dificuldades, mas a ameaça do “terrorismo” parece revelar-se suficiente para que muitos destes parceiros abdiquem de alguma da sua resistência. Assim começa a chegar o momento de analisar e reflectir sobre a oportunidade das outras acções “terroristas” posteriormente registadas.

O atentado perpetrado nas vésperas de importantes eleições gerais em Espanha poderia ter determinado uma vitória do PP de Aznar (apoiante desde a primeira hora das invasões do Afeganistão e do Iraque e indispensável à administração Bush uma vez que eram amplamente conhecidas as posições anti-guerra do seu principal oponente, o socialista José Luís Zapatero) caso os eleitores tivessem acreditado na tese prontamente divulgada pelo governo de que o atentado era da autoria da ETA.

Demorou pouco mais que um ano até à realização de nova acção. Desta vez o local foi Londres num momento em que crescia a contestação ao apoio de Blair aos EUA e sobre a data da abertura de uma importante reunião do G8, que na Escócia iria debater a possibilidade de um perdão da dívida externa africana. Novamente voltámos a assistir ao mesmo tipo de “modus operandi” e ao mesmo tipo de resultados: o endurecimento das políticas securitárias, a redução das liberdades individuais e o aumento da popularidade interna de Blair.

Após o atentado ocorrido este ano em Bombaim, cujos autores indiciados apresentam fortes ligações directas ao ISI paquistanês e indirectas à CIA, a estratégia das acções seguintes sofreu uma notável inflexão. Agora as agências de informação e segurança começaram a emitir avisos preventivos de ataques terroristas (o melhor exemplo são os acontecimentos deste Verão em Londres), traduzidos na instalação de grandes aparatos policial e securitários no sentido de manter elevados os níveis mundiais de insegurança.

Nesta mesma linha de actuação – restrição às liberdades e à livre circulação e comércio – se pode entender a recusa decidida pelo Congresso norte-americano de ratificar um acordo comercial entre uma empresa inglesa e a outra do Dubai, segundo o qual esta passaria a deter os contratos de gestão do tráfego dos principais portos marítimos norte-americanos.

Paralelamente com uma criteriosa selecção do “timing” dos atentados, também a cada vez mais regular emissão de comunicados da Al-Qaeda e apresentação de vídeos de Bin Laden parece mais ajustada para manter em níveis elevados o clima de medo e justificar as iniciativas dos governos ocidentais mais empenhados na «guerra contra o terror» do que para cumprir uma agenda de confronto e destruição da civilização ocidental, como pretende George W Bush.

[i] Importa não esquecer toda a polémica que envolveu o processo eleitoral norte-americano em 2001, da qual resultou o facto de George W Bush ter sido nomeado presidente pelo Supremo Tribunal de Justiça, cujos membros tinham sido maioritariamente nomeados pelo pai, George Bush, quando presidente dos EUA.


NINE ELEVEN[1] - PARTE I

OS ACONTECIMENTOS

Cumprem-se hoje 5 anos sobre a data que para muita gente representa uma viragem no curso da história mundial [2]. De acordo com aquilo que nos foi dado assistir quase em directo pelos diversos canais de televisão, dois aviões comerciais embateram contra os dois edifícios mais altos da cidade americana de Nova Iorque.

Para milhões de telespectadores que, como eu, puderam assistir em directo ao embate do segundo avião contra o World Trade Center, de pronto abandonaram a hipótese de se encontrarem perante um lamentável acidente aéreo. As mais diversas hipóteses começaram desde logo a ser equacionadas, culminando numa relativamente rápida acusação contra uma rede terrorista liderada por Ossama Bin Laden.

O estupor generalizado e a brutalidade das imagens difundidas até à exaustão tolheram toda a gente de surpresa, a ponto de no dia seguinte o jornal francês LE MONDE ter titulado a toda a largura da sua primeira página «Hoje somos todos americanos», frase que em boa medida sintetizava o horror e o repúdio geral por um atentado que ceifara a vida de cerca de três mil pessoas. Com a passagem dos dias e a progressiva análise cuidada ao que se passara, algumas contradições começaram a tornar-se evidentes e a surgirem as primeiras dúvidas. Enquanto a generalidade da imprensa mundial continuava a apresentar relatos de sobreviventes, testemunhas e responsáveis governamentais norte-americanos, começaram a ouvir-se as primeiras vozes a colocarem questões de particular pertinência em torno das notícias que tinham surgido.

