terça-feira, 4 de novembro de 2014

CITIUS OU PARADIUS?[i]

Com mais uma “reforma da Justiça” como pano de fundo, conduzida ao que tudo indica com a habitual falta de tacto e de capacidade de diálogo entre todos os intervenientes, não será de estranhar que andem agitados os ares, tanto mais que à mudança se juntou o colapso da aplicação informática que serve de base ao funcionamento do processo judicial.

À falta de diálogo tem sobejado alguma altivez (mesmo quando mal disfarçada por um pedido de desculpas formal), não faltando sequer insinuações, especialmente quando a «Ministra da Justiça diz que está a "apanhar" porque mexeu em interesses».


Após umas primeiras declarações referindo a existência de «Suspeitas de crime no 'crash' do Citius», rapidamente surgiu a notícia que a «Ministra da Justiça acusa dois técnicos da Judiciária de sabotagem do Citius». Notificada a PGR daquela suspeita, soube-se quase de imediato que aquela «Procuradoria deixa cair sabotagem no Citius e investiga ocultação de informação», deixando perceber uma abordagem menos radical da acusação e que enqunto os «Funcionários da PJ que trabalhavam no Citius refutam acusações de sabotagem», «negam boicote e garantem que cumpriram ordens», crescem as hipóteses dos “culpados” parecerem cada vez mais meros bodes expiatórios que os perigosos sabotadores inicialmente apresentados.

Só o tempo esclarecerá se o que levou o Citius a bloquear foi o facto dos acusados não terem reportado as limitações da aplicação informática ou se as cúpulas do poder simplesmente preferiram não os ouvir. Esta questão não é displicente – para já o que parece evidente é que a equipa que pretende governar a Justiça afinará pelo mesmo diapasão do resto da estrutura governativa montada pela dupla Passos Coelho/Paulo Portas – um conjunto de pretensos “jovens turcos” imaturos e incompetentes, demasiado apegados a quimeras ideológicas e tão desligados da realidade quanto da experiência que só o exercício de actividades profissionais diversificadas (que não a mera passagem pelas estruturas partidárias juvenis ou seniores) pode proporcionar – mas a sua resposta, como tantas outras, deverá permanecer omissa, tanto mais que reputados especialistas, como o professor José Tribolet (presidente do Instituto Nacional de Engenharia e Sistemas de Computadores - INESC), consideram que foram os «Problemas no Citius gerados por responsáveis "analfabetos"» e que demorará «Um ou dois anos» para o Citius ir ao sítio.

Garantido é que depois dos recentes acontecimentos com a colocação de professores e a abertura do ano escolar, com a redução do número de tribunais e o “crash” do Citius, com o SNS e os tratamentos oncológicos, a gestão da “coisa pública” continua “amarrada por arames”!


[i] Trocadilho entre o nome atribuído à aplicação de gestão processual nos Tribunais Judiciais, que em latim significa “célere” e a situação de bloqueio que o sistema informático viveu (ou vive).

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