Anunciado na Assembleia Geral da ONU da passada quinta-feira, com a habitual pompa e circunstância, eis-nos a viver um período de doze meses durante o qual é suposto que os poderes mundiais dediquem parte significativa da sua atenção a resolver os problemas que afectam directamente os mais jovens.
Ironicamente, ou não, simultaneamente com as notícias da iniciativa surgiram outras sobre o mais recente relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre a situação dos jovens no mercado de trabalho e o cenário apresentado não podia ser mais chocante. Segundo aquele documento entre 2007 e 2009, surgiram em todo o mundo mais 7,8 milhões de desempregados entre os 15 e os 24 anos de idade elevando o número de jovens desempregados aos 80,7 milhões, número que representa 13% da população activa daquela faixa etária.
E não se pense que este é um problema das economias menos desenvolvidas, pois é nas mais desenvolvidas que a taxa atinge os valores mais altos (17,7%) e as perspectivas da OIT para o ano em curso apontam para que se alcancem os 19%, nem que a situação portuguesa é sequer semelhante, pois segundo dados do INE (consultáveis aqui) aquela taxa atingiu no primeiro trimestre deste ano os 22,7%.
Perante dados desta natureza que poderemos esperar do Ano Internacional da Juventude? Salvo as habituais iniciativas mediáticas que terão os governantes para oferecer a estes jovens?
Pior, teremos nós, a geração que os originou e que conduziu os destinos das economias ao ponto em que estamos, capacidade para os compensarmos e não originarmos, como há dias escreveu no seu editorial o LE MONDE, uma «geração perdida»?
É que aos mais de 80 milhões de jovens desempregados é preciso juntar ainda os 152 milhões de jovens (cerca de 28% da população activa daquela faixa etária) que recebem um salário inferior a UM EURO diário. Embora esta realidade extrema nos possa parecer estranha, confortados que estamos com a fixação de um salário mínimo nacional de 475€, não podemos esquecer que mesmo assim grande número dos jovens portugueses sofrem do mesmo fenómeno de exclusão social, pois comparativamente com as faixas etárias mais velhas apresentam melhores níveis de escolaridade e auferem salários invariavelmente inferiores.
Sobre este fenómeno já em Julho de 2007 escrevia a jornalista Carla Aguiar no DN que o «....afunilamento do mercado de trabalho, com a economia deprimida e a administração pública a reduzir contratações, está a empurrar cada vez mais jovens para o desemprego ou para o trabalho ocasional. As escassas oportunidades de emprego [...] surgem em regime de trabalho temporário, com contratos renováveis de três meses. Muito em particular, no sector dos call centers, onde mais têm crescido as ofertas de trabalho, empregando já cerca de 50 mil pessoas. Porém, apesar de as licenciaturas serem comuns nos centros de atendimento de chamadas, os salários são baixos e incertos. É a chamada "geração dos 500 euros"» e esta situação em pouco ou nada se alterou desde essa data. Os nossos jovens continuam a sair das escolas e ser submersos num mundo laboral onde há muito deixaram de imperar critérios de conhecimento e qualidade para passarem a vigorar o compadrio e o nepotismo agora agravados pela precariedade e pelos baixos salários que a crise tão generosamente oferece ao exército de desempregados que gerou.
A última esperança que me resta é que a apreciação do LE MONDE seja demasiado pessimista e que os jovens de agora ainda consigam superar as suas actuais dificuldades de forma idêntica à que nós conseguimos na década de 80 e que eles, ao contrário de nós, consigam proporcionar aos filhos uma economia (e uma sociedade) melhor que a que nós construímos para eles.
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