sexta-feira, 18 de setembro de 2015

ESCLARECIMENTOS...

Começa a ser insuportável ouvir o arrazoado em que os políticos do arco do poder (e os jornalistas que os comentam e deles fazem notícia) estão a transformar a narrativa da “vinda da troika” e toda a campanha eleitoral.


Insistindo naquela tónica, Passos Coelho, António Costa e respectivas entourages mais não fazem que ocupar tempo de antena, criar ruído e distrair os eleitores das questões essenciais. A título de exemplo vejam-se as notícias publicadas pelo NEGÓCIOS, onde, seguindo aquela onde divulgam que «Passos Coelho prometeu a Sócrates apoio à vinda da troika em 2011», se destacam declarações de políticos onde «Portas cita Soares sobre quem chamou troika e diz que PS está "em negação"» ou a afirmação que «Passos não apoiou vinda da troika, apenas deu o "apoio da oposição para evitar o precipício"», quando o que realmente deveria estar a preocupá-los e ser transformado em objecto de análises e comentários eram as conclusões dum estudo publicado pelo BCE segundo o qual «Portugal foi dos países onde o impacto na dívida pública das ajudas à banca foi maior».

Só os muito distraídos (ou os partidários ferrenhos) é que ainda não perceberam (ou não querem sequer tentar perceber) que todos os partidos do arco do poder (PSD, CDS e PS) têm idênticas responsabilidades na matéria e que nenhum sairá incólume da acareação que os eleitores já fizeram e a História contará.

As próprias análises que apresentam sobre o panorama nacional carecem de veracidade factual e são invariavelmente distorcidas em função dos objectivos de quem as veicula. A situação nacional é invariavelmente apresentada como responsabilidade do passado – no caso presente a mistificação da coligação PAF atinge o despudor de escamotear a degradação das condições de vida que eles próprios determinaram com as suas opções governativas (quando «Passos defende que estratégia do Governo deu frutos e pede estabilidade» ou quando «Portas pede para não confiarem em promessas que "já deram para o torto"»), enquanto o PS embarca no facilitismo da promessa quando «António Costa promete aos empresários mais estabilidade e menos confrontação» – e a dura realidade do País e dos Cidadãos parece algo longínquo ou mesmo inexistente.

Uns e outros escolheram a solução mais simples para voltar a ensaiar a usual estratégia da mistificação eleitoral. Enquanto trocam acusações mútuas vão deixando correr o tempo e silenciando a informação que realmente deveriam estar a disponibilizar aos eleitores. Como tencionam enfrentar os problemas que criaram (por acção ou omissão) nas últimas décadas? Como recuperar uma economia enfeudada a mecanismos rentistas, secularmente dirigida por empresários subsídio-dependentes e descapitalizados?

Quando a conjuntura global pouco ou nada promete de construtivo (veja-se a ânsia com que classe empresarial alemã se prepara apara acolher os refugidos do Médio Oriente e transformá-los em mais um argumento para a redução de salários e regalias sociais, bem expressa nas recentes declarações do presidente do Bundesbank, Jens Weidman, de que a «Alemanha necessita de refugiados para manter o nível de bem-estar»), como pensam fazer evoluir uma economia terciarizada, sem indústrias de base nem tecnológicas, com uma agricultura sem unidades produtivas bem dimensionadas e um sector pesqueiro destruído pela corrida aos subsídios da UE?

Como se tudo isto não constituísse já problemas suficientes – e suficientemente espinhosos – estamos ainda perante a perspectiva do voltar a entregar aos artífices do descalabro (os tais do arco do poder) a condução dos destinos dum País que apresenta cada vez menos condições naturais (envelhecimento da população e emigração dos mais jovens) para ultrapassar os desafios que se lhe colocam.

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