segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A ENTRONIZAÇÃO DA TRAFULHICE


Concluída mais uma cimeira europeia que dizer das decisões anunciadas, senão que campeia a mais primária das trafulhices. Enquanto as “cabeças coroadas” da UE continuam a revelar-se diariamente as “cabeças de vento” que na realidade são, quando saltitam de declaração em declaração e de solução em solução, sendo que cada uma delas é invariavelmente apresentada como a definitiva e nenhuma explicação é adiantada sobre o fracasso da anterior?


Digo, e repito, trafulhices! Pois que outro nome pode ser dado quando se ouve Angela Merkel justificar a recusa da opção pela emissão de “eurobonds”, enquanto mecanismo de reforço da solidariedade obrigatória entre os membros da UE, com o argumento de que tal implicava alterações aos tratados europeus, para agora a ouvirmos (em parceria com Sarkozy) propor uma alteração aos mesmos tratados para neles incluir regras orçamentais mais restritivas.

Como se não bastasse a aleivosia de recusar uma panaceia sob tão débeis argumentos, ainda logrou que a sua comprovadamente ineficaz e contraprodutiva opção (bem se tem visto o que está a acontecer na Grécia com aplicação de sucessivas medidas de austeridade) fosse aprovada e aclamada pelo conjunto dos restantes chefes de governo, com uma única excepção. A oposição do primeiro-ministro britânico, David Cameron, não altera em nada a situação pois aquela deve-se exclusivamente a um factor que nada tem a ver com a concordância com a alteração proposta; Cameron apenas se opôs para assegurar que nada nem ninguém belisque as prerrogativas da muito querida “City” britânica e dos interesses financeiros que a sustentam.

Tão trafulha quanto os parceiros continentais, Cameron arrisca-se a ficar recordado como alguém que tomou a decisão correcta – rejeitar a imposição de mecanismos autoritários de controlo das políticas nacionais – pela mais errada das razões – a da protecção dos sacrossantos interesses das elites financeiras –, para mais quando se sabe que a “City” é a mais desregulada das três grandes praças financeiras, que foram recentemente publicadas as conclusões dum relatório sobre a falência em 2008 do Royal Bank of Scotland (adquirido pelo governo por 45 mil milhões de libras, correspondendo a um preço de 0,5 libras por acção que actualmente valem cerca de 0,21 libras) onde se confirma a responsabilidade da antiga administração, das entidades reguladoras e do governo (ao tempo liderado pelo trabalhista Gordon Brown) e que cresce a tensão política interna em torno da decisão, com os trabalhista e os liberais-democratas (parceiros governativos dos conservadores) a não pouparem nas críticas.

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