Depois do 11M
(11 de Março, data do atentado contra a rede ferroviária suburbana de Madrid
que o governo do PP então liderado pelo histrião José Maria Aznar se apressou a
atribuir ao movimento separatista basco, ETA) a Espanha parece vir a ficar
marcada pelo 21D (21 de Dezembro, data das mais recentes eleições na
Catalunha), de uma forma que associa dramaticamente o PP ao pior que a Espanha
nos tem dado.
Depois dumas
eleições impostas por Madrid onde «Carles
Puigdemont ganha força apesar do resultado do Ciudadanos», bem pode o
actual líder do PP e primeiro ministro de Espanha anunciar que o «bloco
independentista “não representa a vontade de todos os catalães”» que em
nada alterará a realidade que o próprio criou com a aplicação do famigerado
Artigo 155 da Constituição Espanhola quando ditou a suspensão da autonomia da
região catalã, a demissão dum governo (Generalitat) democraticamente eleito e a
prisão ou o exílio de alguns dos seus membros, nem o facto da participação nestas
eleições terem alcançado os 83% de participação, depois das de 2015 terem
atingido os 75%.
Com o apoio da
generalidade das forças políticas espanholas o PP recuperou as velhas soluções
imperativas que há séculos têm servido para fazer germinar legítimos anseios de
autonomia entre os catalães, agudizados pela redução do investimento do governo
central na Catalunha, determinado pelo eclodir da crise económica global em
2008, e a reversão pelo Tribunal Constitucional, decidida em 2010, do estatuto
autonómico que vigorava desde 2006. O resultado foi um extremar de posições que
culminou com a realização dum referendo local ilegalizado pelo governo central
e impedido de concretizar pela presença de um aparelho policial não catalão.
Apesar das
dúvidas levantadas sobre os limites do Artigo 155, o governo de Mariano Rajoy
(com o apoio do rei Filipe VI) não hesitou na sua aplicação, no derrube do
governo local e na marcação de eleições antecipadas, cujo resultado o jornal
espanhol EL PAIS resumiu com um lacónico: «“Volvemos
a estar en el punto de partida”». Transformando um problema de natureza
política num problema judicial, Rajoy pode tê-lo adiado, mas nunca resolvido!
E assim é! «O
plebiscito que veio baralhar e voltar a dar» numas eleições – realizadas
sob um estado de democracia limitada e com parte dos candidatos detidos ou
exilados – onde a vitória do Ciudadanos (movimento liberal de centro direita, criado
em reação ao independentismo catalão obteve o melhor resultado de sempre dum
partido não independentista) não evitou que o conjunto dos partidos
autonomistas que integraram a destituída Generalitat (JxCat, ERC e CUP) mantenha
a maioria de deputados, a ponto de se poder dizer que «Perde
Rajoy e ganha o independentismo em noite agridoce para Arrimadas», a líder
dos Ciudadanos.
O futuro
próximo da região – e por extensão da própria Espanha – continuará a mesma
incógnita, a ponto de se poder dizer (como o fez o LE MONDE) que o resultado do 21D representa «O
triplo fracasso de Mariano Rajoy na Catalunha», pois este tentou contrariar
a tentativa de secessão do governo de Carles Puigdemont, restaurar a
estabilidade da região (e do país) e quebrar o impeto aos independentistas e
obteve em resposta a recondução da maioria independentista e a quase completa
erradicação do seu PP do panorama político catalão. Os fortíssimos apoios
institucionais dados ao Ciudadanos e as fortes condicionantes de actuação
proporcionadas aos apoiantes do nacionalismo catalão acabaram por se revelar
insuficientes para conter a evidente vontade demonstrada nas urnas, onde a
vitória do Ciudadanos talvez se deva apenas ao facto da Esquerra Republicana de
Catalunya (ERC) e o Junts per Catalunya terem concorrido isoladamente, quando
em 2015 o fizeram em conjunto conseguindo então 39,5% dos votos.
Embora se diga
que a líder do Ciudadanos, Inês «Arrimadas
duvida que independentistas consigam acordo», dificilmente resultará outro
quadro que não a formação de mais um governo catalão pelos partidos
autonomistas, não sendo sequer de excluir uma possível aproximação ao menos
radical Catalunya En Comú (o Podemos catalão que com 8,9% dos votos elegeu 8
deputados), o que poderia ditar até alguma flexibilização nas inevitáveis
negociações que se têm de seguir com o fragilizado Mariano Rajoy.
A seguir...
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