A questão do resultado das eleições alemãs nunca me mereceu particular
atenção; à semelhança da situação nacional, onde dois partidos (PS e PSD)
dividem as hipóteses de vitória, sempre considerei o resultado daquelas
eleições – vitória dos conservadores da CDU ou dos sociais-democratas do SPD –
irrelevante para o desenvolvimento da situação europeia, pois qualquer que
fosse o vencedor pouco ou nada alteraria a situação da UE em geral e dos países
do sul europeu em particular.
Com a CDU, o SPD ou os dois em coligação, a situação da Zona Euro
continuará a ser a dum gigante económico dirigido à vista e, pior, sujeito a um
pragmatismo de vincada matriz ideológica, pouco ou nada adaptável a mudanças,
que no caso alemão podem surgir bem mais depressa do que o esperado, agora que
é cada vez mais evidente o abrandamento das economias emergentes que
representam 18,5% das exportações alemães.
Outra coisa não se pode pensar depois do anúncio que a «Holanda
diz adeus ao Estado social e entra no século XXI», tanto
mais quanto a opção foi tomada pelo novo governo dito de centro-esquerda e
quando é conhecido o facto de, numa sondagem recente, 80% dos holandeses se
terem declarado contrários à ideia.
Que a realidade dos países do sul
da Zona Euro desminta à evidência as virtualidades dum modelo gizado para
servir os interesses duma minoria endinheirada e não, como anunciam, para
resolver os desequilíbrios estruturais das respectivas economias é questão de
pouca monta para as elites políticas completamente enfeudadas a interesses
estranhos aos seus próprios eleitores, tanto mais que a generalidade dos meios
de comunicação participa alegremente no processo de desinformação colectiva.
Não há hoje, por esse mundo fora,
país que se preze que não disponha nos principais canais de televisão de “prestigiados”
comentadores (preferentemente ex-dirigentes políticos) que regularmente se
encarregam de repetir os mantras dos malefícios da dívida pública (omitindo que
o verdadeiro problema está no somatório daquela com as dívidas privadas da
banca, empresas e famílias) e da inexistência de alternativas à subordinação
aos interesses do capital financeiro, ludibriando as audiências com jogos de
manipulação onde misturam meias verdades com mentiras descaradas.
A realidade cada vez mais
perceptível para os cidadãos europeus é que já se ultrapassaram os limites da
decência e do decoro; depois da UE ter relegado o seu próprio parlamento ao papel
de figurante, passando a ser dirigida por uma cúpula não eleita, rapidamente se
passou à situação de ver os estados dirigidos por títeres que à revelia dos
seus eleitores se desdizem sem o mínimo rebuço enquanto aplicam as políticas
mais favoráveis aos seus mentores.
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