terça-feira, 17 de setembro de 2013

CRISE SEM CULPADOS



Cumpridos cinco anos sobre a falência do Lehmans Brothers e a confirmação de que a crise financeira iniciada pelo rebentamento da bolha do “subprime” estava para durar, ainda não terminaram as ondas de choque nem se vislumbra que algo de semelhante não se possa repetir.

Anunciada numa reunião imediata do G20, continua por implementar uma regulamentação mais rigorosa que ponha cobro ao absoluto desmando que a crise revelou, que volte a consagrar a separação entre bancos comerciais e bancos de investimento, que, numa palavra, recupere os valores de confiança e ética num sector de actividade que nunca deveria ter sobrevivido a expensas (a mais recente estimativa da Reserva Federal norte-americana aponta para um custo entre os 6 e os 14 biliões de dólares) do sacrifício dos contribuintes.



A recuperação daqueles valores não se deverá resumir à separação de actividades que garantam maior segurança aos depositantes, antes alargada ao conjunto da actividade e em especial aos sectores mais permissivos a tentações especulativas.

A conclusão, é que o pouco que na actualidade mudou no sistema financeiro não passou de mera cosmética e em reacção à retórica política mais inflamada, não admirando, por isso, que alguma imprensa conclua que os «Mercados seguem desregulados 5 anos após falência do Lehman Brothers» ou que «O mundo ainda não fez tudo para evitar que se repita o drama do Lehman Brothers».

Mais correcto seria realmente reconhecer que enquanto se garantir ao sector financeiro a permanente disponibilidade de fundos públicos para recapitalizações necessárias pelos prejuízos resultantes da especulação, que continua a ser incentivada e premiada pela atribuição de chorudos bónus aos intervenientes.


Para além da triste realidade de continuarmos a assistir aos privilégios dos banqueiros e de sabermos a «Crise de 2008 sem culpados em Wall Street», seria bem mais tranquilizante não assistirmos à regular repetição de episódios como o “London whale” (ver esta notícia do NEGÓCIOS), indiciadores de que tudo continua como antes,  nem ao completo fracasso de iniciativas para a limitação dos bónus financeiros (prática grandemente responsável pela corrida desenfreada aos ganhos de curto prazo proporcionado pela especulação), como a registada quando a «União Europeia quer limitar os bónus na banca ao valor de um salário» mas de pronto os «britânicos contestam limites a bónus».

Tudo isto quando a generalidade da banca mundial vive quase duma caridade pública (os famigerados resgates sustentados num duvidoso conceito de risco sistémico, como sucedeu em Portugal com o BPN e o BPP) que é grande responsável pelo aumento do endividamento público e pelas políticas de austeridade, apresentadas pelos políticos como indispensáveis, para agradar aos credores que são afinal os mesmos bancos ou os seus proprietários.

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