A TESE OFICIAL

Segundo fontes oficiais da administração norte-americana, o que aconteceu em 11 de Setembro foi a consumação de uma acção terrorista, organizada pela Al-Qaeda (grupo islâmico liderado por Ossama Bin Laden, que já havia sido responsabilizado por anteriores atentados contra interesses norte-americanos - caso do atentado contra o US Cole, navio da armada americana na altura estacionado em águas do Médio Oriente, e contra a embaixada americana em Nairobi - e era julgado capaz da organização de uma acção de tal envergadura) que consistiu no desvio de aviões comerciais e no seu posterior embate contra o World Trade Center e o edifício do Pentágono. Dos aparelhos desviados pelo comando suicida apenas um teria sido impedido de atingir o seu objectivo, a Casa Branca, por se ter despenhado antes de o alcançar.

AS PRIMEIRAS DÚVIDAS

Os modernos meios de comunicação permitiram que nas horas que sucederam aos atentados tenham proliferado as reportagens televisivas e jornalísticas junto dos locais atingidos e/ou alvos potenciais, recolhendo-se centenas de declarações de testemunhas que se viriam a revelar contraditórias sobre o acontecimento. Assim, enquanto as companhias aéreas rectificavam as primeiras listas de passageiros dos voos desviados (as primeiras não continham referência a qualquer passageiro de nacionalidade ou ascendência árabe, nem as listas de vítimas publicada pela CNN), especialistas na luta antiterrorista surgiam a enquadrar a acção e o respectivo “modus operandi” na tipologia e padrão da Al-Qaeda.

Enquanto o mundo ainda não recuperara do choque do acontecido, a administração de George W. Bush já partia para o contra-ataque e fixava como objectivo principal a captura e julgamento de Bin Laden, que os serviços de espionagem davam como refugiado no Afeganistão. Daí à invasão daquele país oriental foi um mero passo e após uma rápida deliberação do Conselho Geral da ONU e beneficiando do generalizado apoio mundial, os EUA iniciam no dia 7 de Outubro de 2001 a acção militar.

Quase em simultâneo (8 de Outubro de 2001) surge uma primeira referência na Internet, na página do RÉSEAU VOLTAIRE, ao avolumar de dúvidas sobre as ocorrências no dia 11 de Setembro, num texto intitulado «Les mystères de l'attentat contre le Pentagone». As primeiras dúvidas vão-se tornando cada vez mais consistentes há medida que a informação se vai avolumando e a documentação, nomeadamente a fotográfica, vai surgindo e sendo analisada. No dia 10 de Fevereiro de 2002, no sítio Internet L’ASILE UTOPIQUE é publicado «Le jeu des 7 erreurs», que mediante a apresentação de diversos documentos fotográficos coloca sete importantes questões em torno do atentado contra o Pentágono.

Cerca de um mês depois é publicado em França o livro «L'Effroyable imposture» no qual Thierry Meyssan resume frontalmente a investigação efectuada: Nenhum avião caiu sobre o Pentágono!

A obra, rapidamente traduzida em várias línguas (entre as quais português), suscita um crescente interesse a ponto de ter sido criado um sítio na Internet (effroyable-imposture.net) que disponibiliza a base documentária utilizada na sua elaboração. Como abordagem polémica que é, a primeira reacção da imprensa foi a de criticar a investigação de forma frontal, reduzindo-a à categoria de mentira e classificando-a como revisionista. A este primeiro trabalho seguir-se-ia um segundo, O PENTAGATE (também editado em Portugal), no qual é analisado em maior detalhe o “ataque” ao Pentágono.

Ao longo do tempo, a consistência das dúvidas e a ausência de respostas eficazes e credíveis da administração norte-americana conduziram ao aumento do número de investigadores e à constituição de grupos de pesquisa dos quais se destacam além do RÉSEAU VOLTAIRE, grupo de origem francesa já referido, o CENTRE FOR RESEARCH ON GLOBALISATION (CRG), de origem canadiana, e o SCHOLARS FOR 9/11 TRUTH, organização de origem norte-americana que congrega professores universitários, investigadores e estudantes universitários de diferentes nacionalidades; estes grupos, a par de muitas outras personalidades, não têm parado de questionar quer as explicações oficiais fornecidas pela Casa Branca quer a sua incongruência ou até a sua completa ausência.

O PENTAGATE

As muitas evidências acumuladas para duvidar da interpretação oficial do 11 de Setembro podem ser resumidas da seguinte forma:

  1. as imagens recolhidas do edifício do Pentágono não evidenciam os estragos esperados do embate de um avião comercial com as dimensões e peso de um Boeing 757. Este aparelho tem um peso vazio superior a 59 ton, uma envergadura de 38 m, um comprimento de 47,3 m e uma altura de cauda de 13,6 m.

