quinta-feira, 26 de setembro de 2013

ELEIÇÕES E CANDIDATOS

A aproximação da data das eleições autárquicas e a informação que «Passos critica campanha “sui generis” e quer alterar lei eleitoral», ou mais especificamente que «Passos quer alterar lei para permitir cobertura das televisões à campanha», justifica alguma reflexão sobre o próximo acto eleitoral.

Depois da polémica criada em torno da lei da limitação de mandatos – resolvida com um acórdão onde o «Tribunal Constitucional defende que vontade da lei de limitação de mandatos não é clara» pelo que o mesmo  «Tribunal Constitucional dá luz verde aos candidatos autárquicos com três mandatos» desde que concorram a outra autarquia, devolvendo a sua clarificação para uma Assembleia da República que nada fizera nesse sentido – e do aviso da Comissão Nacional de Eleições para a necessidade da observância do princípio da igualdade de tratamento informativo de todas as candidaturas que levou as televisões nacionais a optarem por reduzir ao mínimo a cobertura informativa da campanha, eis que durante uma acção de apoio ao candidato à Câmara de Sintra, Passos Coelho, na dúbia qualidade de presidente do PSD ou de primeiro-ministro, abriu nova polémica disparando contra a reduzida cobertura televisiva, como se o seu partido fosse um dos mais prejudicados e, salvo o facto das televisões se encontrarem presentes por ali estar o primeiro-ministro e o vice primeiro-ministro, aquele fosse o local e o momento oportuno.

É claro que o reprovável facto de se concentrarem na mesma pessoa as funções de chefe do Governo e dum partido político proporciona uma promiscuidade discursiva a que os políticos não conseguem resistir mas que o eleitorado deveria condenar, especialmente por se tratar de eleições autárquicas, situação em que o protagonismo deveria estar focado nos candidatos locais e onde a sua escolha deveria ser preferencialmente ditada pelo perfil e currículo dos candidatos em detrimento da sua filiação partidária.

Por isso mesmo o afastamento das televisões da campanha eleitoral deveria ter servido de incentivo para a realização de campanhas de esclarecimento de maior proximidade, vantajosas aos candidatos de maior receptividade local, mas que a prática da presença sancionatória de políticos de projecção nacional ofuscou. Salvam-se deste raciocínio as candidaturas independentes que, infelizmente, estão enxameadas de independentes de última hora, ou seja daqueles que por razões várias ou foram rejeitados pelas estruturas partidárias ou com estas se incompatibilizaram.

Transposto para um universo menos cosmopolita, as escolhas que agora se pedem aos eleitores dos quatro cantos do país deveria ser sobre quem orientará o seu quotidiano mais próximo, avaliado pela manutenção das redes viárias e de saneamento e pela gestão serviços de proximidade; porém, o centralismo político partidário, as limitações impostas pelo poder central e, queira-se ou não, a conjuntura depressiva deverão acabar por se sobrepor e muita gente não votará em quem avalia como o melhor candidato local mas em sinal de apoio ou de condenação da coligação no governo. Neste contexto, não fosse o cinismo próprio de quem durante uma acção de campanha em Lisboa produz uma afirmação orientada para apelar ao voto num candidato apoiado por uma coligação que já terá registado maior popularidade e à qual não interessa qualquer alusão à situação geral do país, deveria saudar-se o anúncio de que «Manuela Ferreira Leite separa águas entre eleições locais e nacionais», contribuindo para a distinção entre dinâmicas e estratégias nacionais e locais.



Assim, no início da próxima semana pulularão os comentários aos resultados que, como sempre, esquecerão o essencial da situação: o modelo de contagem dos votos que premeia o conformismo uma vez que não contabilizando os votos em branco como votos válidos facilita todo o processo de escolha não penalizando sequer a falta de capacidade mobilizadora dos candidatos.

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