sábado, 25 de julho de 2015

FUGIR A BOCA PARA A VERDADE

Depois de na véspera nos ter dado notícia que em jeito de auto-elogio e promoção o «Governo faz balanço da legislatura», eis que o NEGÓCIOS publicou ontem uma notícia segundo a qual aquele documento conterá uma gralha quando é dito no mesmo «Balanço do Governo diz que os ricos foram “muito menos afectados” pela crise».


É evidente que a afirmação só poderá ser uma gralha, pois ninguém na entourage de Passos Coelho ou Paulo Portas se atreveria a escrever semelhante barbaridade que contradiz em absoluto tudo o que um e outro não se cansam de afirmar, e mais vale admitir a distracção (gralha) que um erro que só poderia resultar da confissão que algum perigoso “radical de esquerda” terá infiltrado alguma acessória tão cândida e cuidadosamente reservada para os mais subservientes dos “jotas”.

O pior é que a justificação remete para uma notícia de 2014 sobre um relatório do FMI, segundo a qual a «Austeridade em Portugal cortou aos mais ricos o dobro do que tirou aos mais pobres». Mas o que é isto que realmente dizer?

Para compreendermos o que isto quer dizer, vejamos um quadro comparativo das alterações no rendimento disponível das famílias entre 2008 e 2012, tal como então publicou o próprio NEGÓCIOS:


A primeira constatação é que, tal como no caso da Letónia, o número de escalões de rendimento é metade dos restantes parceiros de comparação (algo que revela claramente a baixa progressividade do sistema fiscal português), depois comparar uma quebra no rendimento da ordem dos 10% (para os rendimentos mais elevados) com os mais de 5% perdidos pelos rendimentos mais baixos traduz fielmente o título da notícia – os ricos perderam o dobro dos mais pobres – mas não refuta que estes tenham sido mais afectados que os primeiros, pois é muito mais penoso perder 20 ou 25€ de rendimento para quem recebe 400€ mensais – que o obrigará a deixar de comprar alguns bens de primeira necessidade - que perder 2 ou 3 mil para quem recebe mensalmente 20 ou 30 mil euros e apenas se verá “obrigado” a deixar de trocar de carro todos os anos.

Afinal o pobre do “jotinha” que escreveu o parágrafo da gralha tinha razão: os ricos foram muito menos afectados pela crise! Todos o sabíamos desde o início (o próprio estudo do FMI era dispensável)… não se pode é dizê-lo!

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