sábado, 6 de dezembro de 2014

O RECONHECIMENTO DA PALESTINA

Embora as negociações israelo-palestinianas se mantenham num impasse – situação habitual que há muito deixou de espantar quem quer que seja – a Palestina tem vindo a obter algumas pequenas vitórias noutros “tabuleiros”. Depois de nos finais de 2012 ter visto reconhecido o estatuto de observador pela ONU e de em Outubro último a Suécia ter sido o primeiro estado da UE a reconhecer a Palestina como estado independente, verifica-se agora uma tendência para ver vários parlamentos europeus manifestarem-se no mesmo sentido.

Depois do Reino Unido, Irlanda e Espanha, foi agora (2 de Dezembro) a vez do parlamento francês aprovar uma moção recomendando o mesmo procedimento ao governo de Manuel Valls. Quando a estratégia israelita de persistente bloqueio negocial e a persistência na política de construção de novos colonatos começam a ser sistematicamente criticadas pela diplomacia internacional, poderão não estar abertas novas perspectivas para a região mas são cada vez mais evidentes os erros e as limitações da solução dois “povos-dois estados”, tão querida dos EUA e demais indefectíveis apoiantes de Israel.

A iniciativa sueca, à revelia da estratégia definida pela UE, teve o condão de reactivar o debate, em especiala pós a notícia que também o «Parlamento francês aprova moção para reconhecimento da Palestina»; mesmo que este possa não resultar numa alteração da estratégia europeia está a tornar-se evidente que o “status quo” de que Israel tem beneficiado desde o despoletar da crise israelo-árabe começa a ser contestada e que factos concretos como o sistemático desrespeito de várias resoluções da ONU e a injustificável política de ocupação de territórios começam a ser referidos na imprensa e a merecer outras reacções que não a dum silêncio comprometido.

É claro que muitas (e fundadas) serão as dúvidas sobre a viabilidade dum estado palestiniano dirigido por uma estrutura tão heterogénea e tão flagrantemente inoperacional como a Autoridade Palestiniana, mas manda a verdade que se diga que boa parte desses defeitos resultarão das limitações que o Ocidente lhe tem imposto a pretexto do seu passado terrorista – como se do lado israelita nunca tivessem ocorrido atentados, nem as origens do Tsahal (as forças armadas judaicas) não remontassem a uma organização terrorista como a Aganah, criada para lutar contra a ocupação inglesa –, entre as quais se conta o facto anacrónico dos territórios palestinianos dependerem do vizinho estado de Israel para a cobrança de impostos…

Esta e outras imposições, na sua maioria profundamente limitadoras da soberania e humilhantes para os dirigentes palestinianos, têm contribuído para minar aquela autoridade aos olhos dos próprios palestinianos. Se a isto somarmos o facto de Israel continuar a ocupar a maioria dos territórios onde se localizam os poucos aquíferos da região e a erguer muros que impedem a circulação de pessoas e bens, estaremos a descrever o quadro da vida quotidiana dum território onde a potência ocupante condescende num simulacro de funcionamento dum estado fantoche. Os territórios palestinianos, transformados na prática em bantustões (territórios reservados pelo governo racista sul-africano à população negra, durante o regime do "apartheid", de acordo com sua etnia), dificilmente poderão almejar mais que uma existência no limiar da sobrevivência e enquanto esta servir os interesses dos ocupantes.


Submetido num simulacro de autonomia desenhada a contento do ocupante, o povo palestiniano tem ainda de enfrentar as limitações resultantes da sua dependência da ajuda internacional (distribuída à Autoridade Palestiniana a troco da sua subordinação aos interesses judaicos) agora agravada com a notícia de que «Israel aprova lei que marginaliza minorias». Ao consagrar Israel como o Estado Nacional do Povo Judeu, Netanyahu deu um passo no sentido agradar à extrema-direita mas, paradoxalmente, também contribuiu para refutar a tradicional afirmação de que Israel é a única democracia do Médio Oriente.

É certo que esta deriva ultra-ortodoxa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, contestada pela UE, os EUA e a Autoridade Palestiniana e apontada como mais um obstáculo ao processo de paz, já lhe custou o fim da coligação que dirigia mas nada garante que as eleições que se seguirão dêem origem a um governo diferente ou que os acomodados líderes palestinianos encontrem a motivação para capitalizarem esta situação a favor do seu povo.

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