sexta-feira, 9 de outubro de 2015

OS IMIGRANTES E A HIPOCRISIA

Qualquer pessoa minimamente informada não podia deixar de ter ficado preocupada quando esta semana leu que, em intervenções no Parlamento Europeu, «Merkele Hollande pedem mais Europa», tanto mais que houve até quem levasse a situação a um outro nível ao dizer que «Hollande e Merkel apelam à união para evitar "o fim da Europa"»!


A história recente e a urgência do apelo suscitaria a ideia duma agudização da denominada crise das dívidas soberanas, que quase levou a UE à implosão, mas uma leitura doutras fontes de informação terá prontamente tranquilizado os mais preocupados; afinal «Hollande e Merkel pedem mais Europa para lidar com a crise dos refugiados»…

Qual Grécia ou PIIGS! Como bem sabemos pela forma pouco solidária e particularmente autoritária como esta situação tem sido tratada, o que realmente assusta os líderes europeus e pode até evoluir para a implosão duma UE que se tem destacado pelo cuidado e a qualidade com que “acarinha” os cidadãos dos seus estados economicamente mais frágeis é a avalanche de imigrantes (menos de 500 mil por ano, que não chegam a representar 0,1% duma população europeia envelhecida e em decréscimo) que estão a chegar às suas fronteiras. A situação é tão dramaticamente preocupante para os líderes europeus que estes já falam na necessidade da revisão de regras obsoletas (como exemplo foi apontado o acordo europeu que regulamenta os pedidos de asilo – Convenção de Dublin –e que deverá ser tão obsoleta quanto as regras orçamentais que continuam a querer impor aos PIIGS) que nem sequer condenaram a violação grosseira do direito internacional quando num dos seus estados-membros a «Polícia usa gás lacrimogéneo e canhões de água para afastar refugiados na Hungria», enquanto se anuncia que a «UE paga a Erdogan para tentar travar os “milhões de refugiados” da Síria».

Diga-se em abono da verdade que se a Chanceler alemã privilegiou a questão da obsolescência das regras, o Presidente francês abordou a questão da instabilidade no Médio Oriente (Síria e Iraque) e no Norte de África (Líbia) e o papel que neles tem tido uma UE sem política de defesa comum. No fundo, e sem nunca o referirem especificamente, estariam a referir-se à questão dos “valores europeus”, mas porque nesta matéria (como no agudizar das crises que levaram ao aumento da instabilidade nas regiões fronteiras à UE) têm enormes responsabilidades ficaram pelo superficial deixando milhões de cidadãos europeus, magrebinos e árabes dependentes da hipocrisia reinante nos areópagos mundiais e entregues à sua sorte.

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