terça-feira, 26 de novembro de 2013

ACORDOS E DESACORDOS

Depois dum primeiro fracasso das negociações sobre o programa nuclear iraniano anunciado em meados do mês, eis que no passado fim-de-semana as «Potências mundiais e Irão chegam a acordo sobre nuclear».

O acordo firmado entre o Irão e as potências com lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China) e a Alemanha, consagrará a limitação do enriquecimento de urânio a 5% (abaixo do limite dos 20% necessários à produção de armamento), a suspensão da construção da central de Arak (unidade que poderia produzir outro importante componente militar, o plutónio) e, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, o início das inspecções da Agência Internacional de Energia Atómica ao programa nuclear iraniano, condições que responderão à exigência francesa que terá estado na origem do fracasso da ronda anterior.

Na altura, Paris fez saber que existiriam quatro pontos – controlo internacional da totalidade das instalações nucleares, a suspensão do enriquecimento de urânio a 20%, a redução daquele tipo de urânio já existente e a suspensão da construção da central de Arak – sem os quais não haveria acordo; as notícias da altura não referiam que a recusa iraniana resultasse daqueles pontos, antes o facto das condições francesas irem além do texto americano, deixando pressupor que os «EUA e Irão tiveram discussões secretas antes do acordo» e a manutenção das condições para um acordo a curto prazo.

Duas semanas volvidas, depois de “limadas algumas arestas” e concluída a visita do Presidente francês, François Hollande, a Israel (a verdadeira razão para o adiamento forçado pela França), eis que surgiu o acordo agora anunciado e que nas palavras de Obama torna o mundo mais seguro”, por um prazo de seis meses.

Quem não partilha a mesma opinião é o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que prontamente afirmou que o «Acordo de Genebra é "erro histórico"», comentário em que foi secundado por outros responsáveis judaicos que ao declararem «Israel preparado para “agir sozinho” contra Irão» contrariam seriamente a perspectiva deixada por uma administração norte-americana talvez mais preocupada com as hipóteses de saída airosa do Iraque e do Afeganistão ou até com o desenvolvimento da crise síria, que com o “aliado” israelita. É verdade que se o «Acordo nuclear histórico entre o Irão e os EUA, deixa Israel isolado», esta é uma realidade que o regime judaico poderá usar em benefício próprio, tanto mais que já em tempo se afirmara «preparado para “agir sozinho” contra Irão».

Descontada a euforia das primeiras declarações e a ideia de que todos saíram a ganhar dum acordo de curto prazo, se o Ocidente pode afirmar que este foi um importante passo para a contenção dum Irão dotado de armamento nuclear, enquanto do lado iraniano foi obtido o levantamento temporário das sanções económicas que têm asfixiado a sua economia (quando «Pequim saúda acordo de Genebra sobre programa iraniano» não está apenas a usar uma fórmula diplomática mas também a expressar verdadeiro contentamento por poder passar a adquirir “legalmente” o petróleo iraniano) e reconhecido o direito à produção de urânio para fins não militares, parece exagerado afirmar, do ponto de vista israelita que o «Irão conseguiu o que queria e que acordo nuclear de Genebra é mau», pois não só poderá deixar Israel mais livre para uma iniciativa isolada contra as instalações nucleares iranianas como para continuar a sua política de asfixia palestiniana através da expansão dos colonatos em territórios palestinianos.

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