  1. os estragos provocados numa ala do Pentágono que se encontrava em obras evidenciam que apenas a fuselagem do Boeing poderia ter atingido o edifício. Se assim tivesse sido os estragos no relvado exterior teriam que ser evidentes e os destroços abundantes. Curiosamente nada no relvado evidencia a violência expectável do embate de um avião, não foram encontrados nenhum dos motores do 757 (que pesam mais de 6 ton cada), destroços das asas ou da cauda, nenhuma das caixas negras, nenhum corpo ou bagagens dos passageiros.

  1. as imagens reveladas pelo governo não evidenciam em momento algum a presença de um aparelho com a envergadura de um 757 e a explosão registada (um vermelho alaranjado e no sentido ascendente, característico de uma detonação) é totalmente diversa das que ocorreram nos embates contra o World Trade Center (cor amarelo escuro e propagando-se no sentido descendente, característico da deflagração de hidrocarbonetos).

Estas imagens terão sido recolhidas de uma câmara de um parque de estacionamento vizinho, mas a que melhor poderiam ilustrar o acontecimento seriam as das câmaras de vigilância de um hotel próximo, que o FBI recolheu de imediato, mas que nunca foram reveladas ao público. Mesmo as divulgadas em momento algum permitem visualizar um Boeing 757 voando a alta velocidade e a rasar o solo, manobra particularmente delicada para um piloto experimentado (tanto mais que àquela altitude o trem de aterragem desceria automaticamente, dificultando ainda mais a manobra) quanto mais para um “terrorista” sem experiência de voo.

A estas primeiras dúvidas procurou o governo americano responder com uma teoria desenvolvida por uma equipa multidisciplinar da Universidade de Purdue (Indiana), segundo a qual teria sido a resistência dos pilares do edifício do Pentágono a provocar o “encolhimento” das asas do 757.

Esqueceram aqueles “técnicos” que o Pentágono é um edifício com paredes (a destruição evidenciada pelas primeiras fotografias após o impacto mostram danos menores e concentrados numa frente de meia dúzia de metros) e que se asas de uma avião são relativamente frágeis, já os dois reactores do Boeing 757 são estruturas particularmente sólidas e com um apreciável peso unitário de meia dúzia de toneladas, mesmo que fossem esmagadas teriam que existir os respectivos destroços uma vez que o incêndio que se seguiu não durou tempo suficiente para ter provocado a “evaporação” do metal.

A ausência de respostas claras foi justificando novas e sucessivas dúvidas a propósito dos “atentados”. A primeira, e talvez, uma das mais graves é: se há evidência nenhum avião embateu contra o Pentágono então o que o atingiu? A segunda é: o que sucedeu ao voo da American Airlines que não embateu no Pentágono e aos seus ocupantes?

As características do “ataque” ao Pentágono assemelham-se em tudo aos estragos atribuíveis à utilização de um míssil, do tipo Tomahawk, concebido para voar a muito baixa altitude. Aliás, sabendo-se que o Pentágono, tal como muitos outros edifícios estratégicos americanos, se encontra protegido por sistemas automáticos de defesa anti-aérea (mísseis terra-ar) penas uma aeronave identificada como “não hostil” poderia ter penetrado aquele espaço aéreo sem ter sido alvo de qualquer medida automática de defesa.


[1] Forma abreviada, tipicamente americana, usada para designar a data do 11 de Setembro de 2001

[2] No seu livro “FREE WORLD”, Timothy Garton Ash defende outro “nove onze” (o 9 de Novembro de 1989, data da queda do Muro de Berlim) como a verdadeira data de viragem



quinta-feira, 7 de setembro de 2006

O MODELO FUTURO PARA A SEGURANÇA SOCIAL

No seu estilo simples e directo António Perez Metelo veio trazer ao grande público, nas suas colunas diárias no DIÁRIO DE NOTÍCIAS e na TSF, o grande problema da necessidade de revisão do modelo de Segurança Social, agora trazido à ordem do dia por iniciativa do PSD que afirma também dispor de um modelo de solução alternativo.

Em poucas palavras sintetiza o autor a questão nos seguintes termos:

«São duas as alternativas à posição do Governo. À esquerda, promovida pelo movimento sindical apoiado pelo PCP e o BE, surge a proposta (com ecos recentes no Parlamento Europeu!) de onerar as empresas com maior valor acrescentado líquido, mais intensivas em capital e menores contribuições, com uma taxa até 2% sobre os lucros. «...» O PSD propõe uma ruptura com o sistema actual: a uma taxa reduzida de repartição pura juntar-se-ia uma nova conta individual obrigatória em regime de capitalização. «...» [O] regime solidário gerido pelo Estado passaria a um mínimo residual. O grosso das pensões daqui a 30 ou 40 anos basear-se-ia na capacidade individual de gestão das suas poupanças a longo prazo.»

resumindo a disputa a uma questão de natureza ideológica.

