O absurdo não resulta apenas do facto de há muito o trabalho ter deixado de constar entre as actividades que enobrecem o Homem, substituído pelo expediente fácil e o enriquecimento sem causa, mas também das lamentáveis políticas que foram minando os recursos e uma justa melhoria da qualidade de vida aos que continuam a praticar a honesta tarefa de ganhar o sustento diário graças ao seu esforço pessoal. E não uso esta figura de estilo senão para tornar ainda mais evidente o que distingue os que usam as suas capacidades (sejam elas de natureza física, intelectual ou de empreendorismo) para produzirem riqueza, dos que usam meros expedientes ou influências para a obtenção de ganhos.
Quando há décadas se assiste à paulatina degradação do poder de compra dos assalariados e se viu florescer eminentes impérios industriais e comerciais apoiados na protecção dos governos que o que deviam era terem assegurado uma melhor redistribuição da riqueza que se dizia existir, quem pode, de boa fé e cara descoberta, afirmar que se assinala hoje uma data relevante?
Que novos embustes nos esperam nos discursos (e nas práticas) daqueles que, eleitos para representarem e defenderem os interesses de um Estado, hoje se farão ouvir para louvar o Dia do Trabalhador?
Que novas benesses distribuirão entre os mais favorecidos enquanto anunciam novas medidas de protecção aos que mais estão a sofrer com uma crise económica para qual pouco ou nada contribuíram?
Iremos conhecer de pronto a resposta a esta dúvida! Mas... e as que diariamente formulamos sobre as crescentes incertezas quanto ao nosso futuro próximo? Continuaremos a assistir à sistemática corrosão da sociedade por aqueles que tudo lucram e nada partilham ou lograremos, ao invés, pôr um travão a este estado de coisas!
Para isso não poderemos continuar a confiar no sistema político-económico que permitiu o alcandorar no poder de um grupo de arrivistas, vazio de outros interesses que não a sua autopreservação.
Com a aproximação de um ciclo eleitoral alargado e quando atravessamos uma profunda crise económica que está a pôr a nu o que aquele grupo representa de mais desprezível, se nada fizermos, estaremos a desperdiçar uma excelente oportunidade para alterar um rumo que manifestamente não nos serve.
É indispensável aproveitarmos a oportunidade que a evidente falência do modelo de desenvolvimento económico neoliberal nos proporciona e exigirmos dos políticos que pretendam representar-nos programas e compromissos claros, ideias concretas e devidamente fundamentadas e não tolerarmos mais os discursos pomposos e plenos de promessas mas vazios de métodos e os discursantes que dizem agora o contrário do que já disseram. Cansados de logros e demais estratagemas devemos mostrar aos que nos têm conduzido até ao precipício que apenas lhes resta saltar... mas sozinhos, porque o nosso rumo é outro bem diverso.
Perdida a hipótese de voltarmos hoje a ter um 1º de Maio como o de 1974, quando milhares e milhares de portugueses desfilaram pelas ruas do país chorando a alegria e cantando a revolta, esta é a oportunidade para exigirmos àqueles que elegermos um compromisso e um rumo diferentes. Um compromisso de seriedade e de vontade de trabalharem em prol da maioria e um rumo que decididamente nos oriente numa via de crescimento e de respeito entre todos, na qual os ganhos desproporcionados de uns quantos não sejam os prejuízos da vasta maioria condenada a sobreviver nas infames margens da opulência dos primeiros.
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