quarta-feira, 22 de julho de 2015

A ESPUMA DOS DIAS

A notícia de que o «Ministério Público brasileiro investiga Lula da Silva» e que na sua mira estarão alguns contactos mantidos com responsáveis portugueses, já levou a uma reacção onde o primeiro-ministro «Passos Coelho garante que "Lula da Silva nunca veio pedir uma cunha"», merece uma observação diversa da que a imprensa lhe tem dado.


Tudo terá começado com uma investigação da polícia brasileira (Operação Lava Jato) sobre uma rede de branqueamento de capitais, que acabou por se alargar a casos de suborno, envolvendo grandes empresas, como a petrolífera brasileira – Petrobras – e a construtora Odebrecht, e tráfico de influências que engloba um número crescente de políticos influentes. A recente denúncia do envolvimento do ex-presidente brasileiro, Luís Lula da Silva, colocado sob investigação por suposto tráfico de influências justifica de imediato a formulação de dúvidas sobre uma prática que neste país e nos últimos tempos muito tem sido louvada: a da diplomacia económica.

Qual a fronteira (se é que existe) entre o “interesse nacional” e o interesse das empresas nacionais?

A que título pode um governo que nunca revelou qualquer plano estratégico para o país que é suposto dirigir, como é o caso do governo de Passos Coelho, praticar uma “diplomacia económica” (de que o vice-primeiro-ministro Paulo Portas tanto se ufana e vangloria) não subordinada a interesses particulares?

Assente a espuma dos dias agitados que vivemos, quando a integridade e uma clara separação de interesses deixou de ser característica principal dos dirigentes, qual será o julgamento que História fará dos políticos que vivem neste “fio da navalha”? Qual o futuro dos Loureiros, dos Varas e doutros Portas (todos impolutos campeões da facilitação e da diplomacia económica), quando a ombridade voltar a ser um valor basilar na sociedade e em especial naqueles que asseguram a gestão da res publica?

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