quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

PRÁTICAS…

A decisão de não levar a julgamento o polícia indiciado pela morte dum jovem desarmado, na localidade norte-americana de Ferguson, reacendeu a contestação e a polémica numa sociedade que recusa a evidência dos seus problemas raciais. Mesmo sem abordar as questões de natureza jurídica e processual que envolveram a decisão dum grupo de jurados que na presença de informações contraditórias e abandonado à sua sorte por um promotor público que assim julgou ultrapassar um possível conflito de interesses (o pai, agente da polícia, foi morto por um negro) demitindo-se de qualquer participação nas deliberações.

A morte do jovem Michael Brown, no passado mês de Agosto, já correu mundo e foi objecto das mais variadas interpretações; porém, meses volvidos muitas coisas permanecem por explicar e outras tantas por esclarecer. Por exemplo o número exagerado de projécteis com que foi atingido, situação que parece apontar mais para uma reacção de pânico ou de mero acto de vingança que para a anunciada resposta a uma tentativa de resistência à detenção.

Será que a recorrente ocorrência de mortes de cidadãos negros às mãos de agentes da polícia (invariavelmente brancos) se deve apenas ao lamentável desenho dos alvos usados para treino? ou as razões são bem mais prosaicas, mas politicamente incorrectas?


Apesar de claramente exagerada, a leitura dos acontecimentos feita a partir de Moscovo, cujo Ministério dos Negócios Estrangeiros assegura que os «Tumultos em Ferguson ilustram massivos problemas internos», não deixa de apontar uma direcção que obviamente ninguém na Casa Branca subscreverá: os EUA continuam a debater-se com uma situação de delicado equilíbrio racial.

Depois dos conturbados anos de luta pelos direitos da maioria negra e quando o país até exibe um presidente negro, eis que o anúncio da ilibação do agente Darren Wilson está a servir de rastilho para a contestação e enquanto a «Indignação de Ferguson alastra aos quarto cantos dos Estados Unidos» parece cada vez mais evidente que o mal-estar existe e é claramente percepcionado por uma comunidade que se sente desprotegida.

Há pouco mais de meio século a comunidade negra norte-americana uniu-se, lutou e conseguiu ver abolidas as leis de segregação racial que ainda imperavam, desde então esta mudança social parece ainda não ter sido assimilada pelas estruturas policiais, continuando por efectuar, na prática, a indispensável mudança de mentalidades nos diferentes escalões de comando, algo perfeitamente exequível se tivermos em conta a experiência de “democratização” das forças de segurança nacionais após a queda do Estado Novo.

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