sábado, 12 de janeiro de 2013

OFICIAIS E POPULARES


A divulgação dum relatório do FMI, intitulado «RETHINKING THE STATE» (disponível apenas em inglês), teve a óbvia consequência de ter morto à nascença o debate sobre a reforma do Estado – se é que na verdade o Governo alguma vez o tencionou realizar – pois este passou a esconder-se atrás de vontades externas e reduziu-se a um mero processo de redução de gastos.


Para folclore ou não (note-se que até o ex-presidente da CIP «Francisco van Zeller acredita que Governo mandou publicar relatório do FMI»), registe-se que até «Membros do Governo desentendem-se sobre relatório do FMI», com o centrista Mota Soares, ministro da Solidariedade e Segurança Social, a afirmar publicamente que o «Relatório do FMI tem “pressupostos errados”» e o secretário de estado Adjunto do Primeiro-Ministro, Carlos Moedas, a declarar numa conferência de imprensa convocada após a sua divulgação que este «Relatório é muito bem feito e envolveu consultas ao Governo», opinião tanto mais abalizada quanto na mesma conferência de imprensa assegurou (segundo esta notícia do ECONÓMICO) que «…o Executivo só hoje recebeu a versão final do documento…».

Mesmo sem as polémicas entre centristas e sociais-democratas, de que regularmente nos é dado conhecimento, não é difícil inserir mais este episódio na já usual estratégia terrorista de Passos Coelho & Associados; acobardado atrás do escudo da “troika”, confortado no respaldo da “tecnicidade” dos estudos do FMI (recorde-se a reputada fiabilidade dos modelos econométricos e o “flop” da estimativa dos multiplicadores fiscais, recentemente “confessada” por Olivier Blanchard, o economista-chefe do FMI, noutro relatório denominado «Growth Forecast Errors and Fiscal Multipliers») e de verdades absolutas que não conseguem escamotear que feitas as contas às propostas dos “especialistas” do FMI os «Cortes valem mais do triplo do pedido pela troika», como escreveu o I, o actual governo prepara-se para aplicar nova machadada naqueles que têm sido os seus alvos de eleição: os assalariados (em especial os da função pública) e os reformados.

Embrulhado no melhor economês, o que na realidade ressalta deste último estudo do FMI é que continuará por realizar qualquer esforço de redução nos gastos intermédios do Estado (entre os quais se contam os famosos e principescamente remunerados trabalhos de consultoria e acessória técnica, as adjudicações directas e as comprovadamente duvidosas transferências ao abrigo das parcerias público-privadas) para novamente fazer recair os custos sobre os alvos do costume.

A constante denúncia dos pressupostos e dos objectivos reais dos que ainda insistem em defender a justeza das políticas que a pretexto de combater uma crise económica mais não têm feito que degradar as condições de vida da maioria dos cidadãos e que a aplicarem-se mais estas agora propostas pelo FMI apenas aumentarão o evidente abuso que vem sendo praticado, pode e deve ser consubstanciado em mais que na simples denúncia de muitos dos erros, desvios, contradições, lapsos ou manipulação que o relatório do FMI comporta. O estudo e proposta de alternativas constitui um importante contributo para uma melhor compreensão do alcance das propostas oficiais e é isso mesmo o que se propõem o promotores de iniciativas como a Auditoria Cidadã à Dívida que realizará no dia 19 o seu 1º Encontro Nacional, sob o lema “Crises não Pagam dívidas” e no qual serão apresentadas as conclusões do primeiro ano de trabalho e debatidas as orientações para a sua continuação.

Esta iniciativa, como outras já referidas em “posts” anteriores (caso da Alternativa Democrática) constituem sinais da existência de alternativas às políticas oficiais e da vitalidade popular, mesmo quando a comunicação social persiste em lhes atribuir pouca ou nenhuma visibilidade e tudo a sua actividade se resume quase à difusão do discurso oficial.

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