sábado, 22 de dezembro de 2012

DESCOLAGEM ABORTADA


Por incrível que possa parecer e contrariando algumas previsões, o Solstício de Inverno de 2012 aconteceu e nem o Mundo acabou nem a TAP foi vendida.

Contrariando as teses mais catastrofistas, não se conhece data fixa para a implosão (ou que quer que seja que ocorra) do nosso planeta, nem a privatização de activos públicos (em especial dos mais estratégicos e rentáveis) constitui uma qualquer solução miraculosa para os problemas nacionais. Isso mesmo foi especialmente referido em múltiplas intervenções pelos partidos da oposição e em diversos órgãos de comunicação, deixando cada vez mais claro o muito de nebuloso que rodeia a urgência na venda.

O próprio argumento invocado à última da hora para o adiamento da operação – ausência de garantias de capacidade financeira do promitente-comprador para assegurar a recapitalização da TAP –, agrava em vez de dissipar as suspeitas, pois significa que todo o processo terá sido conduzido para que este se concretizasse como um “negócio entre amigos” no lugar duma bem estruturada e avaliada decisão estratégica.


Enterradas ou não as perspectivas do “raider” Efromovich (o ECONÓMICO assegura que «Efromovich dá negócio da TAP como “morto”» enquanto o EXPRESSO garante que «Efromovich diz que não fecha a porta a nova proposta pela TAP»), com a reafirmação de que o «Governo mantém intenção de privatizar a TAP» embora admitindo que um «Novo processo de privatização da TAP terá modelo diferente» não deixarão de existir fortíssimas razões para continuar a afirmar que o “negócio” será de reduzida rentabilidade e profundamente lesivo dos interesses do país.

Além de se manterem válidas a maioria das objecções à venda – das quais se destacam: o ridículo do preço, a falácia do empolamento do endividamento enquanto se escamoteia na avaliação o valor dos activos, a ocultação da importância da TAP nos resultados globais do sector exportador que é o turismo – o desenrolar de todo o processo desaconselha qualquer optimismo do tipo do manifestado por Marques Mendes quando afirma que «Isto sim é que é transparência», recomendando mesmo um acréscimo de atenção ao próximo passo: a venda da ANA.

No conjunto a TAP e a ANA representam duas importantes peças para um governo que queira implementar uma efectiva política de soberania económica, já de si gravemente ferida com as anteriores privatizações de empresas estratégicas como a GALP e a EDP (no sector das energias) e a PT (no sector das comunicações), e é por isso que a opinião pública se deve manter especialmente informada e activa.

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