sábado, 5 de setembro de 2015

A RAIZ DO PECADO

Têm abundado, nos últimos dias, as notícias e as imagens associadas aos dramas de milhares de refugiados que procuram alcançar a Europa. A avalanche de pessoas é tal que o problema está realmente a transformar-se num drama, quer para os directamente envolvidos quer para os governos europeus.

A última gota foram as imagens da criança afogada que deu à costa na Grécia; este jovem curdo, de nacionalidade iraquiana, foi apenas mais uma dos milhares de vidas perdidas num jogo inominável.


São naturais e compreensíveis os anseios daqueles que fugindo da guerra, da fome ou apenas da miséria generalizada, procuram em paragens que julgam mais auspícias um futuro melhor, como o são os receios expressos pelos cidadãos europeus, insensibilizados por uma austeridade irracional que ameaça prolongar-se ad nauseam.

Receios que as elites dirigentes não conseguem (e talvez nem queiram) refutar tal é a sua responsabilidade, tanto na situação que os seus nacionais vivem como naquelas que originaram este fluxo migratório, pois importa não esquecer que a raiz dos problemas que levaram milhares a procurarem outras paragens não é recente e radica nas guerras fomentadas, ou até impostas, nas suas regiões de origem (Afeganistão, Iraque e Síria), na quase completa ausência de estruturas económicas que sustentem as populações (quer as de origem climática, como a seca no Sahel, quer as originadas por governos cleptocratas) e no recrudescimento das perseguições baseadas em fanatismos religiosos.

Todas estas situações poderiam ter sido evitadas com a aplicação das adequadas políticas de desenvolvimento local, através da utilização de recursos em investimentos produtivos, em lugar da sua canalização para actividades meramente especulativas, e o fomento de boas práticas governativas, em detrimento do tradicional apoio a oligarquias permissivas e facilitadoras dos interesses ocidentais.
Agora, com vastas regiões empobrecidas por guerras e outras calamidades, restará à Europa definir um plano para lidar com uma situação para a qual muito contribuiu (com especial destaque para o apoio inglês às invasões norte-americanas do Afeganistão e do Iraque), plano que deveria passar pela organização dos fluxos nos países de origem (processo especialmente indicado para minimizar os fundados receios do seu aproveitamento pelos grupos jihadistas e contrariar a propaganda dos movimentos xenófobos europeus), pela criação de canais e rotas oficiais para os movimentos migratórios e envolvendo os governos dos países de origem e dos países limítrofes, quer no processo de regulação quer na integração dos refugiados.

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