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[1] Resultado de um trabalho desenvolvido pelo engenheiro Pompeu dos Santos, investigador do LNEC, ontem noticiado pela TSF e que aponta a localização no Pinhal Novo como a melhor alternativa para o futuro aeroporto.
Particularmente mediática, pelo menos entre a imprensa ocidental, foi a detenção no último fim-de-semana do mais conhecido líder da oposição, o ex-campeão mundial de xadrez Gary Kasparov, a par com outras figuras da oposição.
Mais popular na Rússia pela sua actividade enquanto jogador de xadrez que pela sua actividade política, Kasparov é apontado como possível candidato presidencial da coligação «A OUTRA RÚSSIA» que junta a sua Frente Civil Unida ao Partido Nacional Bolchevique, de Eduard Limonov, e ao Partido Republicano da Rússia, de Vladimir Ryzhkov, o que o poderá ter colocado na primeira linha dos opositores a Putin.
Num país onde o leque de forças políticas se tem revelado particularmente fluído e do qual a informação que nos chega é invariavelmente enviesada pelo ponto de vista dos partidários de Putin ou pelos seus críticos (as vozes independentes são praticamente inexistentes) e a situação interna é algo quase tão difuso como o foi ao tempo da União Soviética, torna-se particularmente difícil avaliar a correcta dimensão da informação que nos vai chegando.
Certo, para já, é que a par com o favoritismo do Partido Rússia Unida, onde pontifica a figura de Putin, os EUA e a UE já manifestaram as suas dúvidas quanto ao modo como se prepara o acto eleitoral do próximo fim-de-semana e a presença da equipa de observadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) parece comprometida, com responsáveis da organização e do governo russo a trocarem acusações mútuas e Putin a vir a público declarar que o que o ocidente pretende é minar a legitimidade do acto eleitoral.
Este tipo de situação, ao invés de servir os opositores de Putin poderá constituir um ponto de partida muito favorável ao actual presidente russo, tanto mais que em matéria de legitimidade eleitoral o ocidente não pode pretender-se o papel de exemplo impoluto. Veja-se os EUA – o autoproclamado bastião da democracia e da liberdade – que tem revelado enormes fragilidades democráticas, ou já foi esquecida a forma como ocorreu em 2000 a eleição de George W Bush[1] para o seu primeiro mandato? E que dizer do acordo que se diz existir entre os partidos nacionais do PS e do PSD para rever a lei eleitoral autárquica?[2] Como classificar a persistente recusa na aceitação dos votos brancos como votos validamente expressos?
Seguramente que os países ocidentais prestariam melhor serviço aos partidários russos de um sistema mais aberto, caso investissem mais na criação de modelos idóneos e de dignidade no interior dos seus próprios sistemas eleitorais e se essa mesma experiência fosse depois utilizada no sentido de melhorar aqueles sistemas, abdicando de uma estratégia de confrontação (ainda que meramente retórica) em benefício de uma prática pelo exemplo. Mas isso, todos nós sabemos que é bem mais difícil...
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[1] Na corrida entre o democrata Al Gore e republicano George W Bush, em face de uma sucessão de procedimentos legais interpostos pelas duas candidaturas e um interminável processo de contagem de votos no estado da Florida (onde por acaso, ou talvez não, o governador era irmão deste último) o Tribunal Supremo decidiu nomear o candidato republicano independentemente do resultado da contagem dos votos.
[2] Ver, por exemplo esta notícia do DIÁRIO DE NOTÍCIAS.
Quando é mundialmente reconhecida importância de que se reveste o acesso às fontes de água potável e sabendo-se que o território do Médio Oriente é uma das zonas mais áridas do planeta, não é de estranhar que para um estado, como o israelita, que a par com uma agressiva política de imigração apostou no desenvolvimento de uma indústria agro-comercial que é utilizadora intensiva de água, o controlo dessas fontes seja encarada como uma questão vital e de segurança nacional. Evidência desta realidade é a localização da maior parte dos colonatos judaicos em território palestiniano (sempre próximo de reservas aquíferas cuja exploração será ainda mais facilitada com a construção do famigerado muro de protecção) e a ainda hoje controversa ocupação dos Montes Golan sírios que mais que razões de natureza militar visa assegurar o acesso aos rios Jordão e Yarmouk.
4 – Os refugiados
Sessenta anos após a declaração unilateral de independência de Israel e quarenta após a Guerra dos Seis Dias os palestinianos contam, segundo dados referidos pela ONU cerca de 4,5 milhões de refugiados, constituindo hoje o povo que nessa matéria apresenta a pior situação mundial.
Dispersos em cinco grandes zonas – Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Síria e Líbano – os palestinianos pretendem manter viva a possibilidade de retorno aos territórios de onde fugiram em virtude das guerras israelo-árabes ou, mais rigorosamente, donde foram expulsos pelas tropas israelitas. Esta realidade, condenada pelas leis internacionais, tem sido negada pelos governos israelitas, mas para quem queira observar as práticas nos territórios ocupados onde é normal o tsahal[1] destruir as casas dos palestinianos suspeitos de apoiarem as acções armadas, não se torna difícil admitir que a razão estará maioritariamente do lado palestiniano.
Desde a sua formação que uma das preocupações constantes dos poderes israelitas tem sido a de assegurar uma supremacia da população judaica face ao povo que habitava aquele território. Confrontados com a pressão israelita (e com a sua poderosa máquina militar) os milhões de refugiados palestinianos rapidamente se viram convertido em joguetes dos interesses particulares de cada um dos estados árabes vizinhos onde procuraram refúgio, não sendo por isso de estranhar que para eles a questão do “direito de retorno” se tenha convertido em algo muito mais que simbólico e que melhor que ninguém deveriam ser os próprios judeus, cuja história foi fértil em acontecimentos idênticos, a entenderem.
5 – A definição das fronteiras e dos colonatos
Tão antiga e importante quanto as questões anteriores tem sido a definição das fronteiras entre Israel e os estados árabes vizinhos. Os anos que passaram já viram algumas delas resolvidas, como foi o caso das fronteiras com o Egipto e com a Jordânia (objecto de acordos bilaterais em 1979 e 1994, respectivamente), mas outras permanecem em aberto.
Além dos permanentemente sujeitos a alteração, como é o caso das delimitações da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, as fronteiras com o Líbano e a Síria permanecem questões em aberto.
A questão dos colonatos judaicos implantados em território palestiniano tem sido mais uma das eternas disputas entre árabes e judeus. Fruto de uma activa política de atracção de imigrantes não tem deixado de crescer o número de colonatos, facto que além de manter viva a animosidade ainda constitui uma importante fonte de reivindicação de novos territórios. Normalmente constituídos pelas facções judaicas mais radicais, os colonatos há muito perderam o halo mítico e equalitário dos velhos kibutz[2] tendo-se convertido em meras pontas de lança das políticas mais agressivas contra os palestinianos.
É um facto conhecido que hoje pouco mais de 400 mil judeus ocupam cerca de 40% de uma Cisjordânia onde 2,5 milhões de palestinianos foram relegados para os restantes 60%, que por acaso apresentam os solos mais pobres e mais secos. Após a ocupação militar dos Montes Golan, ter-se-ão instalado na região cerca de 20 mil colonos judaicos e que só na Cisjordânia existirão mais de uma centena de colonatos ilegais (sem aprovação das autoridades israelitas, mas que estas nada fazem para eliminar).
Este cenário revela bem as dificuldades que qualquer liderança palestiniana tem em aceitar novas concessões territoriais a Israel, tanto mais que será crescente o número de palestinianos que recusam a solução da existência de dois estado. Seja por pretenderem, como os integristas do Hamas, a instalação de um único estado muçulmano, seja por entenderem que um estado palestiniano com as limitações que lhe pretende impor Israel nunca será um estado viável, as teses dos defensores da formação de um único estado começam a tornar-se cada vez mais visíveis.
E agora...
A avaliar por uma notícia do jornal israelita Haaretz os documentos preparatórios da reunião de Annapolis não contemplam questões sensíveis como o estatuto de Jerusalém, a definição de fronteiras e o “direito de retorno” dos refugiados, que apenas serão alvo de discussão numa fase posterior. Numa palavra – e na sequência daquilo que já nos vem habituando – a administração Bush prepara-se para mais uma manobra de propaganda de resultados muito duvidosos.
Com este breve quadro talvez se torne mais fácil entender porque é que o conflito israelo-árabe continua por resolver. Enquanto o lado palestiniano parece dividido em três grandes grupos - os que apoiam a OLP e a constituição de um estado palestiniano, os que apoiam o Hamas ou outros grupos mais radicais e pretendem o fim do estado de Israel e os que advogam o princípio de um estado dois povos – o lado judaico parecendo mais homogéneo e partidário do princípio de cedência de terra em troca de paz (que esteve na origem do ineficaz Acordo de Oslo e da constituição da Autoridade Palestiniana), nem por isso deixa de também apresentar os seus dissidentes, sendo que estes, fruto do seu extremismo religioso a par com os integristas muçulmanos, parecem constituir mais uma parte do problema que parte da sua solução.
O grupo de estados árabes, vizinhos de Israel, apresenta-se igualmente dividido, oscilando entre posições como a da Arábia Saudita, que manifestou a sua intenção de presença em virtude da decisão favorável da última cimeira árabe[3], e a da Síria que faz depender a sua presença da inclusão da questão dos Montes Golan na agenda da reunião, ciente de que aquela é indispensável à estratégia norte-americana na medida em que por seu intermédio se poderão representar os interesses do Hamas, organização que governa e controla a Faixa de Gaza mas não foi convidada a participar na reunião.
Por tudo isto não será estranho que muita gente veja o futuro do Médio Oriente bastante negro… …mesmo sem querer reduzir o mérito aos muitos que no terreno vão procurando implementar pontes de diálogo entre judeus e palestinianos, arrostando muitas vezes com a incompreensão e as perseguições do seu próprio povo, muito continua por fazer até que se possa falar num verdadeiro processo de paz. Talvez aqueles que vêm defendendo novas abordagens ainda possam vir a dar um decisivo contributo para o problema, mas para tal os judeus terão que abdicar do seu sacrossanto princípio de hegemonia cultural e os palestinianos de aceitar presença daqueles no território.
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[1] Designação pela qual também é conhecido o exército de Israel.
[2] Um kibutz é uma forma de colectividade comunitária israelita, semelhante ao que designamos por cooperativa. Constituíram uma forma de organização do trabalho particularmente importante nos primeiros anos da existência um papel essencial na criação de Israel. Combinando o socialismo e o sionismo no sionismo trabalhista, os kibutz foram uma experiência única israelita, neles foram formados grande número dos seus líderes militares e políticos, até porque exerceram nos primeiros conflitos israelo-árabes a função de verdadeiras bases avançadas, com colonos dispondo de treino militar e armas que combateram os exércitos árabes até à intervenção do tsahal.
[3] Este é um exemplo perfeito dos delicados equilíbrios que a dinastia Al Saud continua a praticar para assegurar a sua permanência na condução dos destinos de uma Arábia Saudita que a par com papel de guarda de dois dos mais importantes lugares religiosos (Meca e Medina) é local de origem de uma das correntes islâmicas mais radicais, o wahabismo, um dos principais países exportadores de petróleo e habitual aliado dos EUA.
Mesmo considerando que Arafat pouco mais conseguiu dos israelitas que o papel de polícia dos palestinianos mais extremistas, os Acordos de Oslo podem bem ser considerados o momento em que se esteve mais perto de alguma forma de acordo entre palestinianos e israelitas, porque as tentativas seguintes foram ainda menos conseguidas que aquela.
Em 2000, e na fase final do seu segundo mandato, Bill Clinton reuniu em Camp David Ehud Barak e Yasser Arafat para nova ronda de conversações que, talvez fruto das respectivas conjunturas internas, não teve qualquer resultado prático; idêntico destino teve a proposta apresentada em 2002 pela Arábia Saudita (que uma cimeira árabe retomaria no ano em curso), segundo a qual os países árabes se comprometiam a reconhecer o estado de Israel caso este aceitasse regressar às fronteiras de 1967, reconhecesse a criação de um estado Palestiniano na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e aceitasse a implementação de uma “solução justa” para o problema dos refugiados.
Em 2003, com provável origem na necessidade sentida pela administração americana de amenizar os efeitos da auto proclamada “Guerra contra o Terror” junto das populações árabes, os EUA, a UE, a Rússia e a ONU lançaram um plano que ficou conhecido como o Roteiro para a Paz que previa a constituição de dois estados (um israelita e outro palestiniano) na região e definia o ano de 2005 como data para a sua concretização. Minado por insanáveis contradições, quer entre os membros do quarteto proponente quer entre israelitas e palestinianos, foi mais uma das iniciativas fracassadas.
A este curto historial de iniciativas políticas, mais ou menos bem intencionadas ou mais ou menos “armadilhadas” por forma a assegurar a predominância israelita e americana numa região que o petróleo tornou estratégica, podem ainda acrescentar-se algumas iniciativas mais ou menos privadas, como aquela que foi promovida em finais de 2003 por Yossi Beilin (um dos mentores israelitas dos Acordos de Oslo) e Abed Raboo (ex-ministro palestiniano da informação), que ficou conhecida como o Acordo de Genebra e que previa uma estratégia inversa à do Roteiro para a Paz (construção de um acordo para a consolidação da confiança e da segurança) e outra proposta por Ami Ayalon (ex-membro do Shin Bet, o serviço de segurança interna) e Sari Nusseibeh (antigo representante da OLP em Jerusalém); em comum os dois grupos propunham um acordo baseado na cedência palestiniana do “direito de retorno” em troca da constituição de um estado palestiniano na Cisjordânia.
2 – O estatuto de Jerusalém
Enquanto cidade reclamada pelas três principais religiões monoteístas, Jerusalém ocupa uma posição central no conflito israelo-árabe, constituindo o seu estatuto de capital um ponto de honra para os dois povos.
Sujeita a sucessivas mudanças de mãos ao longo de séculos de história, o lado oriental de Jerusalém foi militarmente ocupado por Israel durante a guerra de 1967 e rapidamente os sucessivos governos israelitas se asseguraram de que os palestinianos não pudessem voltar a ocupar esse espaço. Mesmo em flagrante violação das inúmeras resoluções que a ONU foi aprovando sobre a cidade e sem o reconhecimento internacional, os israelitas asseguram hoje uma posse efectiva dessa parte do território palestiniano, bem como das cercanias da cidade. Em termos práticos os quase 250.000 palestinianos que ainda a habitam constituem uma pequena fracção da sua população inicial, obrigada a fugir, ou mais prosaicamente expulsa, aquando da destruição das suas casas e, mesmo beneficiando de melhores condições que os que vivem na Cisjordânia, consideram-se alvo de discriminação e objecto de regulares perseguições pelos israelitas.
Apesar do cuidado posto durante a fase de ocupação na preservação dos principais lugares religiosos, nem por isso os governos de Israel têm deixado de regularmente recordar a muçulmanos e cristãos que são eles que governa uma cidade que agora apresenta no seu interior partes do famigerado muro de protecção que por iniciativa israelita está a ser erguido entre os dois povos.
(continua)
É nesta linha que se pode incluir a entrevista que o EXPRESSO realizou ao veterano Jagdish Bhagwatti[1] quando este, a propósito da pergunta se a crise do “subprime” já acabou, afirma: «Não, de maneira nenhuma. Já alterou muitas realidades na economia. Há quem tenha de vender casas por um quinto do seu valor, mas há os restantes que compram essas casas beneficiando bastante a sua situação patrimonial. Temos de fazer contas a essas duas realidades. À dos que perdem e à dos que ganham. É verdade que os receios de uma recessão podem agravar o clima económico, de forma talvez exagerada. Os investidores retraem-se e os consumidores também. Mas hoje nos EUA há mais pessoas a comprar casas porque os preços caíram. Tudo é dinâmico. Por isso, acredito que as hipóteses sobre uma recessão nos EUA são 50/50», contrariando abertamente as “teses” dos especialistas que nos últimos tempos têm tentado escamotear a dura realidade de uma economia que se julgava acima de todas as outras e de todos os problemas.
Mesmo que se procure inserir as declarações mais optimistas entre o grupo dos que defendem a imperiosa necessidade de salvaguardar a confiança dos mercados (como se os mercados fossem uma entidade asséptica e sem a mínima ligação com a economia real) é inegável que essas vozes mais optimistas estão a confrontar-se inevitavelmente com o cenário que analistas como os do LEAP – Laboratoire Européen d’Anticipation Politique já anunciavam em finais do ano passado[2].
Ainda haverá dúvidas quanto à natureza da crise que os EUA atravessam?
Desde que em finais de Agosto escrevi o post «CRISE? QUAL CRISE...» que não têm parado de crescer os sinais de que a crise apenas terá começado, pelo que me parece perfeitamente lógico reafirmar o que então disse e preparar tempos ainda mais difíceis, mesmo que essa não seja uma posição politicamente correcta, porque prefiro engrossar as fileiras dos “velhos do Restelo” a poder ser apontado como mais um dos (novos ou velhos) que levianamente esperam que tudo corra pelo melhor ou que o mercado se encarregue de tudo equilibrar.
Mas como nem tudo é negativo e é durante os períodos de maiores dificuldades que costumam surgir alguns grandes avanços teóricos, parece-me de saudar iniciativas como a há dias apresentada por uma figura de topo de um ministério indiano, que propôs uma reforma do mercado do petróleo mediante a eliminação da negociação de contratos a prazo sobre aquela mercadoria, como forma de eliminar a especulação que está a provocar a subida do respectivo preço[3].
