quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ZECA - 25 ANOS


Para não deixar passar em claro os 25 anos que o Zeca nos deixou sem novidades, lembro aqui o Homem que desde os tempos DE CAPA E BATINA entoou FADOS DE COIMBRA E OUTRAS CANÇÕES e imortalizou as CANTIGAS DO MAIO.


Fez-se à estrada COM AS MINHAS TAMANQUINHAS e entoou muitos (e bons) CANTARES DE ANDARILHO, quem sabe se não o fez até no CORO DOS TRIBUNAIS…

Ensinou-nos CONTOS VELHOS RUMOS NOVOS e a importância de dizer (e fazer) TRAZ OUTRO AMIGO TAMBÉM; cantou (e encantou) ENQUANTO HÁ FORÇA, disse VENHAM MAIS CINCO ou EU VOU SER COMO A TOUPEIRA, insistiu em FURA FURA, em transformar o nosso dia-a-dia e partiu sabendo que o estava a fazer.

Mais que o cantor de intervenção a que ainda insistem a reduzi-lo, Zeca Afonso foi a voz duma geração que embalou um sonho… que merece ser reavivado!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

AINDA MAIS ESPREMIDOS


Confirmada a mais que prevista decisão europeia de novo resgate à Grécia, iremos finalmente assistir ao princípio do fim do calvário do Euro, ou pelo contrário, nada mudou e «A dívida grega é insustentável sem mais ajuda»? 

A questão não é retórica nem é de exclusiva aplicação à Grécia e a prova disso mesmo é que cresce o número de economias europeias que começam a ver-se apontadas (já apareceram referências claras à Bélgica e à França) como as próximas a sofrerem dos mesmos problemas e cujas populações já se antevêem em situação idêntica à que os gregos estão a sofrer.


Espremidos entre uma austeridade desprovida de efeitos práticos (excepto os de assegurarem maiores proventos para os do costume), uma total ausência de perspectivas de crescimento e lideranças desprovidas de qualquer visão estratégica, os cidadãos gregos têm enfrentado esta crise oscilando entre a indiferença e a revolta declarada, sob o olhar mais ou menos atento dos restantes cidadãos comunitários.

Injustamente empurrados pelos políticos a quem entregaram a condução dos destinos do país para uma situação de descrédito, vilipendiados pelas elites dos estados europeus que se julgam a recato de idêntico percalço, os gregos nem sequer podem ainda lobrigar a luz ao fundo do túnel pois parece cada vez mais evidente que este «Segundo resgate não retira Grécia do cenário de incumprimento»,confirmado aliás pela notícia de que «Fitch corta rating da Grécia para falência eminente».

Quando se constata que os resgates pouco mais têm feito que contribuir para o aumento do endividamento (seja este medido em termos absolutos seja em termos relativos ao PIB), torna-se cada vez mais natural a dúvida sobre a utilidade dos sacrifícios em salários, pensões e demais restrições que os gregos estão a suportar e que verão com este novo “pacote” acrescidos com uma nova redução de 3,3 mil milhões de euros nos gastos públicos, mais privatizações e maior flexibilização das leis laborais.

Depois da política punitiva que esteva na origem dos termos do primeiro regate (assinado em Maio de 2010) eis que o segundo se apresenta com contornos de verdadeira humilhação ao adicionar àquelas medidas:
  • a obrigatoriedade da consagração constitucional duma clausula privilegiando o pagamento das dívidas;
  • a constituição duma conta fora do orçamento para aqueles pagamentos;
  • a instalação em Atenas duma comissão de credores que vigiará o cumprimento do acordo.
Depois de tudo isto ainda restarão dúvidas que além de tentar assegurar o pagamento aos credores, as políticas preconizadas pelo FMI, o BCE e a UE mais não visam que a redução das economias intervencionadas a uma ainda maior dependência dos seus credores. É que se não fosse esse o caso uma das primeiras preocupações daqueles organismos deveria ser com o crescimento económico, pois sem este não existirão condições para a adequada amortização do serviço da dívida nem para uma redução sustentada do endividamento.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

TUDO ESTÁ A FALHAR... TUDO, NÃO!


Escreveu Daniel Oliveira, na sua última crónica no EXPRESSO, que «Nove meses depois da troika tudo falha»... 

Desculpem, mas não consigo partilhar em silêncio este comentário que além de profundamente negativo é igualmente injusto.