Não que conteste a sua leitura dos factos, mas porque me parece que o problema deve ser debatido de forma mais aprofundada, insisto na necessidade de uma análise crítica às dificuldades por que dizem os poderes estabelecidos passar o sistema nacional de segurança social.

A par com a leitura do referido artigo, atrevo-me a sugerir a dos dois “posts” que consagrei ao assunto: A PROPÓSITO DA FALÊNCIA DA SEGURANÇA SOCIAL e AS MENTIRAS DA FALÊNCIA DA SEGURANÇA SOCIAL.

Tão importante quanto a opção por um dos três modelos de solução alternativa – o do governo de Sócrates que defende a redução a prazo das regalias sociais e uma progressiva degradação dos valores a transferir do Estado para os trabalhadores após um período temporal cada vez maior de vida activa; o do PSD que propõe uma pura e simples minimização da componente pública das pensões de reforma a pagar no futuro, substituindo-a por uma componente privada da responsabilidade de cada trabalhador; a dos sindicatos, por último, que vai no sentido de canalizar novas receitas, oriundas de uma sobretaxa sobre os resultados das empresas e de uma efectiva taxação sobre os profissionais liberais, de forma a financiar as necessidades futuras – é o apuramento das reais razões que conduziram à actual situação de penúria de meios da segurança social.

Este apuramento de responsabilidades é tanto mais importante quanto nada garante que na sua ausência a solução que venha a ser retida não volte a registar novas dificuldades.

Em nome da transparência e de uma ética que nunca deveria estar arredada de qualquer função governativa, devemos exigir que conjuntamente com as medidas paliativas sejam divulgadas as reais razões para as actuais dificuldades bem como as medidas a aplicar no futuro para prevenir a sua repetição.

Sem isto, dificilmente qualquer modelo de financiamento será aceitável em virtude de não poder garantir a respectiva sustentabilidade.


terça-feira, 5 de setembro de 2006

QUEM NÃO SE SENTE…

A entrevista com o Presidente da Câmara Municipal de Almeirim, que pode ler aqui e no último número de «O Almeirinense», tem sido alvo de polémica entre a comunidade bloguística local.

O assunto, como não podia deixar de ser é o ápodo de inúteis que, talvez ressabiado pelas denúncias anónimas de que se diz alvo, atribui aos “fazedores de blogs”.

Muitos foram (são) os comentários em vários dos blogs locais – Pensar Almeirim 2006; Sandes-de-Coirato; (o vazio) – e de alguns dos seus habituais leitores.

Por mim, tinha decidido não dedicar qualquer espaço ao problema – afinal, toda a gente tem direito a opinar – mas ao ler algumas das opiniões anteriormente referidas, acabei por me deixar entusiasmar pela questão. Como outros também não gostei, mas confesso que não espantou tanto assim a afirmação, afinal o nosso presidente ainda recentemente se tinha alargado em comentários pouco coerentes e fundamentados sobre questões bem mais importantes que este nosso vício de escrita.

Por agora mais não digo, porque certamente não faltarão ocasiões para voltarmos a questões tão importantes como a da relevância do debate aberto de ideias (é isso o que mais me atrai no universo dos blogs), da sua importância para a formação de juízos e para a avaliação dos actos daqueles a quem entregamos a importante tarefa de criar e gerir melhores condições de vida para todos nós; então veremos se o Dr. Sousa Gomes manterá o mesmo tipo de opinião…

sábado, 2 de setembro de 2006

NACIONAL PORREIRISMO

Imagens bem claras do que há muito se designa pelo “nacional porreirismo” voltaram a ter esta semana com as notícias sobre os resultados dos exames nacionais do 9º ano, realizados em 2005, e sobre a controversa decisão de continuar o processo de desmantelamento de barracas na Azinhaga dos Besouros.

Com o início de mais um ano lectivo à porta dois dos principais matutinos nacionais noticiaram os resultados dos exames do 9º ano realizados em 2005. Segundo dados do Ministério da Educação a taxa de reprovações subiu de 12,5% (valor registado no ano lectivo 2003/2004, no qual não houve exames finais às disciplinas de Português e Matemática) para 19,9%. Com apenas um peso de 25% para a nota final, ainda assim as classificações dos exames nacionais foram responsáveis por mais 7.400 retenções que no ano lectivo anterior.

