terça-feira, 11 de novembro de 2014

MIOPIA FORMATIVA

Correu célere a afirmação produzida na passada semana pela chanceler alemã, Angela Merkel, de que Portugal tem licenciados a mais.

Invariavelmente fora de contexto, a afirmação não deixa de merecer reflexão mais aprofundada que uma contestação que se limita a ouvir que o «Ministro da Educação afirma que país não tem licenciados a mais», ou mesmo a servir de justificação para uma troca de acusações entre a oposição e a maioria, como aconteceu quando o «PS pede «posição política» do Governo sobre afirmações de Merkel sobre licenciados».

O cerne da questão não deverá estar na percentagem de licenciados nem em distâncias para as médias europeias (todos sabemos perfeitamente quanto este tipo de comparações pode ser ilusório), antes na qualidade e na capacidade do País aproveitar plenamente as juventudes que tem formado. Discutir se os jovens devem optar pelo ensino profissional ou pelo universitário pode facilmente descambar no desfilar de argumentos populistas ou elitistas, especialmente quando nunca se equaciona nem se formaliza um plano de desenvolvimento a médio prazo para uma economia que além dos óbvios sinais de debilidade apresenta características pouco motivadoras para investidores e trabalhadores.

Verdadeiramente preocupante é saber que «Portugal é um dos países da OCDE onde a percentagem de jovens que não estudam nem trabalham mais tem crescido», num sinal de total ausência de políticas de desenvolvimento sustentadas na mais elementar necessidade de visão estratégica, ou ver «Portugal entre os dez países da Europa com pior classificação na Educação».

Esqueçamos os pomposos apelos governativos ao empreendedorismo (o que quer que seja que tal significa) num país que continua a evidenciar-se sem sinais de recuperação na formação bruta de capital fixo (indicador das contas nacionais que mede o investimento em activos corpóreos e incorpóreos e que, segundo o PORDATA, regista o valor mais baixo dos últimos 50 anos), propagandeando a necessidade de promover estratégias de excelência e de qualidade mas onde regularmente chegam a público notícias como esta que assegura que «Banco de Portugal contratou por convite filho de Durão Barroso».

Mesmo neste clima de farsa, mais importante que formar, ou não, “doutores” (no jargão popular), apostar, ou não, numa via de ensino profissional, será discutir desde já o futuro dos jovens que estão a entrar no primeiro ciclo de escolaridade, competindo aos poderes estabelecidos (Governo e Assembleia da República) esclarecer se o que os aguardará serão empregos precários e mal remunerados como os que agora estão a ser oferecidos aos jovens que tentam entrar no mercado de trabalho.

Neste sentido, a afirmação de Angela Merkel pode ganhar outra dimensão, facto que não lhe reduzindo a pontinha de arrogância até serviu para se recordarem fenómenos recentes:


que além de porem em evidência a bacoquice lusa espelham na perfeição a atávica incapacidade das elites governantes.

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