sexta-feira, 19 de setembro de 2014

CTTesouro

Na semana passada fomos informados, com a jactância e a presunção habitual, que numa operação mais ou menos secreta para o grande público (através dum IPO na Bolsa de Lisboa) foram os «CTT vendidos a "investidores do melhor que há"».

Depois de em final do ano passado ter começado a seguir o exemplo de Inglaterra e Bélgica, vendendo 70% do capital a 5,52€ por acção, acaba agora de completar o quadro vendendo o restante a 7,25€ por acção. Sem entrar em demais considerandos sobre a valia da alienação duma empresa que mais que prestar um serviço constitui (ou devia constituir) um património inestimável na prossecução do fundamental papel de coesão social, constata-se que o grande negócio se traduziu em “entregar” quase um 1/3 da empresa com um desconto superior a 7% (na véspera as acções dos CTT cotaram a 7,81€) aos tais “investidores do melhor que há”.


Depois de na primeira fase terem sido “premiados” o «Goldman Sachs e Deutsche Bank com 7% dos CTT» ao verem disponível uma valorização superior a 40% (diferença entre os 5,52€ a que compraram e os 7,81€ da cotação, sem falar na generosa distribuição de lucros), foi agora a vez doutros que como a «UBS e Fidelity Management compraram 2% dos CTT na segunda fase de privatização» compraram a desconto.

Quem seguramente não ficar a ganhar são as populações quando começarem a ver encerrar mais estações e a ter que pagar mais pelo serviço postal (a razão fundamental dos CTT), mas a que menos importa à actual administração e aos novos accionistas cujo verdadeiro interesse será o de aproveitar a reputação de credibilidade que, de norte a sul do país, gerações de trabalhadores garantiram para começar a impingir aos pequenos aforradores arriscados produtos financeiros em substituição dos confiáveis certificados de aforro a que estes estavam habituados, ou não fossem eles bancos e fundos de investimento.

E para quem julgue tudo isto natural também não deverá espantar que Sérgio Monteiro – o responsável governativo, com o cargo de secretário de Estado das Comunicações, que deveria ser o principal zelador do interesse geral mas se revela afinal mais preocupado com os negócios que se poderão concretizar a expensas desse interesse – tenha afirmado que o «"Exemplo dos CTT deve inspirar muitos outros grupos empresariais"».

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