Os trinta e três partidos que se apresentaram a escrutínio para disputarem os 120 lugares do Knesset[1] voltaram como habitual a não produzir uma maioria governativa e as eleições registaram uma forte abstenção[2], não só da maioria judaica mas ainda maior da minoria árabe que forte nos seus 20% da população deveria constituir uma das principais forças políticas, mas que desmobilizada e fragmentada em várias organizações não terá atingido 10% dos votos contabilizados.
A fragmentação é aliás a principal característica da cena política israelita que regista entre as principais forças políticas, agrupamentos como o KADIMA (o partido de centro direita criado por Ariel Sharon, agora dirigido por Tzipi Livni depois do abandono de Ehud Olmert), o AVODA (partido trabalhista e sionista dirigido por Ehud Barak) e o LIKUD (nacionalista e conservador, principal força da oposição e onde pontifica o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu), até ao ultranacionalista Yisrael Beiteinu (dirigido por Avigdor Lieberman), os ultraortodoxos (o sefardita[3] Shas, e o ashkenaze[4] Judaísmo Unido da Torah), os movimentos nacionalistas religiosos – Ihoud Leoumi (União Nacional) et Ha-Bayit Ha-Yehudi (Fórum Judaico) – tradicionais apoiantes da instalação dos colonatos, os pequenos partidos de esquerda onde pontifica o pacifista e social-democrata Meretz e até um partido dos reformados – o GIL – cujo programa se centra principalmente no melhoramento das condições das pensões e dos seguros de saúde dos aposentados e pensionistas em Israel.
Esta evidente mistura de conceitos religiosos com princípios laicos, de preocupações sociais com outras de carácter quase pessoal e uma quase total ausência de programas políticos baseados em diferentes abordagens ideológicas, a que se adiciona uma clara paranóia securitária que insiste em ampliar as ameaças e fomentar um clima de guerra que será afinal o principal ponto de união de uma nação que na realidade se encontra dividida entre judeus ashkenazes e sefarditas, entre ultraortodoxos e laicos e entre ricos e pobres, divisões que poderão vir a conhecer um desfecho violento, tanto mais que o ódio parece ser um sentimento bem comum por aquelas paragens.
Ainda assim, segundo informação da BBC NEWS da votação deverá resultar a seguinte distribuição de lugares no parlamento:
merecendo destaque o facto de não se terem confirmado as previsões das sondagens, que davam uma clara vitória ao LIKUD, e de apesar dos apelos ao boicote por alguns grupos da minoria palestiniana, o conjunto dos seus representantes (Hadash, United Arab List e Balad) ter obtido cerca de 10% da votação e tantos quantos os do partido ultraortodoxo Shas.
No rescaldo de umas eleições antecipadas em consequência do insucesso de Tzipi Livni para formar uma coligação no anterior quadro parlamentar e onde não se registou uma clara vantagem de qualquer dos partidos, os líderes do KADIMA e do LIKUD afirmam-se prontos para assegurar a chefia do próximo governo. E se Tzipi Livni reivindica esse direito com base no facto do seu KADIMA ter sido o partido mais votado, já Benjamim Netanyahu sustenta a sua posição no facto das forças de direita disporem de vantagem na contagem dos lugares parlamentares.
Embora muitos analistas não tenham deixado esquecer o facto de o próximo governo israelita dever vir a confrontar-se com um número crescente de problemas (desde o perpétuo conflito com os palestinianos, a necessidade de estabelecer negociações com vizinhos incómodos como a Síria e a de enfrentar a questão do nuclear iraniano, já para não falar no aprofundamento da crise económica mundial que a avaliar pela campanha eleitoral que terminou parece não fazer parte das preocupações dos israelitas) tal não parece atemorizar Livni e Netanyahu, ávidos em anunciarem a respectiva candidatura à chefia do governo. A avidez é de tal natureza que, segundo informa o YEDIOTH AHRONOTH, a líder do KADIMA já esqueceu as afirmações proferidas durante a campanha eleitoral que excluíam a possibilidade de associação com a extrema-direita representada pelo ISRAEL BEITEINU e já se reuniu com Avigdor Lieberman, o líder daquele grupo, para negociar o seu apoio.
Porque, infelizmente, as incongruências dos políticos são cada vez mais a imagem comum, existem mais que fortes indícios de que qualquer que seja a coligação a emergir destas eleições o principal problema da região continuará sem solução à vista. Com Livni ou com Netanyahu, do lado israelita, com Obama na Casa Branca, com a Fatah ou com o Hamas, do lado palestiniano, a vida diária dos milhões de palestinianos que vivem em Israel, na Cisjordânia ou na Faixa de Gaza vai continuar a arrastar-se naquilo que raia a indignidade humana.
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[1] O termo em hebraico significa literalmente “a assembleia” e é a designação do Parlamento de Israel.
[2] De acordo com esta notícia do YEDIOTH AHRONOTH, a duas horas do fecho das urnas pouco mais de 50% dos eleitores tinham votado.
[3] O termo sefardita aplicava-se originalmente aos descendentes dos judeus oriundos da Península Ibérica (Sefarad), mas com o tempo começou a incluir as comunidades oriundas do Norte de África por esta ter sido uma das primeiras regiões onde aqueles procuraram refúgio após o início das perseguições da Inquisição católica.
[4] O termo ashkenaze designa os judeus oriundos da Europa Central e Oriental (provém da designação hebraica da Alemanha – Ashkenaz).
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