sexta-feira, 10 de abril de 2015

COMO ALMADA

Embora ainda recentemente (ver o “post” «LIBERDADES E PRÁTICAS ESCANDALOSAS») tenha manifestado a minha opinião desfavorável ao conteúdo do TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), apresentado como uma solução através da qual a «Economia norte-americana pode salvar mais uma vez uma Europa em depressão», como se na actual conjuntura a finalidade dum acordo de comércio livre fosse a salvaguarda doutro interesse que não o das multinacionais e das grandes fortunas que as financiam – claramente evidenciado na inclusão da famigerada clausula ISDS (Investor-State Dispute Settlement) que garantirá às grandes empresas o recurso a tribunais especiais para resolver eventuais conflitos com os Estados –, como se ainda se mantivesse intacta a capacidade imperial de Washington, ou à forma camuflada do grande público como tem sido “negociado”, uma notícia do NEGÓCIOS, que atribui a Durão Barroso a afirmação que o «Impacto de acordo entre EUA e UE "será sentido muito além da economia"» leva-me a recuperar o tema.


É claro, para quem tenha acompanhado o percurso político e a evolução do “pensamento” dum personagem menor que fruto de circunstâncias alheias (ter sido escolhido para anfitrião da cimeira Bush-Blair que decidiu a famigerada invasão ocidental do Iraque) se viu alcandorado à duvidosa tarefa de catalisador da decadência da UE de que foi condutor, que o sentido da afirmação se encontra nos antípodas do que uma leitura apressada possa sugerir. O personagem não pretende alertar os cidadãos para o claro aviso deixado pelo estudo da Fundação Austríaca para Investigação do Desenvolvimento (OFSE na sigla alemã) que, como referi no “post” «O PROBLEMA EUROPEU», antevê que o acordo terá custos sociais elevados e poucos ganhos em termos de salários reais, empregos e PIB, antecipando mesmo uma redução no comércio entre os países membros da UE em cerca de 30% em resultado do aumento da concorrência das importações baratas dos EUA, importações que na sua maioria têm origem nos países asiáticos para onde as multinacionais (que, repito, se querem eximir ao escrutínio dos tribunais nacionais) deslocalizaram a sua produção; o que faz é repetir o vazio argumento da “dimensão histórica” do acordo, a par com o desgastado “discurso do futuro risonho”.

Em síntese, se um dos principais responsáveis pelo fim que se anuncia para a UE se pronuncia a favor do TTIP, apetece-me parafrasear Almada Negreiros e exclamar como ele o fez a propósito de Júlio Dantas: SE O DURÃO É A FAVOR… EU SOU CONTRA!

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