Enquanto diariamente jornais e televisões um pouco por todo do Mundo vão continuando a noticiar os acontecimentos no Egipto e, no caso da maioria dos do ocidente se manifestam claramente em apoio dos egípcios que exigem na rua a demissão imediata de Hosni Mubarak, desde o início da crise que se encontra em funcionamento a “rede” que tece a teia que sustentará o futuro daqueles que no Cairo e em Alexandria anseiam por determinar.
Se dúvidas ainda houvesse sobre os interesses e os actores que em segundo plano preparam o cenário futuro, bastaria ler esta notícia do THE NEW YORK TIMES que há precisamente uma semana noticiava que o ex-embaixador Frank G. Wisner fora enviado por Barack Obama ao Cairo para falar directamente com Mubarak.
Conhecido o perfil do ex-embaixador norte americano no Cairo e recordando que este foi o elo de ligação entre os EUA e o Egipto de Mubarak durante a Guerra do Golfo (quando o Egipto alinhou ao lado do exército dos EUA para a libertação do Koweit), que é por muitos apontado como o mentor junto do ditador egípcio das políticas do FMI que no início da década de 1990 começaram a ser aplicadas à economia egípcia e que muito contribuíram para a transformar num país onde cerca de 50% dos seus 80 milhões de habitantes vive abaixo do limiar de pobreza, que foi um dos tentáculos da administração de George W Bush que esteve por detrás da independência do Kosovo, parecem restar poucas dúvidas de que a escolha de Obama não poderia ser mais clarificadora, nem o desenrolar dos acontecimentos – com a administração norte-americana a falar na necessidade de mudança de regime e a réplica do Cairo a acentuar a ideia da permanência até às eleições – diverso do que temos assistido.
Frank G Wisner, que além do currículo de embaixador conta ainda com a esclarecedora filiação à escola da CIA (o seu pai e homónimo foi um dos cérebros por detrás do plano norte-americano que em 1953 derrubou o legítimo governo iraniano de Mohammed Mossadegh e o substituiu pelo regime autocrático e pró-ocidental do Xá Reza Pahlevi) e aos seus métodos de actuação, deverá ter afinal proporcionado a Mubarak a informação necessária para este manter o braço-de-ferro que garanta a instabilidade social e económica necessária para que uma vez mais a solução e a sucessão surjam do interior do aparelho militar.
Contrariando a ideia apresentada por Howard LaFranchi, há uma semana neste artigo do THE CHRISTIAN SCIENCE MONITOR, de que este movimento no Egipto constituiria uma validação da tese de George W Bush sobre a expansão da democracia no Médio-Oriente, o prolongamento da aparente agonia do regime de Mubarak – pelo menos é assim que a esmagadora maioria dos órgãos de comunicação ocidentais descrevem a situação – é isso mesmo, aparente, porque quase seguramente logo que esteja encontrada a figura que preencha as condições ditadas por Washington e por Tel-Aviv (quer no plano político quer no económico), a cena mudará de feição e o novo poder se encarregará de silenciar as aspirações daqueles que hoje clamam nas ruas por mudanças e por melhores condições de vida.
Infelizmente isto não é futurologia nem um mero palpite formulado com base em notícias aparentemente pouco importantes; isto é a realidade que começa a ver a luz do dia em notícias com a de que «Protestos no Egipto não serão tolerados muito tempo» e a que já assistimos em anteriores ocasiões e na própria pele... (ou haverá quem acredite que o desenrolar dos acontecimentos em países como Portugal, a Espanha ou a Grécia durante o último quartel do século passado não foram cuidadosamente “pilotados” a partir de Washington?)
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