Cada vez parece mais generalizada a ideia de que os políticos perderam os poucos restos de dignidade que ainda havia quem lhes reconhecesse. Já não são apenas aqueles – muitos – que prometem mundos e fundos para alcançarem a eleição e que após esta rapidamente esquecem esses compromissos, mas também os que “esquecem” os princípios que os terão colocado nos cargos que ocupam.
Embora pudesse estar a referir-me à generalidade dos políticos nacionais, o que hoje me levou a pegar neste tema foram algumas notícias recentes em torno da condenação à pena capital de um jovem afegão, estudante de jornalismo e colaborador de um jornal local, por ter difundido um texto sobre o islamismo e a condição feminina e o facto do presidente afegão, escolhido pelos americanos pelas suas posições pró ocidentais já se ter manifestado favorável àquela condenação.
Embora pudesse estar a referir-me à generalidade dos políticos nacionais, o que hoje me levou a pegar neste tema foram algumas notícias recentes em torno da condenação à pena capital de um jovem afegão, estudante de jornalismo e colaborador de um jornal local, por ter difundido um texto sobre o islamismo e a condição feminina e o facto do presidente afegão, escolhido pelos americanos pelas suas posições pró ocidentais já se ter manifestado favorável àquela condenação.
A reprodução e distribuição de um texto de origem iraniana, encontrado na internet, valeram ao jovem Sayed Perwiz Kambakhsh a acusação de blasfémia e de difusão de comentários difamatórios sobre o Islão. Detido em Outubro de 2007 foi julgado por um tribunal de Mazar-i-Sharif, localidade na província de Balkh, que lhe terá recusado a devida defesa por um advogado e que em 22 de Janeiro o condenou à morte, não importando sequer o facto de não ser o autor do texto.
A ONG REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS tem-se desdobrado em esforços para divulgar esta situação[1] e tentar influenciar a comunidade internacional a intervir em benefício de Kambakhsh enquanto denuncia a hipótese do verdadeiro alvo da perseguição ser Sayed Yaqub Ibrahimi[2], irmão do condenado e também ele um jornalista que se tem destacado na denúncia da corrupção e de violações dos direitos humanos na região.
Caso fracassem as tentativas de apelo, a sentença de morte poderá ainda ser comutada pelo presidente afegão, Hamid Karzai, mas o facto deste já se ter manifestado favorável à sentença minimiza as suas hipóteses de sucesso[3] enquanto levanta uma importante questão: até que ponto Karzai estará disposto a enfrentar os dogmas religiosos?
Esta é uma questão de fundamental importância, para o caso concreto em análise e para um melhor entendimento das razões e consequências da intervenção americana no Afeganistão. Se Karzai se revelar um líder titubeante, algo que já revelou ser em inúmeras outras situações e questões, como poderão os EUA esperar dele uma eficaz oposição aos fundamentalistas islâmicos – personificados no Afeganistão pela organização taliban – e qualquer sucesso à tão apregoada luta contra o extremismo?
Será, então, que o verdadeiro objectivo da ocupação do Afeganistão não foi a destituição dos talibans, mas talvez e tão somente a criação de uma nova oportunidade de negócio para o complexo militar-industrial norte americano e para as inúmeras empresas a quem o Pentágono tem subcontratado o esforço de guerra?[4]
Ou, mais simples ainda, para o lucrativo negócio das opiáceas?
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[1] Na página internet da ONG encontram-se notícias sobre o assunto, aqui e aqui e apelos à libertação do jovem afegão.
[2] Esta mesma ideia é corroborada nesta notícia da CNN.
[3] Até ao desenlace final a dúvida é pertinente, embora a própria página da REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS refira num artigo recente que Karzai transmitiu a uma delegação de jornalista afegãos sinais positivos sobre a matéria.
[4] De acordo com uma notícia do LE MONDE, em Novembro de 2007 havia 140 empresas de segurança a operar no Afeganistão, das quais apenas 90 eram identificáveis e não mais de 35 se encontravam devidamente reconhecidas pelo ministério do interior afegão.
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