Nem tudo está a falhar! Pois, graças à simples presença duma entidade estrangeira (a tal “troika” a que se refere Daniel Amaral, completamente estranha a qualquer nacional vício de influência ou “cunha”), o governo de Passos Coelho e de Paulo Portas (é importante e conveniente não esquecer um parceiro cuja recente modéstia impede de se alcandorar aos lugares mais mediáticos) já conseguiu uma bem sucedida política de flagelação nacional.


Se não vejamos:
  1. reduzir os salários da função pública e equiparados (dando assim um importante sinal à iniciativa privada que abriu a época de saldos em boa parte dos custos fixos);
  2. alterar de forma radical a legislação laboral, abrindo caminho a ainda mais importantes (e principalmente menos onerosas) reduções dos quadros de pessoal; 
  3.  realizar um verdadeiro golpe constitucional, através da invocação duma qualquer “emergência nacional”, com o beneplácito e/ou apoio expresso daqueles que deveriam ser os principais defensores dos invioláveis princípios constitucionais, enquanto a Justiça continua a funcionar a duas velocidades e com pesos e medidas diversas em função da bolsa dos litigantes (a conclusão é inegável quando a própria «Ministra admite que em Portugal ainda há uma justiça para ricos e uma para pobres»);
e se acaso pensam que isto é pouco, muito pouco para tanto tempo de governo, e alguém de pronto refere a fatalidade do aumento do desemprego e o facto de já se anunciar que «Um quarto da população portuguesa em risco de pobreza», sempre recordo que o actual governo sempre revelou uma enorme preocupação com as políticas de combate ao desemprego; primeiro quando começou por nomear centenas de acessores, adjuntos, colaboradores, motoristas e de mais especialistas para engrossarem os depauperados quadros ministeriais (alguns dos quais beneficiando até duma aparente derrogação na política de redução salarial quando se tornou público que houvera «Nomeações para gabinetes ministeriais publicadas com direito aos dois subsídios»), depois quando proactivamenete lançou uma política de incentivo e claro apelo à emigração, em especial das camadas mais jovens e que, devido ao investimento (público) na sua formação, poderiam beneficiar de vantagens noutros países. 

Concluo, para os empedernidos críticos que não esquecem a questão da quebra na actividade económica e sempre prontos a estabelecer comparações do tipo «Portugal afunda-se Grécia e Irlanda em recuperação», lembrando que também nessa matéria o governo tem revelado preocupação e chegou mesmo a arriscar uma aumento no défice quando realiza sacrifícios de proceder à modernização da frota automóvel ministerial.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

HERÓIS E VILÕES


Uma das virtualidades da espécie humana ainda continuará a ser sua diversidade. Além das diferenças raciais, culturais e religiosas persistem evidentes sinais de que indivíduos diferentes reagem de forma diversa às contrariedades que os rodeiam.

Vem esta introdução a propósito de notícias lidas na imprensa sobre três presidentes doutros tantos estados europeus; três figuras honoríficas, destituídas de poderes reais mas supostamente imbuídas dos valores próprios das repúblicas que representam.

As primeiras são originárias da flagelada Grécia (país da Zona Euro a braços com uma crítica situação financeira) e reportam a reacção do presidente Károlos Papoulias (um veterano da resistência à ocupação alemã durante a II Guerra Mundial) a comentários do ministro das finanças alemão, Wolfgang Schauble, de forma peremptória e questionando abertamente «”Quem é o Sr. Schauble para criticar a Grécia?”»

Convenhamos que por mais despropositados e inqualificáveis que tenham sido os actos de gestão dos diferentes governos helénicos que conduziram o país à difícil situação que atravessa, em caso algum é admissível denegrir-se um povo (e ainda menos incentivar-se a ideia) achincalhando o seu amor-próprio e os seus valores nacionais. Diga-se em abono da verdade que aquele tipo de comportamento não é de agora, pois logo no início da crise surgiu um “inteligentíssimo” deputado alemão sugerindo que os gregos vendessem as suas ilhas para liquidarem as dívidas… Será então de estranhar a reacção de Papoulias ou até a crescente insatisfação perante o constante agravamento das condições levando já a dizer-se que «Atenas e Berlim entram em dura guerra de palavras», tudo isto num país que, atirado para a beira do precipício, arde (não apenas no sentido metafórico mas também literal) em fogo lento.

A segundo notícia é de origem nacional e podendo não significar mais que um mero acidente, parece-me demasiado esdrúxula para se quedar como um mero “fait divers”; é que soa estranho ler-se que «Cavaco obrigado a cancelar visita a escola».

Não fosse o caso de se concentrarem duas centenas de alunos protestando contra as condições de funcionamento duma escola conhecida por ter vaiado o anterior primeiro-ministro, José Sócrates, durante uma visita idêntica, ou ainda persistirem os ecos das vaias que em Guimarães receberam Cavaco Silva na sua última aparição oficial e talvez o não explicado impedimento da versão oficial tivesse passado sem referência de maior; mas o pior é que a canhestra explicação (que outra coisa seria de esperar dum político como Cavaco Silva) apenas alimenta a pronta ideia de que o titular do mais alto cargo da nação se acobardou no enfrentamento dum punhado de jovens e, a assim ser, não só teremos de lhe somar mais uma característica desabonatória como nunca poderemos esperar que daqui a algum tempo responda, como o seu homólogo grego, às diatribes dum qualquer alemão mesmo que este não sugira a venda da Madeira para liquidarmos as nossas dívidas.

A última (e mais recente) tem proveniência na mui austera e rigorosa Alemanha que de há dois meses a esta parte assiste ao avolumar de revelações sobre o envolvimento do seu presidente, Christian Wulff (o democrata cristão eleito à terceira tentativa em 2010), num escândalo de favorecimento e de tentativa do seu encobrimento que culminaram agora com a notícia de que o «Presidente alemão apresenta demissão», depois de conhecido um pedido judicial de levantamento da imunidade.

O curioso (para nós portugueses) é que Wulff é apenas suspeito de ter obtido benefícios de vários amigos empresários e de ter tentado encobrir os factos; digo apenas, pois não consigo evitar de recordar os delicados contornos duma operação de compra e venda de acções não cotadas em bolsa, que teve como intervenientes o presidente Cavaco Silva e o seu amigo Oliveira e Costa (ex-presidente do BPN, que depois de nacionalizado já terá originado «Injecções de dinheiro no BPN ascendem a 8,5 mil milhões» do erário público) que foi objecto duma explicação presidencial tão esfarrapada como a explicação para o cancelamento duma visita oficial a um estabelecimento de ensino que lhe prometia uma recepção pouco calorosa.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ESPREMIDOS

Se da Grécia chegam notícias de que o «Parlamento aprova plano austeridade» que poderão trazer alguma tranquilidade aos credores do país, já o teor dum plano onde ressaltam mais reduções salariais, mais despedimentos e mais reduções de pensões, só pode ser recebido pelos cidadãos helénicos com suspeição ou natural repúdio.

Talvez por ser cada vez mais evidente o fracasso da estratégia para a crise gizada pelo FMI e pelo BCE e por sentirem que os custos acabam por cair sempre sobre as suas costas, os cidadãos helénicos sentir-se-ão cada vez mais espremidos entre a aceitação pacífica das decisões políticas e a revolta que o sentimento de injustiça alimenta.

 
Mesmo repudiando a violência transmitida por notícias como a de que «Atenas mergulha no caos com cortes no salário mínimo e nas pensões», poder-se-á negar que esta não é de fruto da opressão imposta pelos parceiros europeus, precisamente aqueles de quem seria de esperar maior solidariedade?

E que pensar quando se lê que Van Rompuy, o presidente do Conselho Europeu, afirmou na China que os «Líderes europeus farão “tudo para ultrapassar a crise”» e se constata pela experiência recente o que valem e em que direcção apontam “líderes” comunitários do calibre daquele, ou do de Durão Barroso, senão que o futuro próximo nos reserva novas políticas restritivas sobre assalariados e pensionistas, mais desemprego e menor crescimento económico, na linha do anúncio recente do INE reportando que o «PIB português diminuiu 1,5 por cento em 2011» e que estará chegado o momento de pensarmos seriamente em que projecto europeu quereremos estar envolvidos: num projecto onde presidem os interesses das minorias financeiras e especuladoras ou um projecto orientado para os cidadãos e para o futuro?

Se a opção for a primeira bastará cruzarmos os braços e deixarmos aos líderes actuais o espaço e o tempo para actuarem, mas se pelo contrário, como creio, a opção for a da construção duma Europa dos Povos, então há que usar os meios disponíveis para barrar as políticas que nos estão a conduzir para uma situação cada vez mais insustentável!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A UTOPIA DO “TRICKLE DOWN”

Nos tempos que correm não existe quase um dia sem que, em conversas informais ou no mais responsável dos meios de comunicação, surja uma referência directa ou indirecta ao chamado “trickle down economics”. No apoio ou na crítica ao modelo de política económica seguido (ou imposto pelos “negociadores” dos programas de apoio financeiro do FMI, da UE e do FEEF) na Zona Euro, está sempre implícita a discussão daquela teoria que na mais simples das suas versões se traduz na ideia que as reduções de impostos e outros benefícios fiscais de que beneficiem as empresas e as famílias mais ricas, acabarão por se converter também em benefícios para os segmentos menos favorecidos do conjunto da população.

Embora a sua entrada no léxico corrente seja recente, a origem do conceito é bastante antiga e por isso mesmo são estatisticamente observáveis os efeitos práticos da sua aplicação, mesmo quando a simples observação empírica bastaria para o refutar.

Sem truques nem malabarismo desnecessários basta recordar que o período áureo dos seus defensores coincidiu com a aplicação da chamada “Reaganomics”, ou seja, o predomínio das teorias económicas orientadas para o lado da oferta e directamente influenciadas pela teoria monetarista de Milton Friedman.


Daqui a transformar esta corrente de pensamento na espinha dorsal dos tecnocratas do FMI e do Banco Mundial e a “exportá-la” por esse mundo fora, foi apenas um pequeno passo. Aproveitando os pedidos de auxílio financeiro dos Estados em maiores dificuldades económicas, transformando aqueles princípios em condições obrigatórias, foram os Estados convertidos em presas fáceis de interesses alheios, que rapidamente os defiguraram em estruturas economicamente dependentes do fornecimento de bens e serviços básicos.

Foi assim que assistimos durante a última geração a uma expansão forçada da globalização (com o que este conceito apresenta de mais prejudicial em termos de aculturação e de destruição de tecidos produtivos autóctones) e á difusão da ideia das enormes vantagens que adviriam para todos duma política de reduções fiscais para uma minoria que não podia deixar de gerar benefícios colectivos. Baixaram-se os impostos sobre os lucros (em especial os das grandes empresas de capitais transnacionais), sobre os rendimentos de capital (gerados nos mercados globais de acções e nos recém inventados “offshores” financeiros), liberalizaram-se mercados (eliminando barreiras alfandegárias e normas protectoras de territórios e trabalhadores) para chegarmos à situação em que os Estados, privados de receitas suficientes se viram empurrados para o recurso ao endividamento como única via para o financiamento das suas políticas.

Independentemente da qualidade destas políticas, o resultado hoje visível foi o empobrecimento geral das famílias e dos Estados (mais gravoso ainda quando o endividamento foi canalisado para investimentos de duvidosa ou nula rentabilidade económica e social), e o aproveitamento que do mesmo está a ser feito. A lista de prejudicados já vai longa e nela se incluem Estados da América Latina, empurrados nos anos 80 e 90 do século passado pela situação de défices crónicos nas suas balanças comerciais, países do Sudoeste Asiático, empobrecidos pelo sistema de comércio mundial e pela fragilidade das suas divisas, a Rússia, economicamente devastada na sequência da desagregação da União Soviética, e agora os países periféricos da Zona Euro.

Uma versão actualizada do “trickle down” surgiu agora na Europa, onde impera a ideia de que uma austeridade expansionista – traduzida nas palavras dum dos seus campeões, Passos Coelho, como um processo de empobrecimento que nos conduzirá à riqueza – constituirá a panaceia salvadora e remissora de todos os nossos males. Asseguram-nos que um aumento selectivo de impostos (indirectos e directos sobre os assalariados), uma redução de salários (em termos efectivos e/ou através do aumento dos horários de trabalho) e de prestações sociais, tudo factores que reduzirão o rendimento disponível das famílias e a receita directa do Estado, constitui a melhor solução mas não explicam o seu evidente fracasso – bem expresso nas dificuldades crescentes duma Grécia de quem já se diz que «Passo em falso no acordo grego, passo em frente rumo à bancarrota», na constatação de que em Portugal, segundo os dados mais recentes do Eurostat, a «Dívida pública já supera 110% do PIB» – e ainda menos as conclusões do último relatório do FMI sobre políticas fiscais.

Neste documento (Fiscal Monitor Update) conclui-se que afinal a grande preocupação dos “mercados” não é tanto a consolidação orçamental a médio prazo mas, principalmente o crescimento económico de curto prazo; a conclusão daquele estudo valida afinal a mais lógica e elementar das preocupações de qualquer investidor: assegurar o retorno do capital investido e dos juros. E a prova que esta é no fundo a única preocupação é que cresce entre os governantes europeus o discurso que tudo será feito para assegurar os ganhos dos investidores, ou, como afirmou Passos Coelho «Portugal vai cumprir o seu programa “custe o que custar”».

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

PIEGUICES

Prosseguindo a sua opção por sucessivas medidas de restrição sobre os assalariados nacionais e pela sua apresentação a conta-gotas, o governo de Passos Coelho anunciou no final da semana passada a intenção de não conceder a tradicional tolerância para as festividades carnavalescas.
 
Não fora o momento escolhido – a duas escassas semanas do evento e quando a generalidade dos organizadores (autarquias e colectividades) já procederam a vultuosos gastos – talvez não gastasse tempo a pensar no assunto, mas a inépcia e a demonstrada ignorância da envolvente financeira da decisão não pode deixar de ser denunciada e criticada.


Como se não bastasse a escolha da mais desadequada das oportunidades – a tomar a decisão esta deveria de ter sido anunciada há muito a fim de obviar os comentários e as lógicas críticas – Passos Coelho revelou ainda a maior das insensibilidades quando àquela decisão acrescentou ontem o apelo a que sejamos menos piegas

Na prática, o responsável pela condução dos destinos deste país, pretenderá ver cessar o clima de desânimo e de crítica que grassa nos mais diversos sectores duma sociedade onde não são apenas os assalariados que vêem cada vez mais reduzidos os proveitos da única fonte de subsistência de que dispõem – o seu trabalho – enquanto são simultaneamente aumentadas as horas de trabalho (quer através da proposta de redução dos feriados quer através da redução do período de férias), mas também o pequeno comércio, que diariamente sofre a perca de clientes ditado pela redução do rendimento da esmagadora maioria da população e que se confronta com a impossibilidade de concorrer com os grupos económicos que detém as grandes superfícies, e a pequena indústria, técnica e financeiramente incapaz de concorrer com as grandes unidades e afectada, tal como o pequeno comércio, pela drástica redução do poder de compra das famílias.

É claro que em momento algum me ocorreu que a invectiva de Passos Coelho fosse directa ou indirectamente dirigida a Cavaco Silva, o homem que em público anunciou a sua dificuldade para sobreviver com as reformas que aufere  (diminutas, mas que ainda assim superiores ao vencimento como Presidente da República de que abdicou), mas que mais dia, menos dia virá apoiar aquela posição.

Esgotadas algumas das possíveis explicações para as declarações de Passos Coelho, que estão ao nível do que já nos habituou quando, sem relutância, incentivou os jovens a emigrarem e a procurarem o seu futuro noutro país, resta uma: será que o que Passos Coelho fez foi deixar aflorar algo do que lhe vai no subconsciente e o apelo que fez foi no sentido de substituirmos a muito nacional lamechice e passarmos à acção?

Face às notícias que chegam da Grécia, onde um governo não eleito se prepara para submeter todo um Povo a exigências do teor da que pretende reservar parte da nova tranche de financiamento para pagar aos credores , este é o momento para seguirmos à risca o apelo do nosso primeiro-ministro e, deixando-nos de pieguices passemos à acção; arregacemos as mangas e exijamos a demissão dum governo que além de prejudicar claramente os interesses nacionais, insulta os cidadãos!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O CAPITALISMO EM QUESTÃO?

Como se tornou já um hábito, no final de Janeiro de cada ano a elite empresarial, financeira e política mundial reúne-se nos Alpes para delinear as estratégias a aplicar nos tempos mais próximos. Este ano sob o lema "A Grande Transformação: Dar Forma a Novos Modelos", talvez houvesse quem esperasse que do convénio resultasse alguma efectiva novidade, mas a atestar pelas notícias que foram chegando a público tudo se resumiu ao habitual desfile das mesmas ideias. 


Que o actual modelo de capitalismo financeiro parece esgotado não constituirá já uma novidade e que as alternativas internas para a sua regeneração não podem continuar a sustentar-se nos dogmas caros ao neoliberalismo parece cada vez mais evidente.