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[1] Professor de economia, de origem indiana, formado em Cambridge e com um PhD pelo Massachusetts Institute of Technology, é actualmente professor de economia na Universidade de Columbia; o seu mais recente título académico é um doutoramento “honoris causa” atribuído pela Universidade Nova de Lisboa. Além do seu trabalho enquanto docente foi conselheiro de organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio, o GATT – General Agreemente on Tariffs and Trade e é autor de diversos livros onde defende os princípios e benefícios do comércio livre e da globalização.
[2] Entre outros ver este artigo datado de Dezembro de 2006.
[3] Ver a notícia do COURRIER INTERNATIONAL e já agora o que escrevi aqui sobre a mistificação do preço do petróleo.
Enquanto o anónimo industrial Enzo Rossi se propõe esbanjar mensalmente uns milhares de euros, felizmente, continua a haver quem se preocupe com a estabilidade da vida dos trabalhadores portugueses (mesmo que os seus rendimentos representem 67% da média da zona Euro) e apele à necessidade de contenção destes no sentido de assegurar os mesmos, ou maiores, níveis de lucros aos donos das empresas; a isto chama-se realismo, até porque tudo será feito em nome dos indispensáveis equilíbrios macro-económicos.
Haverá para qualquer governante ou industrial nacional maior desígnio que o do equilíbrio das balanças?
Se este grupo diariamente se sacrifica pelo bem comum como é que não se deverá exigir idêntico esforço daqueles que trabalham?
Ajuizadamente actua o governo de José Sócrates e as confederações patronais quando, previdentemente, pretendem fixar os aumentos salariais para 2008 em 2,1% (a famigerada inflação esperada) evitando aproximar-se dos perdulários 3,4% (inflação mais ganhos de produtividade) estimados por Daniel Amaral; assim ficarão assegurados objectivos como o do equilíbrio da balança comercial (preços mais concorrenciais por via da redução dos custos de produção), a contenção da inflação e até, milagre, uma redução do endividamento.
No limite estaremos (os trabalhadores) quase todos mortos de fome, mas conseguirão (os políticos e os industriais) resolver os importantes desequilíbrios da nossa economia!
No terreno as populações palestinianas continuam a depender do auxílio internacional que vai chegando por entre as apertadas restrições e as constantes limitações impostas pelas medidas de segurança israelitas, que mais não pretendem que perpetuar a situação de dependência palestiniana enquanto se asseguram da máxima liberdade para prosseguirem a política de apartheid que há décadas impõem a uma maioria palestiniana cada vez mais empobrecida e de tudo desprovida.
«No fim todos teremos de viver nesta terra como iguais. Quando esse tempo chegar descobriremos que temos mais em comum do que pensamos. Até lá não aceitaremos pequenos nadas feitos de palavras como “estado” e “soberania” quando sabemos que no interior do nosso “estado” não temos acesso à nossa água ou à liberdade de movimentos sem a autorização israelita. Não serei livre enquanto os colonatos e os muros dividirem e roubarem a minha terra e cercarem a minha capital, Jerusalém.
Sofremos demasiado, durante demasiado tempo. Não aceitaremos um apartheid disfarçado de paz. Não nos contentaremos com menos que a nossa liberdade.»[4]
Pelo menos a esperança não estará perdida!
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[1] Com a declaração unilateral do Estado de Israel a Cisjordânia foi colocada sob a tutela administrativa da Jordânia enquanto a Faixa de Gaza ficou sob administração egípcia, factos que terão desde logo ajudado ao “afastamento” entre as populações dos dois territórios.
[2] Quando, esquecendo uma das reivindicações mais caras ao povo palestiniano – a do direito ao regresso dos refugiados provocados pelas guerras israelo-árabes -, aderiu à negociação com Israel e à política de «paz por terra» que culminou no Acordo de Paz de Oslo de 1993 e na criação da Autoridade Palestiniana como entidade gestora dos territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
[3] Mohammed Khatib é membro do Conselho Municipal de Bil’in e um dos membros mais influentes do Comité Popular Contra o Muro de Bil’in.
[4] Versão integral do texto, em inglês, aqui.
Porque mais importante que os ganhos que alguns sectores da economia poderão obter da construção do NAL é avaliar os custos reais associados a um projecto que por ausência de adequado planeamento e real necessidade mais não servirá que para aumentar os ganhos do usual grupo de especuladores que há muito já iniciaram a “corrida aos melhores lugares”.
Por isso, desde a primeira hora que defendo a indispensabilidade do estudo da opção zero como ponto de partida para a decisão de construção do NAL, que caso se justifique terá ainda que ser comparado com uma terceira opção já referida, mas ainda não estudada, a chamada Portela+1.
