Embora as
negociações israelo-palestinianas se mantenham num impasse – situação habitual
que há muito deixou de espantar quem quer que seja – a Palestina tem vindo a
obter algumas pequenas vitórias noutros “tabuleiros”. Depois de nos finais de
2012 ter visto reconhecido o estatuto de observador pela ONU e de em Outubro
último a Suécia ter sido o primeiro estado da UE a reconhecer a Palestina como
estado independente, verifica-se agora uma tendência para ver vários
parlamentos europeus manifestarem-se no mesmo sentido.
Depois do
Reino Unido, Irlanda e Espanha, foi agora (2 de Dezembro) a vez do parlamento
francês aprovar uma moção recomendando o mesmo procedimento ao governo de
Manuel Valls. Quando a estratégia israelita de persistente bloqueio negocial e
a persistência na política de construção de novos colonatos começam a ser
sistematicamente criticadas pela diplomacia internacional, poderão não estar
abertas novas perspectivas para a região mas são cada vez mais evidentes os erros
e as limitações da solução dois “povos-dois estados”, tão querida dos EUA e
demais indefectíveis apoiantes de Israel.
A iniciativa
sueca, à revelia da estratégia definida pela UE, teve o condão de reactivar o
debate, em especiala pós a notícia que também o «Parlamento
francês aprova moção para reconhecimento da Palestina»;
mesmo que este possa não resultar numa alteração da estratégia europeia está a
tornar-se evidente que o “status quo”
de que Israel tem beneficiado desde o despoletar da crise israelo-árabe começa
a ser contestada e que factos concretos como o sistemático desrespeito de
várias resoluções da ONU e a injustificável política de ocupação de territórios
começam a ser referidos na imprensa e a merecer outras reacções que não a dum
silêncio comprometido.
É claro que
muitas (e fundadas) serão as dúvidas sobre a viabilidade dum estado
palestiniano dirigido por uma estrutura tão heterogénea e tão flagrantemente
inoperacional como a Autoridade Palestiniana, mas manda a verdade que se diga
que boa parte desses defeitos resultarão das limitações que o Ocidente lhe tem
imposto a pretexto do seu passado terrorista –
como se do lado israelita nunca tivessem ocorrido atentados, nem as origens do
Tsahal (as forças armadas judaicas) não remontassem a uma organização
terrorista como a Aganah, criada para lutar contra a ocupação inglesa –, entre as quais se conta o facto anacrónico dos territórios
palestinianos dependerem do vizinho estado de Israel para a cobrança de
impostos…
Esta e outras imposições,
na sua maioria profundamente limitadoras da soberania e humilhantes para os dirigentes
palestinianos, têm contribuído para minar aquela autoridade aos olhos dos
próprios palestinianos. Se a isto somarmos o facto de Israel continuar a ocupar
a maioria dos territórios onde se localizam os poucos aquíferos da região e a
erguer muros que impedem a circulação de pessoas e bens, estaremos a descrever
o quadro da vida quotidiana dum território onde a potência ocupante condescende
num simulacro de funcionamento dum estado fantoche. Os territórios
palestinianos, transformados na prática em bantustões (territórios reservados
pelo governo racista sul-africano à população negra, durante o regime do "apartheid", de acordo com sua etnia), dificilmente poderão almejar mais que uma
existência no limiar da sobrevivência e enquanto esta servir os interesses dos
ocupantes.
Submetido num
simulacro de autonomia desenhada a contento do ocupante, o povo palestiniano
tem ainda de enfrentar as limitações resultantes da sua dependência da ajuda
internacional (distribuída à Autoridade Palestiniana a troco da sua
subordinação aos interesses judaicos) agora agravada com a notícia de que «Israel aprova lei que marginaliza minorias».
Ao consagrar Israel como o Estado Nacional do Povo
Judeu, Netanyahu deu um passo no sentido agradar à extrema-direita mas,
paradoxalmente, também contribuiu para refutar a tradicional afirmação de que
Israel é a única democracia do Médio Oriente.
É certo que
esta deriva ultra-ortodoxa do primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu, contestada pela UE, os EUA e a Autoridade
Palestiniana e apontada como mais um obstáculo ao processo de paz,
já lhe custou o fim da coligação que dirigia mas nada garante que as eleições
que se seguirão dêem origem a um governo diferente ou que os acomodados líderes
palestinianos encontrem a motivação para capitalizarem esta situação a favor do
seu povo.
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