Cumpridos cinco anos sobre a falência do Lehmans Brothers e a confirmação
de que a crise financeira iniciada pelo rebentamento da bolha do “subprime” estava para durar, ainda não
terminaram as ondas de choque nem se vislumbra que algo de semelhante não se
possa repetir.
Anunciada numa reunião imediata do G20, continua por implementar uma
regulamentação mais rigorosa que ponha cobro ao absoluto desmando que a crise
revelou, que volte a consagrar a separação entre bancos comerciais e bancos de
investimento, que, numa palavra, recupere os valores de confiança e ética num
sector de actividade que nunca deveria ter sobrevivido a expensas (a mais
recente estimativa da Reserva
Federal norte-americana
aponta para um custo entre os 6 e os 14 biliões de dólares) do
sacrifício dos contribuintes.
A recuperação daqueles valores não se deverá resumir à separação de
actividades que garantam maior segurança aos depositantes, antes alargada ao
conjunto da actividade e em especial aos sectores mais permissivos a tentações
especulativas.
A conclusão, é que o pouco que na actualidade mudou no sistema financeiro
não passou de mera cosmética e em reacção à retórica política mais inflamada,
não admirando, por isso, que alguma imprensa conclua que os «Mercados
seguem desregulados 5 anos após falência do Lehman Brothers» ou que «O
mundo ainda não fez tudo para evitar que se repita o drama do Lehman Brothers».
Mais correcto seria realmente reconhecer que enquanto se garantir ao
sector financeiro a permanente disponibilidade de fundos públicos para
recapitalizações necessárias pelos prejuízos resultantes da especulação, que continua
a ser incentivada e premiada pela atribuição de chorudos bónus aos
intervenientes.
Para
além da triste realidade de continuarmos a assistir aos privilégios dos
banqueiros e de sabermos a «Crise
de 2008 sem culpados em Wall Street», seria bem mais tranquilizante não
assistirmos à regular repetição de episódios como o “London whale” (ver
esta notícia do NEGÓCIOS), indiciadores de que tudo continua como antes, nem ao completo fracasso de iniciativas para a
limitação dos bónus financeiros (prática grandemente responsável pela corrida
desenfreada aos ganhos de curto prazo proporcionado pela especulação), como a
registada quando a «União Europeia quer limitar os bónus na banca ao
valor de um salário» mas de
pronto os «britânicos
contestam limites a bónus».
Tudo isto
quando a generalidade da banca mundial vive quase duma caridade pública (os
famigerados resgates sustentados num duvidoso conceito de risco sistémico, como
sucedeu em Portugal com o BPN e o BPP) que é grande responsável pelo aumento do
endividamento público e pelas políticas de austeridade, apresentadas pelos
políticos como indispensáveis, para agradar aos credores que são afinal os
mesmos bancos ou os seus proprietários.
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