Só depois de todas estas opções avaliadas é que os decisores políticos poderão afirmar estar na posse da informação mínima para a tomada de decisão. Sem estarem cumpridas estas etapas a decisão, qualquer que ela seja, não deixará de ser ditada por outros interesses que obviamente não serão os da maioria da população portuguesa.
Quando parecia estar a dar frutos a estratégia norte-americana de futura divisão do poder entre o actual ditador militar Pervez Musharraf e a ex-primeiro-ministro Benazir Bhutto, eis que pretendendo manter o país sujeito à sua vontade, sob permanente pressão dos movimentos islâmicos radicais e receando uma decisão desfavorável do Supremo Tribunal que o impedisse de manter a presidência do país, Musharraf terá optado pelo mal menor e pela solução que melhor conhece – o uso da força e a declaração do estado de emergência.
Tal como já aconteceu este ano, quando Iftikhar Mohammad Chaudhry, o presidente do Supremo Tribunal, foi afastado das suas funções[2], os advogados e juízes voltam a manifestar-se como a principal fonte de oposição ao poder militar enquanto se aguarda que a recém chegada líder do PPP (Partido do Povo Paquistanês) Benazir Bhutto decida se também pretende engrossar a lista dos contestatários ou manter-se fiel aos acordos firmados com a secretaria de estado norte-americana e aguardar pelo desenrolar dos acontecimentos.
As incógnitas são múltiplas, porque se pouca gente duvida da verdadeira razão para a aplicação do estado de emergência[3] e a limitação das poucas liberdades vigentes no Paquistão, começa a crescer a convicção de que os principais beneficiados estarão a ser os grupos radicais islâmicos contra os quais Musharraf diz ter agido. Enquanto americanos e ingleses tentam desesperadamente não “perder” o grande aliado na «guerra contra o terror» inventada pelos neocons, no terreno o confronto entre Musharraf e Benazir Bhutto parece estar a ganhar novos contornos.
Afastados parecem os tempos em que tudo se resumiria a uma briga de cão e gato (ou gata) apadrinhada pela inefável secretária de estado norte-americano, Condoleezza Rice, como então os retratou Jeff Danziger nas páginas do New York Times...
porque embora se mantenha a indefinição quanto à posição de Benazir Bhutto e do seu PPP – dividida que está entre manter os acordos com os americanos que lhe darão acesso directo e rápido ao poder e integrar o movimento que nas ruas vai contestando a política de Musharraf – esta veio recentemente reafirmar os termos para o acordo, quando ameaçou apelar à mobilização dos partidários do PPP caso Musharraf não aceite restaurar a constituição, não anuncie a data das próximas eleições e não abandone o cargo militar de chefe do estado-maior.
Enquanto se sucedem as notícias sobre prisões de opositores (com as prisões domiciliárias de Chaudhry e de Benazir a revelarem-se respectivamente a mais representativa e as mais mediática), o correspondente local da BBC[4] assegura que aqueles mesmos termos terão sido reafirmados telefonicamente por George W Bush e que poderão até já ter produzido algum efeito uma vez que o general anunciou posteriormente a realização de eleições em 15 de Fevereiro do próximo ano. Porém, na opinião dos seus opositores esta não passará de mais um logro uma vez que têm sido múltiplos os avanços e recuos dos militares quanto à realização de eleições e o inevitável regresso aos quartéis.
Como que a dar razão a esta leitura, em resposta às suas declarações Benazir Bhutto foi colocada em situação de prisão domiciliária e impedida de participar em qualquer manifestação; este facto não parece preocupar uma parte da oposição na medida em que para alguns dos seus líderes a actuação de Benazir Bhutto caracteriza-se por uma manifesta indecisão quanto a integrar o movimento de oposição aos militares.
Um dos críticos assumidos de Benazir é Imran Khan líder do PTI (Pakistan Tehreek-e-Insaf ou Movimento para a Justiça, partido que ajudou a fundar em 1997) e ex-capitão da equipa paquistanesa de cricket[5] que venceu a Taça do Mundo em 1992, que se opõe frontalmente a que Musharraf continue a exercer qualquer tipo de cargo no Paquistão; o seu principal problema é que continua a ser mais conhecido pelos feitos desportivos e pelo papel de playboy que pela sua actuação política e não dispõe da capacidade de mobilização popular equivalente à de Benazir.
