terça-feira, 14 de maio de 2013

EXCEPCIONALMENTE...


Há muito que a política nacional deixou de poder contar com o efeito surpresa; tantas têm sido as trapalhadas e as “habilidades” que nada já espantará o cidadão minimamente informado. Se não fosse a gravidade da situação que o país atravessa, o último “flip flap” à retaguarda do líder do CDS nem deveria merecer qualquer referência, pois insere-se na continuidade do género da política espectáculo tão do agrado dos políticos actuais e dos interesses que os sustentam.


Assim é que depois do drama (género de representação de carácter não cómico, que se apresenta compatível com a vida real) de que foi revestida a última comunicação de Passos Coelho e em especial o anúncio da intenção de redução das actuais reformas, se seguiu a encenação da tragédia (forma particular de drama caracterizado pela seriedade e dignidade, envolvendo um conflito com algum poder de instância superior) protagonizada pelo conjunto da oposição a par com o melodrama (que, recorde-se, se caracteriza por ser um tipo de espectáculo onde mediante efeitos fáceis se procura induzir a plateia ao choro ou ao suspense, com um sentimentalismo exagerado) servilmente ensaiado pelo PSD e o silêncio do parceiro de coligação.

O CDS viria daí a dois dias a apresentar o seu espectáculo através do monólogo representado pelo líder, Paulo Portas. Como actor de créditos firmados que é e percorridos que estavam quase todos os géneros teatrais (comédia e farsa à parte, pela manifesta desadequação face à actual situação) restou-lhe o recurso à tragicomédia (subgénero teatral que alterna ou mistura comédia, tragédia, farsa e melodrama), registo onde se revelou tanto mais sofrível quanto, contradito pela notícia de que «Cortes nas reformas confirmados em Bruxelas», assumidos por Passos Coelho e Vítor Gaspar, recorreu a uma desajustada manobra para anunciar que o seu «CDS aceita “excepcionalmente” taxa de sustentabilidade sobre pensões».

Deslizando rapidamente para um registo de comédia (género de espectáculo destinado a fazer rir) e numa desajeitada tentativa de “limpar a face” de Portas têm valido todos os agrumentos e até «Pires de Lima garante que quem cedeu foi a “troika”».

Não bastando já as agitadas águas em que se revolve a nau governativa e agravando um indesejado registo de comédia, até o insuspeito professor «Marcelo diz que "as pessoas já não levam a sério" Passos» e o timorato «Presidente da República convocou o Conselho de Estado para dia 20», com uma ordem de trabalhos pretensamente orientada para o debate do futuro pós “troika”, como se a discussão da realidade actual dele pudesse estar arredada e a crise política que Belém pretende evitar a qualquer custo não estivesse há muito instalada.

Enquanto os responsáveis do CDS se esforçavam a repetir que «Portas aceita TSU sobre pensionistas por falta de alternativas» – o desgastado argumento para justificar o injustificável –, um grupo de cidadãos reunia-se em Lisboa para debater precisamente as alternativas que dizem não existir. Nesta segunda iniciativa do Congresso Democrático das Alternativas (a primeira teve lugar em Outubro do ano passado) além de se reafirmar a ideia da indispensabilidade da renegociação da dívida, apontaram-se vias alternativas para a redução da despesa mediante o corte nas rendas ilegítimas, nos maus investimentos e nos juros da dívida, precisamente os interesses contra os quais o governo PSD/CDS, excepcionalmente, não age.

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