sábado, 12 de maio de 2012

E LA NAVE VA


Afirmar, na semana em que se cumpriu mais um aniversário da UE, que a Europa vive tempos conturbados começa a ser um lugar-comum e, simultaneamente, insuficiente para descrever o que se passa, pois se à esperada vitória eleitoral de François Hollande somarmos a derrota da maioria dos candidatos conservadores britânicos nas últimas eleições municipais (uma das poucas excepções ocorreu em Londres), a ascensão meteórica duma coligação grega de esquerda (SYRIZA) e grande quebra registada pelo próprio partido da chanceler Merkel numa eleição regional na Alemanha, começa a parecer cada vez mais evidente que a maioria dos cidadãos europeus rejeita as políticas ensaiadas no combate à crise e que se revê cada vez menos nos discursos e nas afirmações dogmáticas dos líderes conservadores.

O futuro próximo começará a clarificar a redefinição do eixo Berlim-Paris, mas para já ressalta a clara aposta do lado alemão na reafirmação dos seus mantras e da sua prepotência, pois dificilmente se poderão interpretar os comentários e os “avisos” que têm sido difundidos a propósito da delicada situação política em Atenas.


Quais comandantes de nau destroçada, do alto da sua cada vez menos compreensível jactância, os governantes de Berlim desdobram-se em “recados” e em “ordens” dirigidos aos gregos (e demais europeus), agravando, senão comprometendo definitivamente, as fracas hipóteses de entendimento entre políticos que continuam a não praticar o princípio de sobrelevar o que os une em detrimento do que os divide.

A atestar por esta realidade, os primeiros contactos entre Hollande e Merkel pouco ou nada deverão produzir de concreto, tanto mais que a questão grega coloca Hollande num dilema: ou encabeça de imediato a contestação à política de austeridade apoiada pela Alemanha e inviabiliza a renovação do velho conceito de que a UE deve ser liderada pelo eixo Paris-Berlim, ou opta por uma posição de compromisso, aceitando um acordo franco-alemão que, há maneira tradicional da UE, concilie a reafirmação germânica do predomínio da austeridade com a pretensão francesa de ver privilegiadas as políticas de crescimento, enquanto aguarda que a possível entrada do SPD (partido social democrata) no próximo governo alemão se traduza numa flexibilização da ortodoxia austeritária. 

Mesmo sem esquecer que a opção do novo presidente francês será sempre determinada pelos interesses francófonos, importa realçar que continua a crescer o número dos que contestam (ou pelo menos questionam) a eficácia da opção pela austeridade; destacando-se no plano externo o chefe do governo italiano «Mario Monti propõe “coligação de boas vontades” a favor do crescimento» e o próprio presidente do BCE, Mario «Draghi pede à Europa para pôr o crescimento no centro da agenda», enquanto no plano interno foi esta semana notícia a afirmação de «Mário Soares diz que PS deve romper com a troika»; contra esta corrente pouco mais que Passos Coelho, o famigerado inventor da “austeridade expansionista”, e o seu homólogo espanhol, Mariano Rajoy, insistem que «Vitória de Hollande não muda políticas», mas a verdade é que os resultados dos últimos sufrágios na Europa estão a abalar o coro das harpias europeias do neoliberalismo.

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