quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A LIBERDADE DO ESPANTALHO


A passagem de mais um aniversário dum episódio marcante na História ibérica – não tivessem os castelhanos sido derrotados em Aljubarrota e quiçá a iniciativa de expansão marítima europeia teria sofrido um significativo atraso enquanto a ausência do ouro sul-americano teria inviabilizado financeiramente o império erguido por Carlos V – pode constituir um boa oportunidade para reflexão sobre as actuais necessidades de defesa. Isso mesmo fizeram ontem Adriano Moreira e Viriato Soromenho-Marques nas páginas do DN; de forma mais directa (Soromenho-Marques em «Sessenta minutos») ou indirecta (Adriano Moreira em «A prontidão da defesa») pretenderão ambos alertar para a necessidade de discussão dum tema habitualmente malquisto da classe política nacional e europeia, mas que, como tantos hoje banidos do debate de ideias, se reveste de capital importância, porque questões como a defesa não podem ser delegadas em espantalhos.


A realidade mundial (e em particular a sucessão de acontecimentos, designados por Primavera Árabe, na zona do Mediterrâneo onde no situamos) mais do que justifica uma clara definição do papel e das capacidades com que cada estado entende dotar o seu aparelho de defesa; mesmo deixando para outra oportunidade o debate sobre o papel da Europa (leia-se uma União Europeia resultante da vontade dos povos e organizada para sua defesa e progresso) num sistema de alianças militares ditado pela realidade dum pós-guerra ultrapassado, poucos poderão conscientemente refutar a necessidade duma verdadeira estrutura militar que, assegurando a defesa da UE alcance igualmente a capacidade de projectar força nos cenários que o justifiquem.

Já escrevi em anteriores ocasiões (nomeadamente em Dezembro de 2011 no “post” «OS DEZ PROBLEMAS DO EURO» ou mais remotamente em Novembro de 2006 no “post” «O SMO, A UNIÃO EUROPEIA E PORTUGAL (onde nos pode levar um simples texto de Vasco Graça Moura)») a importância que atribuo à formação dum exército único europeu, quer do ponto de vista político-militar quer do ponto de vista económico, questão que na actual conjuntura adquire maior premência, pois num momento em que é real a pressão para a contenção dos gastos públicos nada melhor que o recurso às economias de escala que uma solução militar do tipo federal pode proporcionar para garantir ao conjunto dos intervenientes as capacidades que isoladamente não poderiam alcançar, a menos que o real objectivo dos poderes instalados inclua precisamente a desistência das liberdades…

Sem comentários: