sábado, 4 de fevereiro de 2012

O CAPITALISMO EM QUESTÃO?

Como se tornou já um hábito, no final de Janeiro de cada ano a elite empresarial, financeira e política mundial reúne-se nos Alpes para delinear as estratégias a aplicar nos tempos mais próximos. Este ano sob o lema "A Grande Transformação: Dar Forma a Novos Modelos", talvez houvesse quem esperasse que do convénio resultasse alguma efectiva novidade, mas a atestar pelas notícias que foram chegando a público tudo se resumiu ao habitual desfile das mesmas ideias. 


Que o actual modelo de capitalismo financeiro parece esgotado não constituirá já uma novidade e que as alternativas internas para a sua regeneração não podem continuar a sustentar-se nos dogmas caros ao neoliberalismo parece cada vez mais evidente.

A gravidade da situação parece reconhecida por quase todos os intervenientes e um claro sinal da sua dimensão e desorientação é que enquanto o bem conhecido George Soros (o homem que há vinte anos bateu o Banco de Inglaterra) foi a Davos afirmar-se como defensor da “sobrevivência da civilização”, a directora-geral do FMI, a francesa Christine Lagarde, aproveitou a tribuna pata lançar um apelo público à recolha de fundos para “salvar” a Europa e o presidente do BCE, o italiano Mario Draghi, anunciou a quem o quis ouvir que continua por comprovar os efeitos na economia real das injecções de capital que têm sido feitas no sistema financeiro.

O desnorte dalguns não impediu a hipocrisia doutros, como o CEO da JP Morgan-Chase, quando afirmou que é por razões sociais que o banco mantém a exposição aos países europeus mais afectados pela crise da dívida, nunca por, acrescento eu, este pequeno sacrifício servir para aumentar as expectativas de ganho nos produtos estruturados que apostam precisamente na falência daqueles Estados, nem a insistência nos lugares-comuns, como o fez a chanceler alemã, Angela Merkel, que logo na abertura dos trabalhos não se coibiu de assegurar que a Europa sairá desta crise mais forte e competitiva, mas sem explicar como o conseguirá.

Afinal, de tudo o que se ouviu em Davos como é que deverá ser construído o novo modelo? Sem alterações, como pretende David Cameron, o primeiro-ministro inglês e fiel defensor dos interesses da City e de Wall Street, que voltou a erguer a voz contra a aplicação de qualquer nova taxa fiscal sobre as transacções financeiras, sem quaisquer garantias de eficácia, como explicou Mario Draghi, ou sustentado na asserção que os capitalistas são todos bons rapazes e que no final a velha “mão invisível” os salvará a todos?

A dúvida não é displicente, mesmo quando a expectativa mais realista é a de que a solução miraculosa vai sair muito cara aos cidadãos contribuintes do mundo inteiro.

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