terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

INJECÇÕES LETAIS


Nos últimos tempos têm surgido regularmente notícias sobre ataques de grupos radicais islâmicos contra técnicos de saúde envolvidos em processos de vacinação. A BBC noticiou no dia 10 que três médicos estrangeiros foram mortos no nordeste da Nigéria (território onde tem estado activo o grupo Boko Haram, que defende a instalação dum estado islâmico no norte do país e ao qual foram atribuídas mais de 600 assassinatos em 2012), dois dias após uma outra onde refere a morte de 9 voluntárias, na mesma região, e duma terceira notícia onde refere o sentimento de insegurança no Paquistão, país onde se terá registado um balanço de 19 mortos de operacionais no combate à poliomielite desde Julho passado.


O recrudescimento da perseguição às equipas de vacinação coincide com notícias que referem o adiamento da declaração da erradicação total da poliomielite que deveria ter ocorrido no final de 2012, por permanecerem focos em três países – Afeganistão, Paquistão e Nigéria – onde por coincidência, ou não, operam movimentos radicais islâmicos.

Sem querer minorar o empenho e a importância da acção da UNICEF, de ONG’s, como o Rotary International ou a Fundação Gates e de muitos governos (países muçulmanos incluídos), sempre recordo que aquelas reacções (disparatadas e inexplicáveis na acepção ocidental) deverão ser inseridas numa perspectiva mais adequada e que, infelizmente, as notícias não costuma incluir. É sabido que nas regiões em causa impera um modo de organização social com profundas raízes tribais onde a aquiescência dos anciãos é um passo indispensável para o sucesso de qualquer tipo de interacção e dela dependem, de igual modo, os voluntários das ONG’s e os radicais islâmicos; assim, é bem possível que o insucesso ocidental – e o associado cortejo de mortes – se devam mais a uma inobservância destas regras que a um qualquer sentimento anti-ocidental das populações, apesar de episódios como o do uso pela CIA duma pretensa campanha de vacinação para cobertura duma operação de localização de Bin Laden nada ajudar na construção dum clima de confiança.

A gravidade dum eventual fracasso na luta pela erradicação da poliomielite, uma doença altamente incapacitante cujo retrocesso dos resultados actuais será uma possibilidade a ter sempre em conta enquanto existirem núcleos a partir dos quais a propagação do vírus se possa reactivar, é hoje comparável aos resultados do diálogo prometido pela iniciativa Aliança das Civilizações, promovida pela ONU, que após um arranque mais ou menos prometedor salda-se hoje por resultados ainda pouco consistentes, tanto mais que o que continua a fazer manchetes na imprensa ocidental são os confrontos e a desconfiança, não os diálogos.

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