sábado, 16 de dezembro de 2017

O INCÓMODO DA MOEDA

A propósito dum fenómeno de que ultimamente muito se tem falado – a bitcoin – e da sua extarordinária valorização, refere o Prof César das Neves, no artigo «O incómodo dos elefantes», que aquela “não vale nada”.


Para vincar o seu ponto de vista recorre (e bem) à teoria do valor para explicar que na economia existem bens que têm valor intrínseco e outros que cujo valor resulta da sua utilidade; comparativamente refere (claro) a moeda que não tendo qualquer valor intrínseco (especialmente depois do abandono do padrão ouro, período em que a quantidade de moeda emitida era função das reservas em ouro do emitente) vê o seu valor sustentado no subjectivo factor da confiança.

O busilis do debate em torno das criptomoedas (designação de toda e qualquer unidade monetária de origem e uso informático, como a bitcoin) é que o mesmo argumento que serve para as denegrir pode (e deve) ser aplicado a todas as moedas em circulação, posto que todas elas dependem da confiança dos utilizadores, que como o próprio autor muito bem sublinha «...tal como a utilidade, é um fenómeno totalmente subjectivo».

Dito isto, estaremos a um passo de ver o Prof César das Neves aplicar a mesma linha de raciocínio à moeda fiduciária (aquela que não deriva do valor das reservas auríferas mas apenas da confiança dos utilizadores) e reclamar uma abordagem diferente para questões como a do endividamento e defender, quiçá, a necessidade de reforma do sistema monetário que transforme o crédito num bem de utilidade pública, como forma de combater a escassez de liquidez e as desigualdades na distribuição do rendimento?

Este é que seria um verdadeiro incómodo para os elefantes...

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