A estratégia ambivalente desta deverá começar a ser cada vez mais encarada como uma parte do problema, tanto mais que paralelamente se torna cada vez mais evidente a incapacidade dos militares paquistaneses lidarem com os extremistas islâmicos, num território que além de vizinho partilha fortes ligações tribais com o cada vez mais problemático Afeganistão.
Aliás, o fenómeno da ambivalência parece der uma nota dominante na política paquistanesa. Começando na já referida actuação de Benazir Bhutto durante a actual crise, passando pela de Musharraf que justifica a instauração do estado de emergência como meio de combate aos extremistas islâmicos mas deste resulta a suspensão das liberdades cívicas, a prisão de juízes, advogados, políticos oposicionistas e estudantes enquanto liberta extremistas islâmicos ao abrigo de um acordo de troca de prisioneiros e acabando nas conhecidas ligações entre o ISI (serviços secretos paquistaneses) e a Al-Qaeda[6], tudo reforça a imagem de reduzida credibilidade de um país que desde a sua fundação há sessenta anos nunca conheceu uma verdadeira estabilidade de regime, oscilando entre períodos de alguma democraticidade com outros de ditadura militar.
Talvez por tudo isto a preocupação dos países ocidentais com o desenvolvimento da actual crise seja perfeitamente justificada, tanto mais que o Paquistão, a par com a Índia e Israel, é um dos países da zona que dispõe de tecnologia nuclear (do seu interior terá partido o know how[7] que facilitou à Coreia do Norte a entrada no clube dos países com armamento nuclear) e a instabilidade reinante pode bem constituir uma oportunidade de ouro para grupos extremistas conseguirem obter material e equipamento nuclear. Esta hipótese estará entre as principais preocupações da administração Bush e é apresentada como principal justificação para o apoio que mantém ao general Musharraf, mesmo quando este se tem revelado totalmente ineficaz na estratégia de combate à Al-Qaeda.
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[1] Veja-se o que a propósito desta hipótese e da crise da Mesquita Vermelha escrevi aqui.
[2] No início deste ano o presidente do Supremo Tribunal paquistanês foi afastado do cargo, decisão a que se seguiu um período de manifestações e confrontações entre autoridades e advogados até à reinstalação de Chaudhry no cargo.
[3] O estado de emergência traduz-se entre outras medidas na suspensão das salvaguardas constitucionais sobre liberdades e segurança, aumenta os poderes policiais de detenção e privação de assistência jurídica, suspende o funcionamento dos meios de informação.
[4] Veja a notícia aqui.
[5] Desporto considerado por muitos como parecido com o basebol americano; as suas origens remontam à Idade Média tendo-se tornado num desporto bastante admirado no Reino Unido, na Índia e no Paquistão. É disputado por duas equipas com onze jogadores, num campo sem dimensões fixas, com cada uma das equipas a tentar, à vez, atingir o alvo do adversário (três varetas fincadas no solo, chamadas wicket); os jogadores das duas equipas tomam posições de ataque ou defesa, de acordo com a posse da bola, e agem com o objectivo de atacar ou defender o wicket.
[6] Esta organização, que sempre tem mantido fortes laços com a CIA, foi por esta utilizada para fomentar o movimento taliban na oposição à presença soviética no Afeganistão e, como recentemente se pode comprovar no incidente da Mesquita Vermelha, com ele continua a manter relações particularmente estreitas.
[7] É habitualmente atribuído ao paquistanês Abdul Qadeer Khan, designado pai da bomba atómica paquistanesa, a proliferação dessa tecnologia por outros países, entre os quais a Coreia do Norte.
Este gráfico que traduz a evolução do preço médio anual “spot”[1] de um cabaz de países produtores deve ser comparado com a evolução das cotações do petróleo nos mercados a prazo (por exemplo o NYSE):
no qual se verificam os tais preços “históricos” que são objecto de notícia nos meios de comunicação, mas de modo algum reflectem o preço a que o barril é realmente transaccionado.
Para o confirmar vejam os dois gráficos sobrepostos[2]:
Se isto parecer pouco claro, note-se que sendo inegável a tendência de subida do preço do crude, particularmente visível após a invasão americana do Iraque, não é menos verdade que o preço a que efectivamente as gasolineiras adquirem a matéria prima para refinação e transformação se encontra longe dos valores normalmente referidos nas notícias, porque estas respeitam a preços especulativos praticados num mercado a prazo que pouco ou nada têm a ver com os efectivamente praticados no mercado à vista.
Clarificada a questão da interpretação das notícias com que diariamente somos bombardeados, vejamos o que será de esperar no futuro próximo.