A gravidade da situação parece reconhecida por quase todos os intervenientes e um claro sinal da sua dimensão e desorientação é que enquanto o bem conhecido George Soros (o homem que há vinte anos bateu o Banco de Inglaterra) foi a Davos afirmar-se como defensor da “sobrevivência da civilização”, a directora-geral do FMI, a francesa Christine Lagarde, aproveitou a tribuna pata lançar um apelo público à recolha de fundos para “salvar” a Europa e o presidente do BCE, o italiano Mario Draghi, anunciou a quem o quis ouvir que continua por comprovar os efeitos na economia real das injecções de capital que têm sido feitas no sistema financeiro.

O desnorte dalguns não impediu a hipocrisia doutros, como o CEO da JP Morgan-Chase, quando afirmou que é por razões sociais que o banco mantém a exposição aos países europeus mais afectados pela crise da dívida, nunca por, acrescento eu, este pequeno sacrifício servir para aumentar as expectativas de ganho nos produtos estruturados que apostam precisamente na falência daqueles Estados, nem a insistência nos lugares-comuns, como o fez a chanceler alemã, Angela Merkel, que logo na abertura dos trabalhos não se coibiu de assegurar que a Europa sairá desta crise mais forte e competitiva, mas sem explicar como o conseguirá.

Afinal, de tudo o que se ouviu em Davos como é que deverá ser construído o novo modelo? Sem alterações, como pretende David Cameron, o primeiro-ministro inglês e fiel defensor dos interesses da City e de Wall Street, que voltou a erguer a voz contra a aplicação de qualquer nova taxa fiscal sobre as transacções financeiras, sem quaisquer garantias de eficácia, como explicou Mario Draghi, ou sustentado na asserção que os capitalistas são todos bons rapazes e que no final a velha “mão invisível” os salvará a todos?

A dúvida não é displicente, mesmo quando a expectativa mais realista é a de que a solução miraculosa vai sair muito cara aos cidadãos contribuintes do mundo inteiro.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A EUROPA NO BOM CAMINHO

Com as notícias do primeiro Conselho Europeu do ano e a efusiva alegria mostrada pelo primeiro-ministro português que assegurou de pronto que «Portugal vê “com bons olhos” plano contra o desemprego» poderia parecer que, sob a esclarecida direcção alemã, finalmente tudo estava em vias de resolução.

Infelizmente a realidade – a dura realidade que os líderes europeus persistem em negar – continua a revelar-se bem diferente dos desejos pessoais daqueles que afinal não ansiarão senão por esquecer os acontecimentos e alcançar uma desejada reeleição.


As notícias sobre as anunciadas medidas para o combate ao desemprego primam pela escassez ou resumem-se a uma repetição de ideias básicas, pias intenções e os habituais lugares-comuns sobre a matéria. De concreto pouco se sabe e o que aqui ou ali surge revela-se tudo menos reconfortante. Prova disso mesmo foi o anúncio feito pelo INE de que temos um «Desemprego em Portugal com novo recorde de 13,6%» - número apenas ultrapassado pela Espanha, com 22,9%, a Grécia (19,2%) e a Irlanda, com 14,5% - e de que a «Queda do investimento empresarial foi de 17% no ano passado», valor que ultrapassou em muito a estimativa de 7,7% que foi a usada nas projecções oficiais.

Neste cenário de recessão económica onde campeia a negação da realidade, não escapa nem a declaração de Durão Barroso dizendo que «Resultados das reformas demorarão a aparecer», pois a avaliar pelo sucedido na Grécia, o primeiro dos países da Zona Euro onde foi forçada a aplicação de políticas de austeridade, os resultados têm sido claramente contraditórios com qualquer ideia de recuperação económica. Ao invés, devem merecer toda a atenção notícias como a que dá conta do resultado dum inquérito efectuado pelo FED e do qual se concluiu que «Crise europeia beneficiou "de maneira considerável" banca dos EUA», tanto mais que são o início da confirmação de que o que ocorre na Europa – e em especial na Zona Euro – não é fruto do acaso, nem corresponde à existência de maiores problemas nesta região que noutras, que tem afinal servido para escamotear dificuldades doutras moedas e que no limite até tem funcionado em claro benefício do sistema dólar.

Depois disto ainda haverá quem, de consciência limpa, possa continuar a afirmar que a solução e o caminho adequado estão numa contenção forçada dos défices e em políticas de redução de salários?