quarta-feira, 22 de maio de 2013

TEMPUS FUGIT


A fragilidade e a tibieza das elites dirigentes estão a converter-se numa realidade cada vez mais evidente. Como se não bastasse o triste cenário nacional onde até a sempre colaborante central sindical socialista (UGT) já comenta que o «Conselho de Estado foi “mais uma desilusão”», uma rápida leitura sobre os últimos dados económicos (o relatório de 15 de Maio pode ser lido aqui) publicados pelo EUROSTAT desfaz qualquer dúvida sobre a notícia de que o «Eurostat oficializa mais longa recessão de sempre no euro».

Quando se avizinham eleições na Alemanha e se confirma um cenário com a «França em recessão, Alemanha cresce 0,1%», deixa de se estranhar que de Berlim cheguem ecos de que a «Alemanha junta-se ao coro de críticas contra a austeridade das troikas» ou, pior ainda, de ler que até a chanceler «Merkel acusa Barroso e troika de serem os culpados da austeridade» e bem se pode dizer que tudo será expectável nos meses mais próximos quando a dimensão do distanciamento dos políticos face às medidas que louvaram e impuseram será tanto maior quanto se anteciparem resultados eleitorais desfavoráveis.

É que, como a prática o tem confirmado, balelas do tipo “que se lixem as eleições” só são proferidas à distância e nunca profundamente interiorizadas (veja-se o alívio financeiro já previsto para o ano eleitoral de 2015 no DEO apresentado por Vítor Gaspar, o tal ministro que nem sequer é político) por aqueles a quem, para desdita nossa, confiámos funções de governo e que não passam de péssimos aprendizes de manipuladores laboratoriais.


O permanente ziguezaguear ao sabor das circunstâncias e uma quase completa ausência de convicções (que não as dos interesses que os fizeram eleger) têm pautado não só a orientação nacional como a comunitária, enquanto se multiplicam os sinais de desagregação, sejam eles originados nas movimentações populares que aos «Milhares protestam contra políticas de austeridade», nas declarações do presidente do Bundesbank quando assegura que «Medidas do BCE contra a crise são erróneas», nas proclamações pífias do presidente da Comissão Europeia repetindo que é «Urgente acelerar coordenação na UE contra fraude e evasão fiscal», tudo isto perante o avolumar das dúvidas em torno da permanência britânica, apesar da recente notícia que «Empresários britânicos saem em defesa da União Europeia».

Não será pois de estranhar o número crescente de especialistas que vêm a público criticar o modelo adoptado pelos responsáveis da UE para combater uma crise que não pára de alastrar – desde os consagrados Paul Krugman e Joseph Stiglitz (dois laureados com o Prémio Nobel que de modo algum podem ser classificados sob o rótulo de extremistas) até ao mais recente trabalho do “think tank” Bruegel ou a um artigo de Paul De Grauwe defendendo que «Sem mutualização de dívida, Zona Euro caminha para o colapso», todos apontam para a desadequação do fundamentalismo neoliberal que além de já ter mergulhado as economias periféricas da Zona Euro (Grécia, Irlanda, Portugal, Chipre e Malta) num acentuado processo de recessão económica e de crise social e política, de em nada ter contribuído para ultrapassar a situação em Espanha e na Itália antes sim para o já detectado afundamento das economias holandesa, francesa e alemã – enquanto tardam em ser ouvidos os que persistentemente têm pugnado pela necessidade duma completa inversão da estratégia e defendendo a aplicação de políticas orientadas preferentemente para o crescimento e a criação de emprego, a par com uma profunda alteração no modelo do financiamento público que, no seio dum sistema monetário partilhado, não pode continuar exclusivamente dependente dum sistema financeiro especulativo e descapitalizado.

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