Se para os mais informados, ou mais pessimistas, não restarão muitas dúvidas de que o próximo ano trará novo aumento generalizado dos preços, tanto mais que os últimos números adiantados para a inflação em 2007 andam entre os 2,3% e os 2,4% quando em média os salários no início do ano sofreram uma actualização inferior a 2%, resta perceber qual o peso representado pelos combustíveis.
Sendo facilmente entendível a importância que tem para os orçamentos das famílias a variação do preço dos combustíveis, agora que a globalização dos mercados determinou um aumento exponencial do volume de transporte das mercadorias cuja produção foi deslocalizada para regiões de mão-de-obra mais barata ou dotadas de melhores condições naturais, é preciso conhecer melhor como é formado aquele preço. Contrariando a tendência dominante entre nós de atribuir o aumento do preço dos combustíveis à componente fiscal, Eugénio Rosa chamou oportunamente a atenção num recente artigo sobre a explicação para o crescimento dos lucros da GALP[4], demonstrando que não é apenas o agravamento fiscal o responsável pelos aumentos mas principalmente o aumento do lucro daquela empresa oligopolista[5]. Na comparação que realizou para os quinze países da UE ressaltam algumas conclusões interessantes:
nomeadamente as variações registadas nos preços sem impostos e nas cargas fiscais que revelam que Portugal integra o grupo de países que apresentam preço antes de impostos, preço de venda e imposto superiores à média, que a Grécia (economia em muito comparável à nossa) é o país que apresenta o segundo preço sem imposto mais elevado mas graças ao menor peso da carga fiscal é o que apresenta o preço de venda mais baixo do conjunto observado e que a Inglaterra beneficiando de um dos preços antes de impostos mais reduzido (para algo deverá servir a sua posição de ex-colonizador no Médio Oriente e o seu pronto alinhamento com a política norte-americana) é o que aplica uma maior carga fiscal.
Vistos há muitos anos como meio fácil de receita fiscal, os combustíveis têm sofrido o efeito da subida do preço do crude (petróleo bruto à saída dos poços de extracção), mas principalmente o aumento da carga fiscal e do ganho dos intermediários em todo o processo de refinação (transformação do crude nos múltiplos derivados dele obtidos) e de distribuição, não sendo por isso de estranhar o seu importante contributo para o aumento generalizado dos preços o que reforça a ideia transmitida pelo articulista do DIÁRIO ECONÓMICO de que em 2008 tudo será mais caro!
Mas o que ninguém deve esquecer é que os aumentos que o próximo ano nos trará não serão consequência principal do aumento do petróleo, tanto mais que o seu preço medido em euros está inferior ao registado em 2006 e não é previsível que o dólar (moeda em que ainda é cotado o crude) venha a valorizar-se significativamente, mas resultado da incapacidade de sucessivos governos para prosseguirem políticas que não subordinem o bem estar das populações à exclusiva necessidade de contenção do deficit nem pactuem com o oportunismo daqueles que tentam esconder o acréscimo dos seus lucros por detrás da cortina do preço do petróleo.
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[1] Designa-se por preço “spot” ou “á vista” aquele que é efectivamente pago no acto de transacção de bens e serviços por oposição ao preço “a prazo”, ou seja aquele que alguém pode vir a pagar.
[2] Esta sobreposição é um “trabalho caseiro” pelo que os resultados não podem ser entendidos como rigorosos, mas é suficiente para visualizar a ideia que pretendo transmitir.
[3] É este fenómeno que se designa por volatilidade e traduz, nem mais nem menos, que a incerteza que se pensa existir sobre o produto em causa; no caso concreto do petróleo são normalmente aceites como factores influentes sobre a volatilidade os possíveis cenários de conflito nas zonas de produção, as tempestades (por causa das plataformas “offshore”) e as flutuações do dólar (moeda em que tradicionalmente se denominam os contratos).
[4] Ver o artigo Porque os lucros da GALP aumentaram 71% no 1º semestre de 2007?.
[5] Empresa que pratica, conjuntamente com outra ou outras do mesmo sector de actividade, uma forma de domínio e concertação sobre o mercado, seja através da criação de barreiras à entrada de novos concorrentes seja na concertação dos preços de venda dos seus produtos. Esta prática de concertação de preços, a forma mais simples de oligopólio, também se designa por cartel; formas mais avançadas de oligopólio são o trust - quando as empresas abdicam da sua autonomia para constituírem uma única organização empresarial - e o holding - quando criam uma nova entidade para gerir o conjunto das participações sociais.