quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

FRANQUELIMSTEIN


Bem tentou o chefe do Governo desvalorizar o processo de substituição de meia dúzia de Secretários de Estado quando afirmou que «Mexidas no Governo “não têm significado político particular”» e talvez até o tivesse conseguido se os nomeados não reparos de maior. Porém, quando a lista integra um antigo alto responsável pela gestão do grupo SLN (a “holding” ex-proprietária do BPN), compreende-se perfeitamente as razões que levaram Marcelo Rebelo de Sousa a afirmar que «Passos não devia ter escolhido quem levanta o “fantasma do BPN”».


Comentário perfeitamente entendível num período em que, internamente, ainda não foram esquecidos o recurso a financiamentos públicos para o resgate de bancos como o BCP, o BPI e o BANIF, a recente condenação do ex-homem forte do BCP, Jardim Gonçalves, por crimes de manipulação de mercado e de falsificação de documentos e o envolvimento do presidente do BES, Ricardo Salgado, num pouco claro processo de perdão fiscal, quando externamente ganhou foros de destaque o escândalo que envolve o banco italiano (por acaso o mais antigo do mundo em actividade) Banca Monte dei Paschi di Siena, factos que – a par doutros que ainda aguardam decisões judiciais, como sejam o do BPN, personificado em Oliveira e Costa, e do BPP, dirigido por João Rendeiro, o envolvimento em práticas de ética duvidosa de banqueiros como João Tomé (BANIF), José Maria Ricciardi (BESI) e Amílcar Pires (BES) – e que levaram, há dias, Nicolau Santos a questionar-se se «Os nossos banqueiros são de confiança?».

A nomeação de Franquelim Alves – um ex-administrador do grupo SLN que declarou perante a comissão parlamentar de inquérito ao BPN que conhecia a situação daquele banco – só pode se entendida como um anúncio de que o «Governo reabilita SLN», tanto mais que, segundo o EXPRESSO, o próprio Passos Coelho terá afirmado que «Franquelim Alves é uma "boa escolha"».
A questão, de tão grave que é, nem se prende tanto com a omissão ou não no seu currículo da passagem pela SLN/BPN (facto que a confirmar-se revelará até a importância subconsciente atribuída), mas principalmente pelo reacender duma polémica perfeitamente evitável, quando o próprio «Ministro da Economia elogia Franquelim Alves por ajudar a “desmascarar fraude do BPN”» citando uma carta de denúncia deste ao Banco de Portugal que, segundo aquela notícia do PUBLICO, foi afinal escrita dor Abdul Vakil, o sucessor de Oliveira e Costa na administração do banco.

Tudo considerado, não restará a menor dúvida que a nomeação tem um profundo sentido político e que, a atestar pela afirmação do Primeiro-Ministro de que aquele gestor “agiu sempre de forma correcta”, este esperará dele o mesmo zelo no seio da equipa que dirige: um silêncio cúmplice a tudo o que o rodeie!

Aliás, cumplicidades é o que parece não faltar no seio daquele grupo, pois desde os primeiros sinais de desentendimento entre os dois partidos que integram a coligação que esse parece ser o único cimento que continua a segurá-lo… ou será outro, que de tão negro até torna apetecível arrostar com mais este Franquelimstein?

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