sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O NOVO IRAQUE


Ainda não tinham arrefecido as notícias sobre a saída do contingente americano do Iraque, acontecimento marcado com a pompa e circunstância próprias dos impérios triunfantes, e já as agências noticiosas começavam a divulgar informações sobre a crescente tensão entre xiitas e sunitas, visível no topo da hierarquia política iraquiana.


A crise, personificada na disputa entre o presidente Nouri al-Maliki (xiita) e o vice-presidente Tariq al-Hashemi (sunita), conhece o seu ponto mais visível com a notícia de que o «Vice-presidente iraquiano foi alvo de um mandato de detenção». A reacção de al-Hashemi, que acusado de apoio e financiamento a actos terroristas refutou as acusações e anunciou que apenas admite ser julgado no território no semiautónomo Curdistão onde se refugiou. Em resposta o «Governo iraquiano exige aos líderes da região curda que entregam vice-presidente sunita», reacção que prenuncia mais que uma mera luta política pelo poder e augura ao martirizado povo iraquiano (segundo a ONG Iraq Body Count o número de mortos civis durante a ocupação foi superior a 100.000) uma nova vaga de violência.

Como se não bastasse a ancestral rivalidade religiosa entre sunitas e xiitas, a desastrosa opção norte-americana de invadir o país, a crise política síria, país de que o Iraque depende para assegurar as suas necessidades alimentares, e o recrudescimento da tensão internacional com o vizinho Irão (país muçulmano de maioria xiita), a população iraquiana enfrenta a crescente hipótese duma guerra civil declarada.

É que além dos problemas já referidos, os EUA abandonaram o Iraque deixando por resolver outras questões, como a reivindicação curda sobre o Curdistão, uma administração pública incipiente e corrupta, a ausência de regulação da exploração petrolífera (a principal fonte de receita iraquiana) e uma grave crise social, bem patente no facto de um quarto dos cerca de 30 milhões de habitantes viver numa pobreza extrema, na condição feminina se ter degradado após a ocupação e nos quase dois milhões de refugiados que esta provocou, tudo razões para criticar o cinismo subjacente quando o «Vice-presidente dos EUA alerta líderes iraquianos para o risco das divisões sectárias».

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