sábado, 19 de maio de 2012

ESTRELAS CADENTES


Desde que foi conhecido que o «Presidente da Grécia convoca partidos para aprovar governo de transição» ou que a «Grécia anuncia governo de transição tecnocrata» e que ficou oficializada a realização de novas «Eleições legislativas marcadas para 17 de Junho», que não têm parado de surgir as mais variadas e disparatadas reacções. 
 
Desde interrogações como a da «Grécia vai mesmo sair do euro?» à quase chantagem das declarações do ministro das finanças alemão dizendo que a «Alemanha rejeita renegociar ajuda à Grécia» ou as de Christine Lagarde de que o «FMI admite “saída ordenada” da Grécia da zona euro», tem-se feito eco de um pouco de tudo mas quase esquecendo que em simultâneo chegava do eixo Paris-Berlim a notícia de que «Merkel e Hollande querem a Grécia na Zona Euro», mesmo quando depois «Berlim sugere referendo ao euro nas eleições gregas»[1].
 
 

Por outras palavras enquanto os “tecnocratas” se desdobram no envio de “mensagens” e “recados” destinados a influenciar (mais correcto seria mesmo falar em chantagear) o eleitorado grego, os “políticos” apresentam-se de forma mais comedida, tão comedida que depois de lermos que o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, «exclui austeridade mais suave na Grécia», com a mesma facilidade que avisa que «a democracia grega deve respeitar as outras 16 da Zona Euro» ou que a «Opção de saída do Euro é pior para a Grécia», que conclusão deveremos extrair da sua proclamação na Assembleia Geral da ONU de que «UE “fará tudo” para a Grécia continuar no euro»? 

Como é que se conjugam tantas e tão dissonantes declarações sobre a complicada situação grega e europeia, quando são evidentes os sinais de fomento do “pânico” financeiro em notícias como a de que «FMI suspende contactos com a Grécia até às eleições» ou que o «BCE deixou de conceder liquidez a quatro bancos gregos até que recapitalizem»? Que a situação é complicada e que o ruído produzido à sua volta raia o ensurdecedor fica bem patenteado na leitura na imprensa nacional que os «Gregos levantaram 1.200 milhões de euros dos bancos em apenas dois dias com receio do futuro», para mais quando foi anunciado que o «Fitch corta ‘rating’ da Grécia devido a “elevado risco” de saída do euro»; a aparente credibilidade das duas notícias fica seriamente comprometida quando recorrendo a outras fontes europeias (o jornal francês LE MONDE) ficamos a saber que afinal os bancos gregos enfrentam levantamentos em massa há dois anos[2], informação que desmistifica completamente o sentido da anormalidade e aconselha a maior prudência na leitura precipitada das parangonas informativas.
  
Idêntico raciocínio se pode aplicar à bombástica afirmação de David Cameron de que o «Reino Unido prepara plano de contingência para a saída da Grécia do euro», como se fosse essa eventualidade e não a complicada situação duma economia britânica de novo em recessão e um sector financeiro demasiadamente exposto à aleatoriedade dos desregulados mercados financeiros que estivesse a conduzir a Velha Albion de regresso aos cenários negros. 

O mesmo se pode dizer relativamente à muito difundida ideia de que a «Grécia empurra Wall Street para quinta sessão de perdas», como se fosse a quase insignificante economia helénica e não os decepcionantes crescimentos da economia norte-americana face ao contínuo crescimento dos seus défices e escândalos como o que colocou a «Banca americana sob pressão após JPMorgan perder dois mil milhões devido a “erros e desleixo”» que estarão afinal a dar visibilidade a disfarçados problemas internos como a situação de falência que atravessa a Califórnia (estado norte-americano que já representou sozinho a 10ª maior economia mundial) ou situações de quase calamidade social noutros estados devastados pela avalanche de falências e pelo desemprego generalizado. 

A constatação prática, proporcionada pelo caso da filial inglesa do JPMorgan, de que quatro anos volvidos sobre a falência do LEHMAN BROTHERS e o despoletar duma crise financeira alimentada fundamentalmente pelas práticas desreguladas dum mercado globalizado, tudo continua a funcionar como se nada se tivesse passado deveria constituir um claro alerta sobre a verdadeira origem (e dimensão) dum problema que por exclusivo interesse das grandes empresas e das grandes fortunas continua a ser imputado à moeda única europeia e aos seus elos mais fracos. No plano exclusivamente europeu chantageiam-se os eleitores gregos quando é cada vez mais claro que se aproxima a grande velocidade o rebentamento de mais uma bolha especulativa, em cujo centro encontraremos a par com a problemática do endividamento (público e privado) a banca e os mercados financeiros.

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