terça-feira, 22 de julho de 2014

…REDESENHAR A ZONA EURO

Apresentada que foi, sob a égide do Institute of Public Policy Thomas Jefferson – Correia da Serra, uma primeira proposta estruturada e quantificada como «Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa» e deixado que foi o meu contributo no “post” anterior, importa avançar um passo mais no que entendo ser uma abordagem mais integrada para a reestruturação das dívidas públicas das economias periféricas da Zona Euro.

O alerta que tantas e tantas vezes deixei neste espaço sobre a verdadeira origem da crise das dívidas denominadas em euros (a necessidade de socorro aos sistemas financeiros americano e europeu e não o despesismo, como pretendem os que aproveitaram o ensejo para agravar ainda mais o padrão de distribuição da riqueza entre capital e trabalho) continua a fazer sentido, confirmado até pelo avolumar das vozes de comentadores a secundá-lo, bem como a necessidade de encontrar uma solução comum ao espaço do euro e em especial das economias da sua periferia.

A par com uma inevitável reestruturação – tão indispensável que até Hans Werner Sinn, um dos mais acérrimos defensores das virtualidades das políticas de austeridade, já vai admitindo a necessidade dum perdão da dívida aos países do sul, facto que levou o arguto Viriato Soromenho Marques a escrever que o director do «…maior centro de pesquisa económico germânico, não mudou de doutrina económica. O que se passa é que, ao contrário das criaturas entontecidas que nos governam, Sinn sabe que a realidade tem uma matéria própria, muitas vezes cruel, não é a soma dos nossos desejos. Por isso propõe uma negociação europeia conjunta da dívida dos países do Sul (toda a dívida externa, e não apenas a pública), na qual, e à partida, os credores estrangeiros têm de assumir que vão sofrer perdas importantes» (Viriato Soromenho Marques in «Sinn faz sentido») – será indispensável a adopção doutras medidas complementares que impeçam a repetição dos eventos (crise de liquidez bancária resolvida mediante recurso a fundos públicos obtidos a partir de financiamento bancário) que nos conduziram ao ponto onde nos encontramos, com particular destaque para a imperiosa necessidade de redefinição dos mecanismos de financiamento da Zona Euro.

Entre estes mecanismos destaca-se o modelo seguido pela moeda única que entregou de mão beijada a emissão de moeda (o Euro) a um BCE autónomo e com um mandato de intervenção limitado ao controle da inflação, pelo que urge actuar no âmbito desta zona económica e nos fundamentos da sua moeda, mediante:
         Recuperação do controlo público da emissão de moeda;
         Conversão do BCE em financiador de primeira instância da dívida pública dos Estados-membros;
         Financiamento dos Estados-membros a taxas inferiores às da banca europeia;
a par com outras medidas como a harmonização fiscal e a implementação de efectivas medidas de combate aos paraísos fiscais.


Nada disto constitui novidade e só uma irresponsável cegueira programática ou uma absurda miopia política justifica que a iniciativa possa ser apresentada, sob o argumento da inviolabilidade dos tratados europeus, como impensável; bastará lembrar que a mesma “vontade” política que criou os tratados pode – e deve – alterá-los no sentido de pôr a economia (e em especial a economia financeira) ao serviço dos cidadãos e dum projecto duma Europa para os cidadãos.

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