quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

LOGROS


Muito se tem escrito nos últimos dias, na imprensa e na blogoesfera, a propósito dum personagem que a coberto do cargo de coordenador dum Observatório Económico e Social das Nações Unidas para a Europa do Sul apareceu na televisão, na rádio e na imprensa defendendo a ideia que «Portugal deve renegociar já parte da dívida», tanto mais que parte dela resultou da obrigatoriedade da comparticipação do Estado português nos programas europeus de coesão económica.

Desmascarado dias depois, levou um dos responsáveis pela sua divulgação – Nicolau Santos, director-adjunto do EXPRESSO –, a difundir um pedido formal de desculpas em «O Expresso e Artur Baptista da Silva», enquanto as opiniões se dividiam entre a crítica, a chacota ou até o aplauso.

Entre as que até esta data li encontrei críticas ao facilitismo próprio do jornalismo que actualmente se pratica, ao oportunismo do falso especialista, uma ou outra referência ao maior ou menor desacerto do discurso do burlão, mas nenhuma referência a um facto bem mais prosaico e merecedor de atenção. Seria que um cidadão anónimo – por exemplo o Sr. Artur B. Silva – que proferisse aquelas afirmações mereceria o mesmo tipo de atenção e de divulgação?


É que muitos são (e alguns com currículos confirmáveis) os que, de forma mais ou menos isolada, dizem sensivelmente o mesmo, sem receberem a atenção que prontamente foi dada a um pretenso coordenador dum observatório da ONU, o que me leva a concluir que continuamos a atribuir demasiado valor ao que as pessoas afirmam ser, em detrimento da qualidade do que elas pensam e pior, quando no caso vertente ganhou relevo não o debate em torno das ideias defendidas por um cidadão mas antes o sensacionalismo da crítica fácil a quem lhe deu a oportunidade das tornar públicas.

Em resumo, o logro em que caiu Nicolau Santos (quiçá reflexo de habitualmente convidar para o seu programa televisivo opinadores diversos dos tradicionais) traduz-se num mero reflexo duma sociedade onde mais vale parecer que ser… e onde existe sempre espaço para quem oportunisticamente se coloque em “bicos dos pés”.

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