Começando por Paul Krugman, prémio Nobel de Economia, que assegura que «[o] maior problema da Zona Euro não é a Grécia, é a Espanha», ponto de vista que explica no seu mais recente artigo no NEW YORK TIMES, que muito a propósito intitulou «The Making of a Euromess» e que no essencial avança a tese de que a conjugação de modelos de desenvolvimento assentes no crescimento imobiliário, financiados por capitais estrangeiros e em economias sem controlo cambial (como sucede na Zona Euro) dificilmente poderiam ter evitado a actual situação e continuando com a infeliz intervenção do comissário europeu da Economia, Joaquín Almunia, que ao afirmar que «Grécia, Portugal, Espanha e outros países da Zona Euro partilham alguns problemas. Nestes países podemos observar uma perda permanente de competitividade desde que se tornaram membros da União Económica e Monetária» forneceu argumentos para que o custo do financiamento daqueles estados fosse agravado.
Tentando remediar os efeitos de afirmações daquele jaez, veio dias depois a público o presidente do Eurogrupo e primeiro-ministo luxemburguês, Jean-Claude Junker, assegurar que «Espanha e Portugal não representam qualquer risco para a estabilidade da Zona Euro»; afirmação que os agentes dos mercados de capitais entenderam como sinal de que o Eurogrupo estaria disposto a apoiar a debilitada economia grega, como aliás se veio a verificar na cimeira que teve lugar no final da semana passada[2].
Se a nível externo esta questão originou óbvia agitação, que dizer a nível interno quando o governo de José Sócrates acabou por anunciar um défice em 2009 acima dos 9% e superior ao previsto em quase 1%; a urgência e a delicadeza da situação obrigou o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, a desdobrar-se em entrevistas (inclusive a meios de comunicação estrangeiros) e declarações como a que denuncia que «[m]uitos dos problemas que estamos a enfrentar estão relacionados com erros de avaliação que foram cometidos pelas agências de rating. Não podemos estar sujeitos a estratégias comerciais que têm como objectivo aumentar a sua quota de mercado». Talvez por sentir o perigo para o conjunto do sistema financeiro português e para o próprio banco que dirige, Ricardo Salgado, presidente do Grupo Espírito Santo, veio em socorro do ministro perguntando: «Porque raio é que as agências de rating dizem que a Grécia e Portugal são a mesma coisa, porque é que consideram que as nossas economias estão interligadas ao ponto de quererem explicar que o problema grego é idêntico ao português? E não é».
O interessante no meio de tudo isto é que todos os citados revelam conhecer razoavelmente bem as razões pelas quais ocorre esta súbita desconfiança dos mercados de capitais; Krugman avança com uma explicação eminentemente técnica, Almunia diz, como na célebre história de Hans Christian Andersen[3] o que toda a gente já sabia e Teixeira dos Santos e Ricardo Salgado apontam baterias mais às consequências do problema que à sua real origem.
No essencial todos têm razão, mas nenhum avança uma hipótese de solução (salvo Paul Krugman que preconiza o aprofundamento do processo de União Económica por forma a permitir que as transferências entre regiões atenuem os efeitos originados na existência de uma moeda única sobre a qual cada uma das regiões isoladamente não dispõe de mecanismos de influência) que aponte para a que se afigura mais apropriada: a recuperação da preponderância da esfera pública na emissão de moeda e a retorno à prática de uma política de apertada vigilância e controlo da actividade financeira, expurgando-a tanto quanto possível das práticas meramente especulativas.
Até o reputado político e eminente economista, que é o Presidente da República, Cavaco Silva, foi citado dizendo que: «Os mercados tentam encontrar um alvo para realizar ganhos. É uma actuação condenável, mas uma realidade que os países não conseguem contrariar», afirmação que não passa de uma lamentável confissão da incapacidade dos políticos para enfrentarem o problema que, com as suas políticas de sistemática redução do papel dos poderes públicos, ajudaram a criar
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[1] A revista em causa é a VISÃO, nº884, de 11 de Fevereiro.
[2] Uma das notícias que talvez resuma melhor as conclusões é esta do JORNAL DE NEGÓCIOS.
[3] Hans Christian Andersen (1805 — 1875) foi um poeta e escritor dinamarquês de histórias infantis. As origens humildes da família, o pai era sapateiro, levou a que tivesse dificuldades para concluir a sua instrução; escreveu peças de teatro, contos e histórias, mas tornou-se mundialmente célebre graças aos seus contos infantis, entre as quais se contam «O Soldadinho de Chumbo» e a «A Pequena Sereia».
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