sábado, 5 de janeiro de 2013

ENTRE OS PINGOS DA CHUVA


Entre críticas e aplausos lá chegou finalmente a notícia que «Cavaco envia Orçamento para o Tribunal Constitucional», como se tal constituísse panaceia para os problemas e não uma mera estratégia para tentar protelar o inevitável.

Cavaco tem perfeita consciência que o resultado da consulta representará uma fragilização do executivo de Passos Coelho e Paulo Portas sem representar qualquer solução ou inversão de estratégia na política de austeridade. Uma vez mais o primeiro magistrado do País volta a prestar um péssimo serviço a todos, insistindo na habitual política de “sacudir a água do capote” quando decidiu promulgar um OGE que depois afirma suscitar-lhe dúvidas; Cavaco Silva não está apenas a passar o ónus político para aquele tribunal (como defende o constitucionalista Bacelar Vasconcelos) mas também a fixar um prazo de validade ao Governo.


Sabendo-se que «Cavaco Silva não pediu prioridade ao Tribunal Constitucional», que a crer no mesmo constitucionalista a «Lei prevê que Tribunal Constitucional tome decisão no espaço máximo de três meses», que já existe o precedente dum acórdão daquele Tribunal declarando inconstitucional parte do OGE de 2012 mas sem efeitos práticos, tudo indica que estaremos perante mais uma inqualificável manobra política dum Presidente e dum Governo que desrespeitam os cidadãos em completa impunidade.
A quase certa coincidência da publicação do acórdão do Tribunal Constitucional com o relatório trimestral da UTAO, que adicionará à confirmação da inconstitucionalidade de parte do OGE de 2013 mais um desvio face às previsões que serviram de base à sua elaboração, serão usadas por Vítor Gaspar para o anúncio de mais outro (já perdi a conta ao número) pacote de medidas de austeridade que assegurem o pagamento aos credores.

Quando à comprovada desadequação do poder político, evidente na incompetência de Passos Coelho (e do seu tecnocrático ministro Vítor Gaspar) a que se junta um presidente tíbio e comprometido, se acrescenta um poder judicial tergiversante e uma oposição que se limita a esperar pela demissão do governo (veja-se a entrevista à RDP onde «Ferro Rodrigues espera que Passos se demita se normas do Orçamento forem chumbadas» ), só resta que quem pouco ou nada já tem a perder se faça ouvir, ocupando as ruas do País e exigindo ser governado por quem efectivamente apresente soluções para a espiral recessiva (Cavaco Silva dixit) em que vivemos.

Lá nos encontraremos… porque ao contrário de Cavaco Silva não tenciono tentar passar entre os “pingos da chuva”.

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