Como se não bastasse a frieza dos números e a demora na sua divulgação, estes resultados são apresentados pelo Ministério da Educação mais de um ano após as provas, o facto deterem sido conhecidos nas vésperas de arranque de mais um ano lectivo parece-me desmentir completamente os responsáveis por aquele ministério quando vêm dizer que aqueles resultados têm o mérito de poder marcar um ponto de viragem.

Se parece ser um dado adquirido para o Ministério da Educação que o problema resultará não da falta de recursos, mas sim da falta de organização e que os responsáveis esperam ver resolvido com as novas medidas de reforço do poder e autonomia escolares, então como poderemos esperar que o ano lectivo de 2006/2007 marque uma efectiva viragem se no que respeita ao tal reforço do poder e autonomia escolares pouco mudou do ano lectivo anterior para este?

Enquanto o ministério fala numa clara insuficiência de aprendizagens (e recordo que no 9º ano apenas são realizados exames às disciplinas de Português e Matemática), organizações profissionais vêm alertar para o facto de se estarem a sujeitar jovens de 13 e 14 anos a um processo de avaliação de aprendizagem baseado num teste de hora e meia.

Infelizmente continuamos a assistir a um diálogo de surdos entre Ministério da Educação e as estruturas profissionais que representam os docentes, com ambas (e principalmente as últimas) a esquecerem que a finalidade do sistema educativo é a de proporcionar aos jovens meios e ferramentas orientadas para a aquisição de conhecimentos e formação de competências. As escolas deverão existir para formar jovens que deverão ao longo do tempo de permanência nelas adquirir o maior volume possível de conhecimentos e competências e os docentes (e demais profissionais de educação) deverão ser os agentes difusores e catalizadores desse conhecimento.

Contrariamente ao que pretendem as associações profissionais e muitas estruturas representativas dos encarregados de educação, não vejo que da realização regular de exames a todas as disciplinas possa resultar qualquer prejuízo para os jovens; pelo contrário, prejudicial é a situação que se tem vivido em que os jovens apenas realizavam exames no 12º ano (exames estes fundamentais para a continuação de estudos), apresentando-se a estes sem qualquer preparação ou experiência anterior.

Só quem queira manter uma situação de benefício pode conscientemente defender a ideia de que os jovens não devem ao longo do seu percurso académico ser submetidos a exames regulares, como se na vida profissional que os aguarda estes não venham a ser submetidos a situações de idêntico grau de «stress» e com uma forte probabilidade do grau de “injustiça” ainda ser maior.

Como se não bastasse este tipo de problemas e de abordagens para falar no despudorado à vontade com que entre nós se abordam questões tão fundamentais como a educação (sejam os seus resultados sejam os métodos aplicados), ainda assistimos nos últimos dias à continuação do processo de demolições, da responsabilidade da Câmara Municipal da Amadora, na Azinhaga dos Besouros.

Independentemente da justeza da decisão da autarquia e do seu empenhamento em reduzir a elevada quantidade de habitação clandestina que existe na área da sua jurisdição, o que ninguém de boa fé pode negar é que imagens como aquelas a que nos foi dado assistir parecem mais extraídas de uma qualquer acção de desalojamento de colonos judeus ou de palestinianos decretada pelo governo israelita, que de iniciativas seriamente ponderadas, devidamente preparadas e nas quais as famílias desalojadas sejam reencaminhadas para novas habitações ou soluções alternativas humanamente dignas e aceitáveis.

Por maior razão que os responsáveis da autarquia possam ter, fazer acompanhar acções daquele tipo de um vasto aparato policial apenas serve para oferecer argumentos aos que contestem o desalojamento e aos que sempre atiram a responsabilidade pelos desmandos e desacatos às minorias que continuamos a ver viver em condições degradantes nos subúrbios das nossas principais cidades.

Que haja necessidade de introduzir planeamento no caótico tecido urbano do concelho da Amadora só duvidará quem nunca por lá tentou circular, mas nada obriga a que as famílias desalojadas sejam tratadas da forma que agora vimos. Depois também não é de estranhar que logo tenham surgido vozes a contestar a iniciativa, baseadas no simples facto de que a urgência do desalojamento resulta da necessidade de abrir uma estrada de acesso a uma moderna área comercial.

Verdade ou mentira, em breve tiraremos a dúvida!

Certo, para já, é que tudo isto continua a ocorrer no país de brandos costumes que somos todos nós!