quarta-feira, 16 de novembro de 2016

AINDA A ECONOMIA DE CASINO

Foi o artigo de Nicolau Santos, «A caminho de uma nova e mais violenta crise», que me levou à leitura do paper de Carlos Tavares «A CRISE FINANCEIRA: APRENDEMOS AS LIÇÕES?», onde o presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários deixa a sua análise sobre a crise financeira despoletada em 2007/2008.

Não sendo um tema novo neste espaço (deixo à curiosidade e paciência individual a pesquisa dos inúmeros posts escritos desde 2008 sobre o assunto) o regresso ao tema justifica-se, que mais não fosse, pelo facto de partilhar as preocupações de Carlos Tavares e muito particularmente a formulação que delas faz Nicolau Santos quando põe a ênfase numa possível repetição do fenómeno. Nas palavras deste, a análise de Carlos Tavares resume perfeitamente o que temos vivido quando diz: «Os bancos deviam ser mais pequenos? Pois tornaram-se maiores. Os Estados, famílias e empresas deviam diminuir o endividamento? Pois estão mais endividados. Os mercados deviam ser mais regulados? Pois não se melhorou nada. Os produtos financeiros deviam ser mais transparentes? Pois estão de regresso os produtos cujo risco ninguém consegue medir. Bancos, auditores e agências de rating deviam mudar de comportamentos? Pois voltaram ao “business as usual”», ou talvez pior quando constatamos que não só continuam a transaccionar-se enormes volumes de produtos derivados (os tais de elevada complexidade e difícil avaliação do risco intrínseco) como estas transacções são preferencialmente executadas fora dos mercados regulados e completamente invisíveis nos balanços dos bancos.

Por isso, se a análise das origens da crise feita por Carlos Tavares parece minimamente aceitável, já a solução proposta para evitar nova crise – o reforço da coordenação entre supervisores, bancos centrais e agentes políticos – afigura-se resposta pífia e tão piedosa quanto as tonitruantes declarações proferidas por esses mesmos agentes no auge da crise de 2007/2008, que, digam o que disserem os panegiristas do costume, ainda hoje continuamos a atravessar e cuja solução permanece dependente de decisores tíbios ou enfeudados aos interesses da economia de casino elevada pelos banksters de todo o mundo à categoria de deus ex machina da existência humana.


Embora não estranhe, é lamentável que Carlos Tavares, conhecedor como mostra dos meandros e dos sofismas dos mercados de capitais, reduza à qualidade profissional e ética dos agentes de mercado a via de solução que não pode deixar de passar pela reformulação e endurecimento das regras de funcionamento dos mercados (veja-se a mero título de exemplo o completo absurdo que é o de permitir a negociação ilimitada de contratos de produtos derivados sobre bens e serviços de produção limitada) e a recuperação da velha regra de separação entre bancos comerciais e bancos de investimento (impedindo aos primeiros o acesso ilimitado aos mercados de capitais e aos segundos a recepção de depósitos do cidadão comum)... mas isso, depois da eleição dum reconhecido especulador como Donald Trump para a presidência dos EUA, parece cada vez mais distante.

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