Embora não tenham faltado nos últimos dias notícias sobre um muito próximo aumento do preço do pão, poucas têm sido as que colocam a questão de forma adequada. Os industriais do ramo justificam os aumentos refugiando-se no argumento da subida do preço mundial das matérias-primas, que esta notícia parece confirmar.
Sucede porém que, como muito bem se refere no fecho desta notícia do ECONÓMICO, «...a recente subida de preços das “commodities” agrícolas em termos internacionais a ter impacto este ano, só "será reflectido dentro de 3 a 6 meses". Uma situação que se justifica pela forma como se processa a negociação de matérias-primas nos mercados internacionais: através de contratos de futuros e de “forwards”»; mais, o pico registado nos mercados internacionais coincidiu com a notícia da suspensão das exportações de cereais russos, na sequência da seca e dos fogos que têm atingido aquele país.
Na prática o indicador que as associações industriais do ramo da panificação estão a utilizar para justificar a pretensão dos aumentos não constitui mais que uma consequência da especulação que de pronto se abateu sobre o mercado dos cereais logo que foi conhecida a decisão russa.
E para provar que tudo o que se tem dito não passará de uma mera manobra, recordo que simultaneamente se fizeram ouvir apelos à liberalização das importações de cereais dos EUA e do Canadá (como refere esta notícia do PUBLICO), prática que introduzirá nos mercados europeus aos OGM que aquele países produzem.
Na prática a verdadeira preocupação dos industriais da panificação não é o aumento do custo da matéria-prima (que a verificar-se apenas ocorrerá num período de seis meses) mas sim a possibilidade de importação de matéria-prima mais barata mas de questionável efeito para a saúde pública.
Se nos tempos do velho Império Romano foi sobejamente testado o princípio do “panem et circenses” com o importante objectivo de manter controlada a populaça, como então se dizia (hoje ainda se diz em alguns círculos, mas não é politicamente correcto…), como qualificar hoje esta estratégia, que podia bem ser designada de “pão e oportunismo”?
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