terça-feira, 4 de outubro de 2016

O BANCO QUE NÃO PREOCUPAVA

Não terá havido quem não se recordasse dumas declarações de Wolfgang Schauble, o ministro alemão das finanças, quando em finais de Junho repetiu o que dissera no início de Fevereiro, quando afirmou «“Não estou preocupado com o Deutsche Bank”», para logo acrescentar que estava era preocupado com Portugal... depois de se saber que «Deutsche Bank e Santander falham testes de ‘stress’ norte-americanos».e quando se avolumavam as notícias sobre “problemas” na banca europeia. E não eram apenas «Um enorme "Monte dei" problemas» (numa alusão à delicada situação do centenário banco italiano, Monte dei Paschi de Siena), como se confirmaria quando as autoridades norte-americanas anunciaram que fora o «Deutsche Bank condenado a multa recorde de 14 mil milhões de dólares», pela sua participação na crise do subprime, em 2008.

Esta, aliás, não é uma situação inédita para o banco alemão (nem para a generalidade dos grandes bancos, os tais que se dizem “too big to fail”...), pois já em 2015 fora o «Deutsche Bank multado em 2,5 mil milhões por manipular taxas Libor»; nada de novo, pois, salvo a desproporção entre a multa anunciada e a que foi recentemente acordada com o Goldman Sachs, apenas 550 milhões de dólares... Esta crença no favorecimento dos grandes bancos já levou até que o «Goldman Sachs estima que Deutsche Bank pague coima até 7,2 mil milhões de euros», cerca de metade do “acordado” com o Bank of America, que pagou 16 mil milhões de dólares.


Ainda esta nova contrariedade não tinha sido conhecida e já no final do primeiro semestre se soube que os «Lucros do Deutsche Bank caem 98% para 20 milhões de euros», depois de um ano antes ter registado prejuízos recorde de €6,2 mil milhões, facto que obviamente reforçou uma imagem onde o «Deutsche Bank assusta com "alertas já indisfarçáveis"». Tão indisfarçáveis que na própria Alemanha surgiram notícias que, ao contrário do Sr. Schauble, estaria o «SPD preocupado com o Deutsche Bank» (o SPD é o parceiro de governo da Srª. Merkel) e que haveria «Deputados alemães relutantes em pôr dinheiro dos contribuintes para salvar o Deutsche Bank», declarações que terão levado ao anúncio oficial que a «Alemanha não vai resgatar Deutsche Bank»!

Tonitruante, é certo, mas quase seguramente com o mesmo valor doutras declarações do mesmo jaez, tanto mais que se a situação do Deutsche Bank é delicada e, após «Derrota histórica de Merkel em Berlim», a posição política da Srª Merkel está cada vez mais fragilizada, não é menos verdade que a economia alemã não absorverá com facilidade um “buraco” daquela dimensão e pior... cada vez se faz sentir mais o efeito das taxas negativas sobre as caixas económicas alemãs (sparkasse) que são instituições clássicas de poupança.

Não nos espantemos se depois dos contribuintes da Europa do Sul terem sido chamados a resgatar a banca francesa e alemã, venhamos a ser todos convocados para salvar a Alemanha... aquela orgulhosa Alemanha que aconselhou os gregos a venderem as suas ilhas para pagarem as dívidas!

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